Técnicos em Radiologia de clínicas de Curitiba seguem sem vacina

Profissionais de imagens lamentam exclusão do plano de vacinação e desvalorização da categoria

“Tô bem revoltada. Desde o começo estamos nos dedicando, nos expondo, dando a cara a tapa, e agora simplesmente somos excluídos do plano de vacinação sem qualquer justificativa?”, questiona Ana. Ela atua como tecnóloga em Radiologia em duas clínicas particulares de Curitiba, meio período em cada. Em uma delas, atende apenas “pacientes Covid”, como chama aqueles que estão contaminados com a doença ou tratando as sequelas.

Os exames de imagem são parte importante do processo de diagnóstico e recuperação da Covid-19. Eles ajudam a compreender o estado do pulmão do paciente e os profissionais da área estão trabalhando a todo vapor desde o início da pandemia. “Atendo, em média, 15 pacientes por dia. A agenda é de 20 em 20 minutos, então só dá tempo de tirar um paciente, higienizar a sala e receber outro”, conta Ana, que teve o nome alterado para preservar sua identidade. Para não adoecer também, ela confia na máscara, nas luvas e no face shield.

“Eu ainda estou ilesa, mas vários colegas já tiveram Covid – inclusive mais de uma vez. A gente não tem escolha. A qualquer momento posso pegar a doença, estou exposta. Não existe home office para quem trabalha na área da Saúde”, fala a tecnóloga. “Chega uma hora que você tem que se conformar, porque não pode passar essa insatisfação para os pacientes que estão precisando de apoio.”

No momento, a maior frustração da profissional tem sido a falta de vacina. “A pior coisa foi a sensação de perder as esperanças. No início, disseram que vacinariam todos os profissionais da Saúde – e eu sempre me considerei profissional da Saúde. Mas os profissionais de clínicas ficaram de fora e nem entendo o porquê da exclusão.”

Paloma, colega de profissão de Ana, diz mais. “Nossa classe já tem enfrentado um apagamento muito grande diante da sociedade. Somos essenciais na Saúde, mas estamos sendo substituídos por empresas terceirizadas que, juntamente com o nosso Conselho, estão precarizando nosso trabalho sem cumprir carga horária e salário pedidos legalmente. Não só palmas. Queremos respeito e visibilidade. Estamos pedindo o mínimo que nos foi tirado.”

Indefinição

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), somente os técnicos em Radiologia registrados em serviço hospitalar foram vacinados em Curitiba. Solicitamos dados ao órgão, mas a assessoria diz que não é possível fazer o levantamento. “Estamos aguardando a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para continuar o plano de vacinação dos profissionais de Saúde que estão fora de serviços hospitalares”, completa. 

Na sexta-feira (5), a vacinação dos autônomos foi suspensa na Capital paranaense. O ministro Ricardo Lewandowski determinou que o Governo Federal divulgue, no prazo de cinco dias, a ordem de preferência entre os grupos prioritários, com base em critérios técnico-científicos. Até lá, a imunização destes profissionais continua suspensa.

Curitiba tem cerca de 900 profissionais na categoria, contabiliza o Conselho Regional de Técnicos em Radiologia do Paraná (CRTR-PR). “Embora muitos hospitais e clínicas não sejam referência no atendimento da Covid, existe o contato com as pessoas e grande possibilidade de contaminação”, defende o diretor-secretário Paulo Victor Iaczinski, mas pontua que priorizar a vacinação dos colegas “foge um pouco da alçada do Conselho”.

O Sindicato dos Técnicos em Radiologia do Paraná (Sinterpar) concorda que todos os profissionais da categoria deveriam ser imunizados, mas só agora está agindo. “Estamos encaminhando ofício para a Secretaria Estadual de Saúde e Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, para que reconheçam esses profissionais como parte do primeiro grupo a ser imunizado”, sinaliza o diretor-presidente Vagner Silva.

Irregularidades

O CRTR-PR também afirma que não pode atuar em questões trabalhistas. “O Conselho é um braço do governo que fiscaliza o exercício ilegal da profissão. Salário, carga horária e terceirizações dizem respeito ao Sindicato”, sintetiza o diretor-secretário.

Já o Sinterpar diz que não recebeu denúncias de irregularidades na carga horária regulamentada, que é de 24 horas semanais. O piso salarial seria “um dos maiores do país”, mas, devido ao falecimento do presidente anterior, o sindicato estaria com dificuldade para registrar negociações desde 2019. “Estamos em processo de homologação junto ao Ministério da Economia, por meio da Secretaria do Trabalho, tendo em vista as mudanças ministeriais feitas no governo atual. Mas cremos que até o fim do mês de fevereiro de 2021 já estaremos com as convenções atualizadas”, afirma Silva.

Sobre a terceirização, o diretor-presidente fala que não concorda, mas não pode criar empecilhos, já que a Reforma Trabalhista tornou a prática legal. “Não podemos atuar diretamente, somente prestando assistência aos trabalhadores para que seus direitos sejam preservados. Lamentamos que estes postos de trabalho sejam perdidos e que estes trabalhadores dispensados dificilmente serão absorvidos pelo mercado de trabalho.”

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2 comentários em “Técnicos em Radiologia de clínicas de Curitiba seguem sem vacina”

  1. Elva Nascimento da Silva

    Mais uma família assolada de nossa categoria profissional, RADIOLOGIA, Meus sentimentos aos familiares ?. E nós aqui em Curitiba profissionais de CLÍNICAS PARTICULARES, realizando exames de paciente com covid ainda NÃO fomos vacinados, sendo que a mesma categoria TÉCNICOS E TECNÓLOGOS EM RADIOLOGIA que trabalham em hospitais estão está semana recebendo já a segunda dose e agradeço por isso. Imagino quando a Maria deve ter lutado por nossa profissão assim como eu e tantos outros da década de 80, 90 para que fossemos reconhecidos e no entanto estamos sem REPRESENTATIVIDADE. Sentimento de frustração e descaso por em nenhum momento divulgarem nosso trabalho, pagamos da mesmo forma nosso Conselho como nossos colegas de hospitais, ENTÃO AQUI FICA NOVAMENTE MINHA PERGUNTA PORQUE NÃO FOMOS INCLUÍDOS NA PRIMEIRA LISTA JUNTO COM OS DEMAIS?????
    ESTE foi meu ultimo post nas redes sóciais, mais um pedido de SOCORRO, pois venho desde o início da campanha solicitando resposta, na qual não recebi nenhuma efetiva até este momento, nem da Secretaria Municipal de saúde,nem do Conselho de técnicos e tecnólogos em Radiologia.

  2. Elva Nascimento da Silva

    Mais uma família assolada de nossa categoria profissional, RADIOLOGIA, Meus sentimentos aos familiares ?. E nós aqui em Curitiba profissionais de CLÍNICAS PARTICULARES, realizando exames de paciente com covid ainda NÃO fomos vacinados, sendo que a mesma categoria TÉCNICOS E TECNÓLOGOS EM RADIOLOGIA que trabalham em hospitais estão está semana recebendo já a segunda dose e agradeço por isso. Imagino quando a Maria deve ter lutado por nossa profissão assim como eu e tantos outros da década de 80, 90 para que fossemos reconhecidos e no entanto estamos sem REPRESENTATIVIDADE. Sentimento de frustração e descaso por em nenhum momento divulgarem nosso trabalho, pagamos da mesmo forma nosso Conselho como nossos colegas de hospitais, ENTÃO AQUI FICA NOVAMENTE MINHA PERGUNTA PORQUE NÃO FOMOS INCLUÍDOS NA PRIMEIRA LISTA JUNTO COM OS DEMAIS?????

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