Curitiba tem vacina só até sexta-feira (19)

Prefeitura reduz ritmo de imunização mas nega relação com estoque restrito

Curitiba afirmou nesta segunda-feira (15) ter estoque de vacina contra a Covid-19 suficiente para até o fim da semana. As 12,4 mil doses disponíveis descartam a possibilidade da Secretaria Municipal (SMS) suspender o esquema neste momento, a exemplo do que vem ocorrendo em outras cidades do país. Mas apesar de estar em ritmo de imunização mais lento, e bem abaixo da capacidade máxima projetada, a Capital nega ter colocado freios na campanha para se adequar ao vazio de remessas.

A Prefeitura afirma que as 12,4 mil doses da primeira aplicação restantes – de um total de 65.250 recebidas até agora – são suficientes para atender o cronograma da semana. Por este esquema, serão imunizados – até esta sexta-feira (19) – 9 mil idosos e 3,4 mil profissionais da Saúde da Capital.

Contudo, a SMS não descarta cenário mais drástico a partir da próxima segunda-feira (22) caso não haja reposição em breve, o que acende sinal de alerta. Nesta segunda, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) afirmou não ter previsão de quando um novo lote chegará ao Paraná para distribuição entre os Municípios.

Pelo Brasil, por causa das reservas esgotadas e da falta de perspectiva de nova distribuição de doses pelo Ministério da Saúde, Municípios e Estados já começaram a interromper temporariamente as campanhas.

Nesta manhã, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (DEM), anunciou que a vacinação dos cariocas será suspensa até a chegada de novas doses – o que só deve ocorrer na próxima semana. Em São Paulo, o provimento também é pouco e garante imunização somente até quarta-feira (17). Em Salvador, na Bahia, o cronograma foi limitado para que as doses não se esgotem de uma vez só. A Prefeitura de Campo Grande, no Mato Grosso, não abriu os postos de vacinação nesta segunda, pois o estoque terá de passar por uma recontagem para definir os próximos passos da campanha.

Fazendo render?

Apesar das projeções otimistas de início de campanha, a execução do plano de vacinação de Curitiba caminha a passos bem mais lentos.

Ao anunciar como polo central de aplicação o “Pavilhão da Cura”, no Parque Barigui, a SMS estipulou logística de horário estendido –  das 8h às 20h, de segunda a sábado – em uma estrutura capaz de imunizar até 450 pessoas por hora, com média de 5,4 mil por dia.

Mas levantamento feito a partir dos dados divulgados nos boletins diários mostra passos tímidos se comparados à projeção mais otimista, o que a Prefeitura nega ter relação com um estoque restrito de doses.

Dos 22 dias de vacinação, desde o início da campanha (20/1)e o último sábado (13), em apenas dois deles a marca de 5,4 mil imunizados foi superada: no dia 29 de janeiro (5.637), um dia antes do Centro fechar as portas mais cedo por causa das aglomerações, e no dia 3 de fevereiro (5.933). A data de mais fluxo em fevereiro foi quando a SMS começou a vacinar o grupo de profissionais autônomos da Saúde, parcialmente suspensa depois de questionamentos do Ministério Público do Paraná (MPPR).

Desde então, o máximo de pessoas vacinadas em um só dia foi em 4 de fevereiro (3.812) e, depois, em 5 de fevereiro (3.716). A chegada do último lote de vacinas enviado pelo Governo Federal, em 7 de fevereiro, não mudou em nada o cenário de fôlego curto. Nos dias subsequentes à chegada das “novas” 12.260 doses em Curitiba, as médias continuaram abaixo, alcançando o ápice na última sexta (12), com a vacinação de 3.550 pessoas.

As médias por semana também mostram que o ritmo da campanha curitibana tem desacelerado.

Na primeira delas, com cinco dias ativos de vacinação, a média foi de 1.411 imunizados por dia. Na segunda semana, única em que a Prefeitura abriu as portas do pavilhão até no domingo, 3.199. Na terceira semana, com seis dias corridos de atendimento, foram 2.774 imunizados. Na parcial da última semana, ainda sem os dados desta segunda e terça, a média foi de 1.669 curitibanos vacinados por dia.

Além disso, desde o dia 3 de janeiro, o horário de atendimento no Parque Barigui caiu de 12 horas diárias para nove horas e meia. A justificativa da mudança foi o fim da vacinação de grupos de profissionais de UTI, condicionados a rotinas mais rígidas. Nesta semana, com o início da aplicação das doses de reforço, este grupo volta ao pavilhão, que mantém o número de horas de atendimento reduzido.

Segundo a Prefeitura, no entanto, a variação de vacinados por dia e por semana está mais associada ao público alvo que está sendo imunizado do que com o estoque em si.

“A vacinação de acamados, por exemplo, é um processo mais lento e que demanda equipe, e os públicos dentro de cada faixa de idade que estamos chamando no dia a dia é menor do que os grupos de trabalhadores de saúde”, respondeu a SMS, observando que, na semana 1 também houve média menor por causa do foco em Instituições de Longa Permanência (ILPs), “um processo mais moroso”.

Foto: Ricardo Marajó/SMCS

Poucas opções

Até o momento, o Governo Federal afirma já ter distribuído 11,14 milhões de doses de vacina em todo o país, sendo 9,14 milhões da produzida em parceria entre a chinesa Sinovac e o Instituto Butantan, e o restante da que leva o nome da Universidade de Oxford, do laboratório Astrazeneca e da Fiocruz.

Desde que a campanha começou, no dia 20 de janeiro, este é o maior intervalo de tempo sem distribuição de remessa aos Estados. Depois da chegada do primeiro lote, no dia 19 de janeiro, as remessas seguintes foram distribuídas nos dias 23 e 25 de janeiro e 6 de fevereiro.

Na semana passada, o Ministério da Saúde informou que deve receber, em breve, novas doses da vacina da farmacêutica AstraZeneca/Oxford, liberadas por meio da aliança global Covax Facility. Até junho, o Brasil terá acesso a 10,6 milhões de doses do consórcio, sendo que o primeiro lote deve chegar com 25% do total.

Contudo, ainda não há data definida para distribuição – o que deixa os Estados em saia justa diante da falta de imunizantes.

Principal fornecedor de vacinas no Brasil até agora, o Instituto Butantan, que fabrica a Coronavac em solo brasileiro, está em fase final de outras 17,3 milhões de doses. Mas o montante será entregue de maneira gradual para todo o Brasil, pelo Ministério da Saúde, somente a partir da próxima terça-feira (23). Até lá, ainda não há indicativos de como a pasta vai proceder para suprir a falta localizada.

Até mesmo negócios estão atrasados. Prometido para semana passada, o acordo de intenção de compromisso com a farmacêutica russa responsável pela Sputnik V e com o laboratório indiano Bharat Biotech, criador da Covaxin, não foi fechado. Segundo o Ministério, “em função de atrasos nos repasses de informações por parte das empresas”.

“Uma vez solucionadas essas questões, poderão ser assinados os acordos que permitirão ao Brasil receber 20 milhões de doses da Covaxin – distribuídas em entregas ao longo de cerca de três meses – e 10 milhões de doses da Sputnik V, que chegariam em remessas divididas no prazo de três meses”, diz o Governo Federal, sem citar datas.

Estudo divulgado no fim de janeiro pelo Instituto Lowy, da Austrália, apontou o governo de Jair Bolsonaro como a gestão que pior lidou com a pandemia do coronavírus até agora. Para a pesquisa, foram avaliados 98 países, em critérios diversos como casos e mortes confirmadas; casos e mortes por cada milhão de habitantes; e casos em proporção à testagem.

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