Troca de comando na Sesp alivia clima com bancada da bala e faz CPI da Segurança perder força na Assembleia

Deputados haviam ensaiado apoio à abertura da comissão na Alep por descontentamento com ex-secretário. Parlamentares negam que atenderam a pedido do governador para tirar nomes do requerimento

Ratinho Jr. (PSD) passou muito perto de ter a segurança pública de seu governo alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Isso praticamente às vésperas da eleição. Protocolado em agosto do ano passado pelo deputado professor Lemos (PT), o requerimento aberto na Assembleia Legislativa (Alep) ganhou fôlego com protestos recentes de policiais, e a expectativa era de que o número mínimo de assinaturas para abrir os trabalhos fosse atingido ainda esta semana, depois do caos vivido por moradores de Guarapuava em meio a uma tentativa de assalto a uma empresa de valores da cidade.

Até esta terça, a comissão já tinha aval de 17 deputados. Pelo Regimento Interno da Casa, só mais um já seria suficiente. Sob o assombro da possibilidade, veio a troca do comando da Sesp, e parlamentares começaram a abrir mão das assinaturas dadas.

Até agora, já voltaram atrás Artagão Junior (PSD) e Luiz Fernando Guerra (União) – que, embora da base, negam ter declinado a pedido do governador.

A medida oficial anunciada nesta quarta-feira tirou de campo o coronel Romulo Marinho Soares, por quem a bancada de segurança da Assembleia não nutria simpatia. No lugar dele, assume o delegado da Polícia Federal Wagner Mesquita, que estava na direção-geral do Detran-PR e já havia chefiado a pasta na gestão Beto Richa.

Internamente, cogita-se que a alternância tenha resolvido dois problemas. Um deles, o descontentamento de parlamentares que, em contragosto tácito, demonstraram apoio à CPI estudada pela oposição

O deputado Guerra, que nesta quarta apresentou requerimento para remover a assinatura do apoio, descartou a relação e disse que a decisão apenas formaliza uma intenção antiga, só não colocada em prática antes por questões particulares do processo.

“De minha parte não teve pedido nenhum [do governador]. O que teve foi um entendimento da Mesa Executiva de que esse pedido de CPI nasceu morto. Existe em tramitação mais cinco CPIs na Casa, e o rito estabelece um número ‘xis’ [cinco, no máximo]”, afirmou, negando ligação com a queda do secretário de Segurança Pública. “Já era para eu ter retirado lá atrás, mas, naquele momento, o projeto estava arquivado, e a Assembleia me informou que, se fosse reaberto, seria um novo protocolo com novas assinaturas”.

Já o deputado Artagão Junior não se manifestou.

Outro entrave supostamente superado pelo governador com a mudança seria a falta de resposta do então secretário da pasta diante das contrariedades acumuladas no desenrolar do episódio que colocou Guarapuava, no interior do estado, na mira de bandidos fortemente armados em ação de roubo a uma empresa de guarda de valores. O caso foi na semana passada, e, até hoje, nenhum integrante da quadrilha foi preso.

A ausência de resultados causou incômodo generalizado, dentro e fora do governo. Pesaram ainda as declarações de policiais militares contradizendo o então secretário de que havia um plano de contingência estabelecido. Segundo eles, por causa da defasagem, policiais da reserva tiveram que intervir às pressas em meio ao terror da situação.

A falta de estrutura da segurança pública do Paraná é justamente o que levou deputados da oposição a se articularem para instaurar uma CPI.

O documento foi redigido com base em denúncias feitas pelo Sidepol, o sindicato dos delegados do estado. No caso específico da Polícia Civil, o Sidepol diz haver insuficiência para atender as demandas da instituição, que está sem novas nomeações em larga escala há cinco anos. Recentemente, policiais militares insatisfeitos com um desalinho em jornadas de trabalho e pagamento de horas extras devidas passaram semanas acampados em frente ao Palácio Iguaçu, sede do governo estadual.

O governo, no entanto, não associa a troca na chefia da Segurança Pública nem à iminência da CPI nem à condução dos fatos em Guarapuava.

Na sessão desta quarta, o líder de Ratinho Jr. na Assembleia, Marcel Micheletto, reforçou a teste de que não existe essa ligação, e de que a saída de Marinho tem motivações pessoais. Ele estaria sendo designado para uma função no governo federal, afirmou o parlamentar em plenário.

A nota sobre a saída do coronel publicada nesta manhã no site do governo já adiantou críticas à gestão – e, de certa forma, a alguns dos pontos que seriam encaminhados pela CPI.

O texto diz que Marinho sai após iniciar um plano de modernização de R$ 2 bilhões, aplicados na construção de presídios, entrega de equipamentos (viaturas, armas e coletes), modernização das carreiras das forças de segurança, implementação do Departamento de Polícia Penal e retirada definitiva dos presos do Paraná da administração da Polícia Civil.

“A Secretaria também acumula bons índices de redução de crimes, principalmente roubos e mortes violentas, e foi fundamental para a execução do planejamento estadual de combate à pandemia do coronavírus e da crise hídrica, colaborando, de maneira ativa, para salvar inúmeras vidas. Marinho também ajudou a construir um bom relacionamento com o governo federal, via Ministério da Justiça e Segurança Pública e Forças Armadas”, diz a nota.

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1 comentário em “Troca de comando na Sesp alivia clima com bancada da bala e faz CPI da Segurança perder força na Assembleia”

  1. Assim é a política. Um jogo de cena. O governador que “transforma nugget em frango” ficou 4 anos e não melhorou em nada a segurança pública. A simples troca de secretário pode agradar a bancada da bala, mas não fará brotar escrivãos, delegados e policiais do solo? E a pífia taxa de elucidação de homicídios do Estado? Agora que as eleições se aproximam, nas áreas centrais da capital há congestionamento de viaturas e de policiais. É um escracho tudo isso.

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