5 hábitos alimentares para ser mais sustentável à mesa

Compre local, coma menos carne e mais vegetais e escolha restaurantes que se importam com o meio ambiente

Enquanto os líderes mundiais estão reunidos na COP26, a conferência sobre o clima da Onu que termina nesta sexta-feira (12) em Glasgow, na Escócia, para encontrar soluções para manter o aquecimento global abaixo de 1,5º C até 2030 – limite considerado “seguro” pelos cientistas -, nossas escolhas individuais também podem contribuir para evitarmos a catástrofe climática.

A comida e, sobretudo, a nossa maneira de alimentarmos podem jogar um papel decisivo para reduzirmos o impacto sobre o meio ambiente. Que a carne seja a principal vilã na produção de gases de efeito estufa não é nenhuma novidade, mas isso não significa que precisamos virar vegetarianos, menos ainda veganos, para sermos ambientalmente sustentáveis. Há atitudes menos drásticas que podem fazer a diferença. Veja quais.

Reduza o consumo de carne

No país do churrasco e do poderoso lobby da agropecuária, comer carne diariamente é um hábito para muitos, apesar da recente disparada do preço do ingrediente. Pesquisa do Ibope de 2018, porém, revelou que 14% dos brasileiros já adotam uma dieta livre de proteína animal.

Além disso, quem circula pelas grandes cidades deve ter reparado no franco crescimento de restaurantes vegetarianos, empórios de produtos orgânicos e casas especializadas em alimentação saudável com ingredientes frescos e de produtores locais. Ou seja, há uma tendência de parcela da população mundial para hábitos alimentares mais saudáveis e sustentáveis.

Mas é preciso fazer mais. O World Resource Institute calcula que 25% das emissões de gases de efeito estufa são oriundas da agropecuária e, deste montante, metade são produzidas pela criação do gado, que em muitos casos está atrelada ao desmatamento.

“Especialmente no Brasil, vivemos um exagero carnívoro, vivemos a banalidade da morte animal. Sem contar que um elevado consumo de carne não favorece o bem-estar físico”, afirma a chef Gabriela Carvalho, do Quintana Restaurante, em Curitiba, que fez dos princípios da saúde e sustentabilidade sua filosofia de vida e negócio.

A Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) estima que, a cada minuto, 10 mil animais – entre vacas, porcos e frangos – são abatidos no Brasil para fins alimentares. Para conscientizar a população a reduzir o consumo de carne, a entidade lançou em 2009 a campanha Segunda Sem Carne, já presente em 40 países e apoiada por personalidades do mundo inteiro como o ex-Beatles Paul McCartney.  

Além dos benefícios sobre a saúde – uma dieta à base de vegetais reduz o risco de doenças cardiovasculares e crônicas – e sobre o sofrimento animal, deixar de comer carne um dia na semana tem impacto significativo sobre o planeta. A SVB calcula que são economizados 3.400 litros de água – equivalentes a 26 banhos de 15 minutos – e 14 kg de CO₂ deixam de ser emitidos na atmosfera – o que equivalem a uma viagem de carro de 100 quilômetros.

Não se trata de virar vegetariano do dia para a noite, mas que tal tirar a carne do prato pelo menos uma vez na semana?

Coma mais vegetais, grãos e fruta

A produção de frutas, verduras, legumes, cereais e feijões também utiliza grandes quantidades de recursos naturais. Segundo o Manifesto Sustentarea, elaborado em 2019 por pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, a agricultura ocupa cerca de 19% das terras, utiliza grandes quantidades de água doce, principalmente em irrigação, além de contribuir para poluição de águas e solo pelo uso de fertilizantes e agrotóxicos.

Mesmo assim, o impacto da produção de alimentos de origem vegetal é até cinco vezes menor que o da produção de alimentos de origem animal. Fora os benefícios para a saúde, a chef Gabriela exorta para que as pessoas consumam mais frutas, verduras e fungos e que quando optarem pela carne escolham animais criados com um manejo sustentável, orgânico ou de pequenos produtores – como no caso do porco Moura, a antiga raça suína resgatada há alguns anos no Paraná.

“Comer carne ou peixe deveria ser um momento muito especial, em que honramos o animal”, diz a chef.

Reduza o desperdício

Ter a mesa farta é um hábito cultural dos brasileiros, mas do ponto de vista ambiental tem se revelado insustentável. De acordo com a FAO, cerca de 30% dos alimentos acabam no lixo, quantidade suficiente para alimentar 2 bilhões de pessoas e que gera 3,3 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa por ano.

Para combater o desperdício, evite fazer compras grandes e estocar ingredientes – sobretudo os frescos que têm prazo de validade curto e correm o risco de parar na lixeira -, aproveite as sobras da geladeira, reduza as porções e, se possível, faça compostagem em casa para gerar adubo.

Compre produtos locais

Insumos produzidos perto de você viajam distâncias mais curtas, o que reduz a emissão de gases de efeito estufa e poluentes gerados pelo transporte. Além disso, você estará fomentando a economia local fazendo com que o dinheiro fique na sua comunidade.

“Eu gosto de ir à feira comprar ingredientes de produtores da região, o que inclusive estimula essas pessoas a continuar trabalhando neste setor e ensinar a profissão aos filhos, gerando economia e riqueza para todos”, diz Gabriela.

Produtos importados rodam o mundo por mar, terra e ar antes de chegarem à gôndola do supermercado. Se isso é inevitável para algumas mercadorias, para outras não faz tanto sentido assim.

Ao invés de um queijo francês, experimente um queijo artesanal local – recentemente um queijo do Norte Pioneiro do Paraná recebeu medalha de prata em concurso na França; no lugar de um vinho italiano, dê uma chance para um rótulo brasileiro; e que tal substituir o salmão e o bacalhau, peixes que vêm do exterior, para pescados do nosso litoral?

Escolha bem o restaurante

Ao apostar na fartura, buffets por quilo, churrascarias e restaurantes no sistema rodízio são estabelecimentos que pelo modelo de negócio geram grande desperdício de comida. Prefira restaurantes à la carte, casas que apostam na sustentabilidade, delivery que adotam a logística reversa e buffet por quilo que reaproveitam ao máximo as sobras.

Gabriela explica que, por exemplo, sobras de arroz branco costumam virar bolinhos de arroz, as cascas das frutas são utilizadas para geleias e compotas, e o restante é comido ou levado para casa pela equipe do restaurante. A separação do lixo também é cuidadosa e o que não pode ser reciclado vira compostagem e, em seguida, adubo.

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2 comentários em “5 hábitos alimentares para ser mais sustentável à mesa”

  1. Paulo Roberto de Andrade Mercer

    Muito boa a matéria assinada pelo Andrea Torrente. Mudanças de hábitos para uma alimentação sustentável não é só uma coisa boa para a saúde de todos , mas sim uma atitude honesta e necessária para o futuro da humanidade. Todos devemos refletir sobre isso. #pramercer

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