O que aconteceu com os estudantes que ameaçaram colegas em Curitiba?

No caso mais grave, um estudante ameaçou outra aluna de estupro. Houve também ameaça de morte contra petista

“Eu fiquei mais com medo dos pais mesmo. Porque se os alunos agem assim eles aprenderam em casa”. A estudante de 17 anos do colégio Positivo, em Curitiba, que foi ameaçada de estupro por um colega continua a rotina, apesar da situação grave ocorrida em um grupo de mensagens de WhatsApp no início do mês.

A jovem não estuda na mesma sede do autor da ameaça, mas os alunos de todas as unidades costumam usar o aplicativo para trocar informações sobre atividades escolares. A aluna recebeu o link para entrar no grupo bolsonarista e decidiu acompanhar as discussões.

Quando a vitória do ex-presidente Lula (PT) foi confirmada ela mandou uma mensagem comemorando a vitória. A mensagem continha alguns palavrões, mas não tinha tom de ameaça aos colegas.

Como resposta, foi ameaçada de estupro por um dos integrantes do grupo. Ouça:

Além da ameaça, os estudantes também compartilharam conteúdo nazista, xenofóbico e chegaram a ameaçar professores no grupo.

Os autores, segundo o colégio Positivo, vão responder a um processo administrativo “em observância ao devido processo legal e ampla defesa”.

Ainda segundo a escola, os alunos foram recebidos pela direção da escola, junto com os pais e “demonstraram arrependimento e constrangimento pelos seus atos, sendo repreendidos pelos pais e pela instituição”.

Os envolvidos devem ser suspensos e o Conselho Tutelar foi acionado para acompanhar o caso. O colégio entende que não é possível expulsar os alunos porque “a penalidade de expulsão, como medida educativa, afronta o direito de permanência dos alunos na escola (art.53, inciso I da Lei nº 8.069/90, art.3º, inciso I da Lei nº 9.394/96 e, em especial, do art.206, inciso I da Constituição Federal)”.

Outros colégios

A onda de atos antidemocráticos não é exclusividade do Positivo. Também houve registros em unidades do Marista, onde os alunos prepararam um ato em apoio ao candidato à presidência derrotado Jair Bolsonaro (PL) e após a eleição hostilizaram colegas que votaram em Lula. Grupos de aplicativo de mensagens também tinham ameaças de morte ao petista.

Neste caso específico o Núcleo da Infância e da Juventude (NUDIJ) da Defensoria Pública do Paraná (DPE-PR), se reuniu com diretores da instituição e abriu um procedimento padrão para analisar a denúncia.

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À DPE, a direção do colégio disse que tomou “todas as providências” e deve encaminhar por escrito um documento mais detalhado sobre o caso.

Também em Curitiba, estudantes bolsonaristas queimaram a bandeira do PT levada por um colega de escola. Eles mesmos gravaram um vídeo no qual aparecem urinando na bandeira e publicaram nas redes sociais.

Esta situação aconteceu no Colégio Bom Jesus. A instituição afirmou que as situações são “atípicas e pontuais” e mencionou ainda que “toma as medidas educativas pedagógicas cabíveis”.

Jurídico

No caso da estudante ameaçada de estupro, embora a direção do colégio tenha sido comunicada, a vítima não registrou boletim de ocorrência.

Existem, no entanto, caminhos jurídicos que podem proteger adolescentes de ameaças praticadas por colegas. “Além do diálogo em casa, os pais podem acionar o conselho tutelar, a escola, a delegacia de polícia e o poder judiciário. A medida que os pais podem tomar dependerá do crime cometido”, explica a advogada Raíssa Milanezi, integrante do Instituto Nacional de Pesquisa e Promoção de Direitos Humanos.

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Segundo a especialista, quando há crime de ameaça deve ser feito um boletim de ocorrência junto à Polícia Civil. “Já se ocorrer um dos crimes contra a honra, com ofensas a honra objetiva ou subjetiva, leia-se, xingamentos, acusações e correlatos, deve-se registrar um boletim de ocorrência e contratar um advogado para ajuizamento da queixa crime”, destaca.

Mensagens, prints, vídeos e áudios servem de provas e uma dica e registrar tudo isso em cartório. A escola, por sua vez, deve acionar o Conselho Tutelar para conscientizar e precaver casos de violência e, se for necessário, também há orientação para acionar a Polícia Militar.

Penalizados

Mesmo que as instituições não adotem condutas mais rígidas nos casos de atos antidemocráticos, xenofóbicos, racistas ou sexistas, é possível que os envolvidos sejam responsabilizados penalmente, mesmo sendo adolescentes.

“O adolescente ou a criança será processado pelo ato infracional cometido e ouvido, com possibilidade de apresentação de testemunhas de acusação e defesa. Ao final, caso se reconheça o cometimento de um crime, ele será punido”, salienta Milanezi.

A estudante de 17 anos, após ser ameaçada de estupro, foi removida do grupo, mas recebeu no privado novas mensagens agressivas. Apesar disso, ela não pretende deixar o colégio, mas não acha que os acusados serão transferidos.

A reportagem do Plural questionou a Polícia Civil do Paraná sobre o andamento das investigações nos casos citados, no entanto, por conta do feriado do Dia do Servidor, apenas as demandas de informações factuais (que ocorreram no dia) seriam atendidas nesta sexta-feira (11).

Denuncie

Casa da Mulher Brasileira: 41 3221-2701

Polícia Civil: 197

Polícia Militar: 190

Conselho Tutelar: 41 3363-7681

Defensoria Pública Estadual: 41 3313-7336

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14 comentários em “O que aconteceu com os estudantes que ameaçaram colegas em Curitiba?”

  1. Crisanto Soares Ribeiro

    Infelizmente reflexos de famílias, onde estas ações são defendidas e estimuladas. E muitas escolas fazem vistas grossas, o que importa não é o processo educacional, mas a mensalidade em dia.

  2. A alienação destes delinquentes vem de casa, do círculo social que vivem, são estimulados e instigados a violência verbal e física contra pessoas que são contrárias a esta “seita”, as escolas também são coniventes, escolas particulares, bolsonaristas que pouco ou nada fizer para conter as manifestações de ódio. Também errados estão os alunos que se manifestaram com xingamentos na comemoração, seria o mesmo que ir comemorar um título na torcida do adversário.

  3. São o que os pais são, detalhe, só colégio de alta classe, são o que ouvem, o que vêem, o que aprendem, são pessoas egoístas que não respeitam nada e ninguém que pense diferente deles,é o que está reservado para o futuro do nosso país, um bando de imbecil racista, e que tem “apoio” da lei e de seu dinheiro, mas não escaparam na hora de acertar as contas com Deus, não tem como corromper o Pai Altíssimo, seu dinheiro não compra nadá lá!
    Outro detalhe, são Colégios “cristãos “.

  4. São o que os pais são, detalhe, só colégio de alta classe, são o que ouvem, o que vêem, o que aprendem, são pessoas egoístas que não respeitam nada e ninguém que pense diferente deles,é o que está reservado para o futuro do nosso país, um bando de imbecil racista, e que tem “apoio” da lei e de seu dinheiro, mas não escaparam na hora de acertar as contas com Deus, não tem como corromper o Pai Altíssimo, seu dinheiro não compra nadá lá!

  5. No Colégio Stella Maris os alunos de apenas 11 anos fazem todo o tipo de piadas xenofóbicas, racistas, misóginas. Piadas contra deficientes físicos são constantes. Um exemplo que meu filho trouxe pra casa indignado que os meninos disseram foi: “comprei a melhor bicicleta do mundo, dei pra um deficiente físico… hahaha que desperdício!” Essa é a mais leve tem vídeos xingamentos. As professoras q presenciam N interferam a direção também não. No grupo tem uns vídeos horríveis. Muita decepção.

  6. Curitiba tem que ser estudada. Teve também um guri lá na câmara de curitiba, líder do prefeito Rafael Greca, que atacou verbalmente Renato Freitas porque o vereador Renato Freitas denunciou nazismo e fascismo nas escolas de elite de Curitiba.

    O guri, descendente de italianos, disse que os debates eram democráticos – NÃO EXISTE DEBATE DEMOCRÁTICO AONDE EXISTE APOLOGIA AO NAZISMO!

    E parece que tem um grupo de pais desses alunos que querem processar o vereador Renato Freitas por ele ter denunciado o alunos que fizeram apologia ao Nazismo e Fascismo. O Plural poderia publicar as fotos desses pais e mães que ao invés de pedirem desculpas pra sociedade e mostrarem arrependimento, se envaidecem ao ponto de quererem judicializar contra o vereador negro que denunciou CRIME cometidos pelos filhos dessa gente.

  7. Ronaldo Oliveira de Almeida

    Parece que o nazismo e o FASCISMO se tornaram coisa comum no SUL do BRASIL. Espero que o MINISTÉRIO PÚBLICO NÃO VENHA DIZER QUE ISSO É BRINCADEIRINHA DE MENINOS CRIADOS SEM LIMITES. LUGAR DE CRIMINOSOS É NA JAULA!!

  8. Luiz Fernando Krause

    Sou nascido na época da ditadura e posso afirmar que nem meu pai ou ninguém da minha família foram perseguidos políticos, simplesmente porque eram pessoas do proletariado gente que vivia a vida trabalhando e não tinha tempo para militar contra o sistema. Não quero me estender, mas criar uma situação como se fossemos dois tipos de pessoas diferentes , direitistas e esquerdista, faz mal para todos. Isso sim é criminoso. O mais estupido é pensar que certos políticos são a nossa salvação.

  9. Eu estudo Direito na Faculdade Positivo em Curitiba. Lá a ameaça vem dos alunos de esquerda, que ofendem quem não pensa como eles. Para piorar, os professores apoiam, mais que isso, incentivam. Não sou de nenhum dos lados, mas é constrangedor. Outro dia, uma aluna foi com uma camisa do Brasil, teve que ir embora, pois foi ofendida em massa e quase apanhou. Então, temos alunos doutrinados de direita em colégios, e doutrinados de esquerda nas universidades. Isso é péssimo.

  10. Escolas de Curitiba perdem autoridade pra autoritarismo familiar.
    Já são 4 escolas com casos de ameaça e violência contra nordestinos e petistas.
    A relação comercial substituiu a relação com educação e aprendizado. As “escolas empresas” temem perder seus clientes e são coniventes com o comportamento de xenofobia, racismo, intolerância e violência dos alunos, e acoberta crimes sob o título de brincadeiras.
    Colégios envolvidos até agora: Marista, Bom Jesus, Positivo e Dom Bosco Ahu.
    Temos que denunciar ao ministério publico pelo futuro das próximas gerações.

    #racismo #xenofobia #educacao #direitoshumanos #curitiba #ministeriopublico #mppr

  11. Se não houver conscientização da ação criminal por parte dos órgãos competentes isso se tornará rotina,até que um dia se tornará um terrível acontecido, com o incentivo da impunidade.

  12. Uma solução, simples, com base no ECA: prestação de serviços à comunidade e participação em aulas-extras de História. Tira esse pessoalzinho do conforto das chaises, dos home-theaters, das suítes, das baladinhas e dos buffets e manda ver a vida como ela e estudar História.

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