“Vulcões” narra história de amor dos vulcanólogos Katia e Maurice Krafft

Documentário sobre cientistas franceses tem imagens e texto lindos, é um dos melhores filmes de 2022 e está em cartaz no Disney+

A coisa mais incrível do documentário “Vulcões: a tragédia de Katia e Maurice Krafft” é o casal no centro da história. Os dois franceses da Alsácia se conheceram nos anos 1960 e logo descobriram que tinham em comum uma atração estranha por vulcões.

Na época, esse ainda era um campo de pesquisa pouco explorado e mesmo entre os cientistas que estudavam vulcões, dava para contar nos dedos aqueles que tinham coragem de encarar vulcões ativos. Katia e Maurice Krafft faziam parte desse grupo.

Isso significa que eles tinham contatos em várias partes do mundo – pessoas que avisavam sempre que um vulcão entrava em erupção. Assim que recebiam o telefonema ou o telegrama, eles largavam tudo para viajar de avião, navio e helicóptero, para onde quer que fosse, a fim de filmar, fotografar e observar o vulcão.

Com essa ética de trabalho, e ao longo de 20 anos, eles acumularam um acervo com centenas de horas de filmagem e milhares de fotografias de vulcões como Mauna Loa (EUA), Nyiragongo (Congo) e Krafla (Islândia). Até serem mortos numa erupção do Monte Unzen, no Japão, em 1991. Maurice tinha 45 anos e Katia, 49.

Vulcões

A morte deles não é o fato mais importante da história. Na verdade, ao longo da carreira como vulcanólogo popstar, do tipo que aparecia na televisão e nos jornais, e que dava entrevistas para meio mundo, Maurice dava a entender que seria morto por um vulcão. E que isso seria apenas “um acidente de trabalho”. Katia era um pouco mais cuidadosa, mas dizia que preferia morrer com Maurice do que sobreviver sem ele. Era uma crônica de duas mortes anunciadas.

A vulcanóloga Katia Krafft, em cena do documentário “Vulcões”, do National Geographic. (Foto: Divulgação)

Pela coragem que mostravam diante de um vulcão cuspindo lava – uma coragem que beirava a inconsequência –, Maurice e Katia agem menos como cientistas e mais como dois esportistas radicais. Eles parecem movidos pela adrenalina e não pela pesquisa. E assim se arriscam cada vez mais para captar imagens impressionantes e para observar. “A vulcanologia é uma ciência da observação”, explica o documentário.

Numa cena, vestindo trajes especiais e um capacete esquisitíssimo de metal para se protegerem dos disparos de lava (a roupa toda é igual ao figurino futurista de um filme dos anos 1950), Katia e Maurice caminham na beira de um vulcão ativo. É uma cena surreal e a impressão é de que os dois estão se divertindo, dançando para escapar da morte.

Werner Herzog

Não bastasse ter encontrado dois personagens geniais, a diretora Sara Dosa, que escreveu o roteiro com outras três pessoas, conseguiu criar um texto absolutamente lindo para a narração de Miranda July (que, aliás, é uma cineasta e escritora talentosa). O texto tem uma qualidade literária, um ponto de vista claro e muita atitude. Ele ajuda o documentário a defender seus personagens com unhas e dentes.

Por essas qualidades, “Vulcões: a tragédia de Katia e Maurice Krafft” é uma mistura dos documentários de Werner Herzog com os filmes de Wes Anderson. Não por acaso, vulcões também interessam a Herzog e ele cita o casal Krafft em “Viagem ao inferno” (Netflix), além de ter feito um tributo aos dois em um filme que ainda não foi lançado no Brasil, chamado “The Fire Within: A Requiem for Katia and Maurice Krafft”.

Para se proteger da lava, o casal de vulcanólogos usava roupas estranhas e capacete de metal. (Foto: Divulgação)

“Fire of Love”

Então os personagens, o texto e a narração são incríveis. Além disso, os responsáveis pela edição do filme precisam ser citados: Erin Casper e Jocelyne Chaput. Foram eles que cavaram no acervo de imagens de Katia e Maurice, e que conseguiram dar um ritmo eletrizante ao filme. E esse ritmo é determinado logo nos primeiros minutos de “Vulcões”.

O filme mostra os cientistas enfrentando uma nevasca violenta para documentar uma erupção. A voz rouca de Miranda July diz: “Num mundo frio, todos os relógios começaram a congelar. O sol veio e se foi entre rajadas de vento e nevascas que acabavam com toda a vida. Neste mundo, havia um fogo e, neste fogo, dois amantes encontraram um lar”. Nada mal para uma introdução de um filme que, em inglês, se chama “Fire of Love”.

Depois dessa cena, uma música vibrante começa a tocar sobre uma sequência de imagens que mostra o carisma extraordinário de Katia e Maurice Krafft. Eram só os cinco primeiros minutos de filme e já eu estava completamente fisgado.

Onde assistir

“Vulcões: a tragédia de Katia e Maurice Krafft” é um documentário do National Geographic e está em cartaz no streaming da Disney+.

Sobre o/a autor/a

2 comentários em ““Vulcões” narra história de amor dos vulcanólogos Katia e Maurice Krafft”

  1. Irinéo, adoramos o filme, voltamos agora do Atacama cismados com os vulcões. Ontem mesmo saiu a notícia que o Vulcão Lascar teve uma erupção! Na sequência desse filme assistimos outro que queremos te recomendar, sobre o casal Krafft: “The fire within, Réquien para que Katia e Maurice Krafft” do cineasta Werner Herzog, lançado agora em 2022. Lindo! Assista!!

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