Restauração do Bom Jesus dos Pinhais da antiga Igreja Matriz de Curitiba é detalhada para o público

Processo de restauro da obra que faz parte do acervo do Museu de Arte Sacra da Arquidiocese de Curitiba é apresentados em aula aberta com Ana Caniatti

Uma imagem que esteve diante dos olhos de boa parte da população de Curitiba, lá pelos idos de 1800, ganhou vida nova. É a estátua do Bom Jesus dos Pinhais, uma peça cheia de histórias, que teve sua primeira morada na antiga Igreja Matriz de Curitiba e hoje faz parte do acervo do Museu de Arte Sacra da Arquidiocese de Curitiba (MASAC). Agora curiosos, estudantes e profissionais interessados em saber tudo o que está envolvido em um processo de restauração, têm a chance de conversar com a responsável pela recuperação da obra, Ana Caniatti. O encontro será on-line, em formato de aula aberta e gratuita, nesta quinta-feira (8), às 19h.

Caniatti, que já restaurou obras assinadas por Miguel Bakun, pioneiro da arte moderna no Paraná; Guido Viaro, artista ítalo-brasileiro; Poty Lazzarotto, muralista renomado; e do pintor imigrante italiano Gildo Scaranari, explica que a imagem foi modelada em terracota (barro queimado), policromada (com camada de pintura) com resquícios de douramento, e que é classificada como um exemplar do estilo denominado “Paulistinha”. 

Bom Jesus dos Pinhais

Antes de chegar ao MASAC, o item esteve nas mãos da família Brandão, que foi a guardiã da imagem de 1896 até 1976. Voltando na linha do tempo, sabe-se que o primeiro capítulo da trajetória do Bom Jesus dos Pinhais foi na Igreja Matriz da Capital.

A data da construção da antiga Igreja Matriz da Capital é incerta, fala-se em 1658 e 1668 ou ainda 1714. O que se sabe é que ela substituiu uma capela em madeira e, depois de sua demolição em 1875, deu lugar à atual Catedral na Praça Tiradentes. Nessa época, durante o século XVIII e mais da metade do XIX, a peça teria adornado paredes ou altares da Matriz. Porém, algo chamou a atenção da especialista em restauro: “A imagem possui estética no século XIX, possivelmente não é a mesma imagem que esteve na igreja nos idos de 1700.”

Essa suspeita não diminui o valor da obra para a história da cidade nem para o mundo das artes. A maneira como o restauro olha para esses casos é com o mesmo cuidado dedicado a outras obras. “O fato é que, ser mais antiga ou menos antiga, não é algo que muda o processo; ela possui marcas que são testemunhos da passagem do tempo. Trata-se de uma peça museal, esses itens são entendidos como documentos dos modos de fazer e devem ser preservados para a geração atual e para as futuras”, diz Caniatti.

Lacunas na história

É curioso, para não dizer questionável, que a tutela de uma obra como essa tenha ficado tantos anos em uma coleção particular. “Tudo indica que quando a igreja foi demolida as imagens foram levadas pelas famílias que colaboravam financeiramente para a congregações. Esse tempo não chegou ao fim porque, em geral, os fiéis e os padres começavam a achar que o novo templo merece novas imagens”, fala a restauradora explicando que o destino incerto da arte sacra era comum em todo o Brasil. 

A esperança é de que o trabalho de restauro incentive a pesquisa histórica sobre o Bom Jesus dos Pinhais e sobre outras peças de arte sacra no Paraná. Além da restauradora, participaram da pesquisa Eliza Filomena Caniatti Rodrigues e Leonardo Matuchaki, mesmo assim, ainda existem lacunas e muito do que se descobriu foi por um achado. 

A linhagem mais antiga dos Brandão, na época em que a velha Matriz de Curitiba ainda estava de pé, são os Ferreira Ribas. Por sorte, um de seus integrantes, Ferreira de Sá Ribas, resolveu contar como foi a passagem de várias imagens pelas mãos da família em um diário, que só foi encontrado depois de sua morte. A descoberta do testemunho foi do historiador Júlio Moreira, nos anos 70, contudo só veio a público nos anos 2000, quando a filha de Júlio e também historiadora, Aline Moreira, providenciou uma publicação do estudo.

Infelizmente, o MASAC está fechado para reformas e ainda não se sabe a data em que será reaberto ao público. Mas a aula gratuita é uma oportunidade de conhecer detalhes do processo que garantiu o retorno da obra à reserva técnica do museu. 

Aula aberta sobre a conservação e restauração

Com Ana Caniatti, sobre o processo realizado na imagem de Bom Jesus dos Pinhais. Quinta-feira, 8 de dezembro, às 19 horas. Acesso gratuito aqui.

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