Governo pode fechar creche às vésperas de volta às aulas

Mais de 50 crianças estão matriculadas em Centro de Educação Infantil gerido pela Secretaria de Saúde do PR

Um comunicado inesperado da Secretaria da Saúde do Paraná (Sesa), na última quinta-feira (4), deixou cerca de 50 famílias “sem chão”: o Centro de Educação Infantil Cantinho Feliz, localizado no bairro Jardim Botânico, em Curitiba, pode fechar as portas. Ele atende filhos de servidores da Saúde desde 1984, do berçário à Educação Infantil.

A instituição, inicialmente coordenada pela Associação dos Servidores da extinta Fundação Caetano Munhoz da Rocha (ASSEF), passou para a gestão da Sesa em 1988, oito anos antes da implementação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB 9394/96), que determina que o ensino da Educação Infantil seja administrado pelos municípios. 

O anúncio pelo encerramento das atividades do Centro Educacional veio a poucos dias do início do ano letivo, o que deixa em alerta as famílias que dependem do espaço para trabalhar, como é o caso dos Zimmermann.

Raquel, de cinco anos, terminou os estudos no Cantinho Feliz no ano passado, mas estava ansiosa pela formatura, que ocorreria em 2021. Quem conta é sua mãe, Magali Zimmermann, profissional do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (Hemepar). “Estou angustiada com o fechamento da creche. É triste porque a Raquel ficou todo esse ano afastada e o processo foi muito difícil”, afirma.

Festa de aniversário da Raquel no Cantinho Feliz. Foto: Arquivo pessoal

Mas, para Magali, isso não é o pior. Manolo, o outro filho da servidora, tem apenas dois anos e com o possível fechamento da instituição, pode ser que ele fique sem escola em 2021. A mãe conta que ela e o marido, que é professor, terão dificuldades de encontrar uma alternativa quando os dois retomarem à rotina de trabalho. O casal foi pego de surpresa com o anúncio repentino. “Atrapalhou toda a nossa logística. Estava tudo pronto para começar o ano, aí pegaram nosso tapete, puxaram e deixaram a gente cair de cabeça no chão. Nós estamos completamente perdidos”, relata.

Assim como Magali, a farmacêutica Ligia Claro já havia matriculado o filho na instituição quando soube do fechamento. “Me senti completamente vulnerável. Eu já tinha uma confiança no trabalho do Cantinho, e de repente me vi sem chão. De uma hora para outra não vai ter mais escola e eu vou colocar onde a criança?”, questiona.

Mãe da Alice, de cinco anos, e do Joaquim, de um e meio, Ligia admite que construir uma confiança como a que tinha neste Centro Educacional não será fácil e exigirá tempo. “Sempre deixei as crianças lá com o coração quentinho. É como se fosse uma família.”

Outra servidora, que prefere não se identificar, conta que só tem boas lembranças do tempo em que as duas filhas, hoje adolescentes, estudavam no Cantinho. “É um lugar muito acolhedor, histórico. Todo servidor da saúde conhece as histórias e a boa fama do Cantinho Feliz”, afirma.

Para a profissional, a instituição sempre foi um grande apoio para os pais, que não recebem auxílio-escola do governo. Ela acredita que muitas famílias não terão condições de pagar uma creche particular e, por isso, encontrar vagas na Rede Pública será ainda mais difícil nesta época do ano.

“Conseguir vagas de última hora é praticamente impossível. As mães estavam esperando que tudo voltasse ao normal e em poucos dias foi divulgado que simplesmente não vai abrir mais. Vai deixá-las no desespero, elas não têm o que fazer.”

Impasse

Segundo a coordenadora-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde Pública do Estado do Paraná (SindSaúde), Olga Estefania, a justificativa dada pela Sesa para o fechamento do Cantinho Feliz foi de que ele estaria “irregular”, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, mas não deu mais detalhes.

Sem respostas da Secretaria sobre o possível fechamento, o sindicato realizou uma mobilização em frente ao órgão nesta segunda-feira (8). A manifestação contou com uma comissão representante de mães e pais das crianças atingidas pela decisão de fechar o local.

Manifestação em frente à Sesa nesta segunda-feira (8). Foto: SindSaúde-PR

Por meio de uma campanha, o sindicato pede que a escola continue em funcionamento até que a situação seja resolvida e que Curitiba, por meio da Secretaria Municipal de Educação (SME), assuma a gestão da instituição.

De acordo com a coordenadora do SindSaúde, em reunião nesta quinta-feira (11), a SME teria se comprometido em assumir a administração do Cantinho Feliz. Ainda segundo o sindicato, a Sesa continuaria mantendo a creche em funcionamento até que todo o processo de municipalização, que duraria cerca de seis meses, seja finalizado. Uma nova reunião entre o órgão estadual, o sindicato e a comissão de pais e mães está marcada para o dia 26 de fevereiro, informou o SindSaúde.

Questionada, a Secretaria de Educação de Curitiba disse não ter conhecimento sobre Centro de Educação Infantil mantido pela Sesa. Procurada pelo Plural, a Sesa não se pronunciou sobre o fechamento da creche nem respondeu aos demais questionamentos da reportagem.

Colaborou: Maria Cecília Zarpelon

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima