Sem vacina, Curitiba para de imunizar população

Prefeito Rafael Greca cobra envio de mais doses. Até agora, só profissionais de saúde e pessoas acima de 85 anos receberam vacinas

Um dia antes de a campanha de vacinação contra a Covid-19 em Curitiba completar um mês, a prefeitura interrompeu a aplicação das doses porque o estoque zerou. Sem novas remessas distribuídas pelo Ministério da Saúde (MS) – a última foi no dia 6 de fevereiro –, a capital paranaense se junta a outras dezenas de municípios que tiveram de suspender a imunização devido à “seca” nos estoques.

Em comunicado, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que os 11 pontos fixos de vacinação e três drive-thrus espalhados pela cidade fecharam as portas ao meio-dia desta sexta (19), interrompendo a imunização de idosos a partir de 85 anos. O processo de aplicação da segunda dose, cujo estoque já estava garantido, segue normalmente no Parque Barigui.

“O cronograma será retomado assim que mais vacinas sejam enviadas à cidade”, diz o comunicado.

Mas na prática, a declaração não traz definições. Isso porque o Ministério da Saúde, que é quem centraliza a distribuição das vacinas no país, não só não determinou quando enviará novas remessas aos estados como anunciou, há pouco, uma revisão no calendário de distribuição anunciado esta semana aos governadores. A nova proposta reduz em mais da metade o estoque prometido para os próximos dias – o que deve afetar em cheio as previsões que o Paraná vinha fazendo.

Em reunião virtual com governadores na quarta-feira (17), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, prometeu distribuir até o fim deste mês 11,3 milhões de doses da AstraZeneca/Fiocruz, importadas da Índia, e 9,3 milhões da Sinovac/Butantan, produzidas no Brasil.

Por este esquema, seriam destinadas ao Paraná 2.421.355 frações de vacina. No entanto, uma reviravolta na disponibilidade dos estoques fez o planejamento cair por terra nesta quinta (18).

Por causa da demora na liberação do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) que compõe a Coronavac, a fórmula, que saiu da China, chegou ao Brasil com atraso significativo e impediu o Instituto Butantan de cumprir o calendário de produção e entrega estabelecido. Portanto, ao invés de 9,3 milhões, serão produzidas até o fim do mês 2,7 milhões de doses – 426 mil por dia.

A mudança obrigou o Ministério da Saúde voltar atrás e afirmar que não vai dar conta de cumprir o cronograma prometido. Na revisão, a pasta disse que serão distribuídas menos da metade do previsto inicialmente: 4,7 milhões de doses .

“Agora, temos que rever os grupos prioritários e saber quem poderá ser imunizado, refazendo o nosso planejamento”, declarou, em vídeo, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco.

Com este novo desenho, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) ainda não sabe dizer quantas doses serão encaminhadas ao Paraná, e o ritmo lento da campanha fez o Sindicato dos Médicos no Estado do Paraná (Simepar) emitir um alerta também nesta sexta.

Em nota, a entidade salientou que, após um mês de vacinação, somente 271.275 paranaenses receberam a primeira dose do imunizante, contingente que representa menos de 2,5% da população.

“Enquanto isso, os professores da rede estadual de ensino estão voltando ao trabalho, e as aulas estão previstas para recomeçar no começo de março. Cidades como Curitiba já estão retomando as aulas presenciais de forma alternada. A volta às aulas sem vacina é uma medida considerada temerária pelos especialistas e deve resultar em aumento das contaminações de estudantes, educadores e seus familiares”, salientou o sindicato.

A preocupação faz sentido. O retorno presencial dos estudantes está previsto para 1º de março, mas antes disso já tem instituição fechada por surto de Covid-19 registrado entre os profissionais de Educação. Uma delas fica em São José dos Pinhais e outra em Araucária, ambas na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Também há quatro colégios em quarentena em Foz do Iguaçu, Oeste do Estado, e 14 fechados na Região de Maringá, no Noroeste, onde os leitos para pacientes com coronavírus chegam a 96% de ocupação.

Em resposta a Greca, Saúde sinaliza que não vai liberar compra de vacina

Afoitos, muitos municípios estão tentando levar adiante projetos próprios de compra de vacinas. Mas o esquema, por ora, não deve vingar.

Em resposta a Rafael Greca (DEM) e outros dois prefeitos, o ministro da Saúde indicou que o Governo Federal não tem a intenção de liberar, neste momento, compras individuais de vacinas por municípios.

O freio foi acionado em reunião da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), na manhã desta sexta (19), da qual o ministro participou. No encontro, Greca e os prefeitos de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), e de Salvador, Bruno Reis (DEM), pediram apoio do Governo Federal a cidades que têm dinheiro disponível para comprar os imunizantes em lotes de maneira independente. Em resposta, o ministro pediu “paciência”.

“Em termos de 15 dias vamos estar produzindo a pleno. E produzindo a pleno é vacina na veia todos os dias”.

Segundo a prefeitura, Curitiba já tem R$ 100 milhões reservados para compra de vacinas contra a Covid-19. No fim do ano passado, Greca chegou a fechar um acordo com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) para a aquisição do imunizante Coronavac, produzido pela chinesa Sinovac em parceria com instituto paulista Butantan – mas todos os estoques produzidos pelo laboratório foram negociados com exclusividade pelo Ministério da Saúde, que hoje é quem controla a distribuição das doses em todo o país.

Esta é a segunda vez apenas nesta semana que Greca pressiona a pasta para liberar a compra independente de vacinas. Na última terça-feira (16), o prefeito curitibano informou ter eviado carta ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para pressionar uma “independência municipal” em relação aos estoques.

“Em carta ao Presidente do Brasil, peço ao Governo Federal um cronograma de envio das doses para assegurarmos o planejamento de vacinação. Nós temos capacidade para vacinar até 15 mil pessoas por dia, mas a velocidade de imunização dos Curitibanos depende da organização e distribuição pelo Ministério da Saúde das doses do imunizante”, comentou Greca no Facebook.

Até agora, Curitiba recebeu do Ministério da Saúde 65.250 doses de vacinas, número que não chega a ser suficiente nem para fechar os grupos prioritários desta primeira etapa da campanha, estimados em 80 mil pessoas.

No encontro da FNP desta sexta, o curitibano também teria pedido ao MS, segundo a própria prefeitura, o uso da Rede Nacional de Comunicação para informar semanalmente à população dados como a quantidade de vacinas enviadas aos estados e capitais, e o calendário de planejamento – um esquema que nem o próprio município vem executando sem arranhões. Como o Plural mostrou, a falta de informações sobre a campanha da vacinação em Curitiba tem restringido o acompanhamento da execução do plano.

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1 comentário em “Sem vacina, Curitiba para de imunizar população”

  1. Rosangela Requi Jakubiak

    Os dados da reportagem estão incorretos pois nem todos os profissionais de saúde foram vacinados. Os pessoal das clínicas particulares de imagem, como tecnólogos e técnicos em radiologia, que fazem tomografias para diagnóstico de COVID o dia inteiro, as equipes de enfermagem que ajudam estes profissionais no preparo dos pacientes, pessoal da limpeza e manutenção dos ambientes, ninguém recebeu vacina.
    Daí eu pergunto: precisa vacinar os idosos aposentados que não precisam sair de casa todo dia para trabalhar antes destes profissionais? Eu tenho mãe de 93 anos que foi vacinada, mas ela está super segura dentro de casa desde que começou a pandemia. É só os idosos ficarem mais reclusos que ficam seguros um pouco mais, até sobrar vacina para eles.

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