Enfim, Carolina Maria de Jesus (1914–1977) recebe a atenção que merece. A autora que publicou “Quarto de despejo” em 1960 e que chocou meio mundo por ser capaz de fazer o que fez sendo negra, semianalfabeta e moradora da favela do Canindé, aos poucos foi sendo esquecida até morrer num lugar que conheceu muito bem em vida: a de uma pessoa pobre e ignorada.
E o que ela fez foi escrever. Escrever de uma forma que nunca ninguém havia feito antes no Brasil. Carolina Maria de Jesus falou sobre sua vida, que era e ainda é a vida de milhões de brasileiros que enfrentam fome e frio, que não têm onde morar e trabalham como catadores porque essa parece ser a única possibilidade de (tentar) sobreviver.
Agora, a Companhia das Letras se prepara para publicar uma parte substancial da obra de Carolina Maria de Jesus, a começar pelos dois títulos já disponíveis: o par de volumes de “Casa de alvenaria”. “Quarto de despejo” segue em catálogo pela editora Ática.
Na lista a seguir, você tem acesso aos melhores textos que o Plural publicou sobre a escritora. São quatro: uma crítica, um artigo, uma homenagem e uma reportagem.
1. Ler Carolina Maria de Jesus é fundamental
“Quarto de despejo – diário de uma favelada”, de Carolina Maria de Jesus, sempre sofreu com uma falsa dicotomia. Quase sempre os comentários sobre ele (até mesmo nas edições mais sérias) dizem respeito à “falta” da norma culta/padrão ou os comentários pedem escusas pela edição “que manteve os erros de grafia”.
Eu poderia provar por a + b que esses comentários são obtusos: não apenas a obra (se essa é a preocupação) se aproxima da norma culta e da norma padrão, como as desavenças pequenas (como me envergonho de ter de lidar com isso aqui!) com a “correção” ortográfica são mínimas. Inclusive, a lógica dessas supostas “imperfeições” deixa o livro ainda mais coeso. E bonito, embora sua tristeza. (Texto de Benedito Costa.)
Leia a crítica completa, aqui.
2. Para ter consciência do racismo, leia Carolina Maria de Jesus
“E haverá ‘espetaculo’ mais lindo do que ter o que comer?”, dizia Carolina. “A comida no ‘estomago’ é como o combustível nas ‘maquinas’.” Ter contato com a sabedoria de Carolina, ao falar sobre a fome e a vida na favela, só é possível porque é ela quem escreve e não alguém que a ouviu e transcreveu suas histórias. O livro é uma dica para quem ainda não entendeu o motivo de haver um feriado para marcar o dia da consciência negra no Brasil. (Texto de Sandra Nodari.)
Leia a íntegra do artigo, aqui.
3. A história de todas nós
Os relatos do livro são ácidos, sofridos e intensamente reais. Além da vida na favela, já impactante por si, ainda há nas palavras o sofrimento de uma mulher negra e sozinha, chefiando uma casa com três filhos. Não há como não se emocionar ao ler a obra de Carolina Maria de Jesus, cuja vida inspirou cinco biografias e um documentário alemão, intitulado “Favela: a vida na pobreza”, protagonizado pela própria escritora. (Texto de Ana Mira.)
Leia o texto que homenageia Carolina Maria de Jesus, Gilka Machado e Júlia Lopes de Almeida, aqui.
4. Uma intérprete do Brasil
Para a pesquisadora Vanessa Poteriko, Carolina Maria de Jesus não é apenas uma escritora de diários, ela é uma das intérpretes do Brasil. “É uma intelectual do Brasil, e ela revolucionou: quando a conhecemos começamos a nos perguntar o que é literatura, quem pode fazer literatura no país”, afirma Poteriko. (Texto de Ana Justi.)
Leia a reportagem completa, aqui.