Vereadora sofre ameaça de morte por pedir liberação de vias em Foz do Iguaçu

Única vereadora de Foz a questionar protestos antidemocráticos vem sendo ameaçada

“É para fazer propaganda negativa sobre essa mulher. Essa mulher não pode mais voltar pra política. Jamais. Ao invés dela representar o povo, ela quer censurar o povo. Ela quer oprimir o povo. Gravem o nome de quem quer nos censurar. Gravem esse nome: Yasmin Hachem”.

Com estas palavras amplificadas por caixas de som, João Bosco, uma das lideranças do bolsonarismo em Foz do Iguaçu, deu comando para sua militância agir. Poucas horas após o episódio ser registrado, na manhã da última quinta-feira (4), em pleno ato ilegal que há oito dias controla duas avenidas em frente ao batalhão do Exército, a única vereadora do município a cobrar publicamente a garantia do direito de ir e vir dos iguaçuenses foi informada de que teria sido ameaçada de morte..

“Nos protestos em frente ao batalhão ameaçaram você. Falaram até que iam te enterrar. Tome cuidado. Se puder, aja legalmente e se proteja”, avisou de forma anônima um informante. A reportagem entrevistou a jovem vereadora de 26 anos, isolada politicamente dentro da Câmara Municipal desde o início dos atos golpistas que desprezam o resultado das urnas e exigem intervenção militar.

Abalada com o ocorrido, comunicado à Polícia Civil por meio de um Boletim de Ocorrência, Yasmin compartilhou com a reportagem um áudio recebido em seu celular, acompanhado de fotos com a indicação de que teriam sido encaminhados com frequência.

“Aí pessoal, essa é a lata da jaguara da vereadora que tá pedindo pro prefeito tirar a gente daqui da frente do batalhão. Vamos compartilhar. Vamos arregaçar essa sem vergonha. No Facebook, no Instagram. Vamos meter o pau nela, beleza? É Yasmin Hachem o nome dela”, diz um homem ainda não identificado. Após o episódio, Yasmin passou a receber em suas redes digitais centenas de mensagens ofensivas e com discursos de ódio.

Questionamento aos bloqueios

“Tudo isso porque eu questionei a prefeitura sobre os prejuízos causados em razão do bloqueio de duas avenidas muito importantes em nossa cidade. Desde que este ato começou, os prejuízos comerciais têm sido enormes. Sem falar do transtorno para milhares de trabalhadores que dependem do transporte público. A população em geral precisa ter assegurado seu direito de ir e vir. Enquanto vereadora, eu apenas perguntei o que a prefeitura e demais órgãos componentes estariam fazendo a este respeito”, explica.

Formada em Direito pela Unioeste, a vereadora conta que a recente ameaça de morte apenas agravou a sensação de insegurança que já predominava em seu mandato. “Me sinto ameaçada, principalmente, porque aqui nesta Câmara Municipal não tem segurança alguma. Para entrar aqui não tem detector de metais, não tem identificação. A gente enquanto parlamentar não tem segurança. Me sinto insegura e já demonstrei isso ao presidente desta Casa. Já oficiamos, pedimos, requeremos. Espero que algo seja feito”, reforçou Hachem.

A parlamentar revela que após o assassinato do guarda municipal petista Marcelo Arruda, morto a tiros por um bolsonarista no último dia 9 de julho, intensificou a cobrança por mais segurança no Legislativo. “Inclusive, o presidente Ney Patrício respondeu a esta demanda criando um cargo para cuidar da segurança física e digital. Este cargo ainda não foi ocupado e espero que a Câmara garanta nossa segurança, afinal, aqui é um lugar de debate de ideias. Atualmente as pessoas que debatem ideias estão sendo mortas ou ameaçadas”, criticou.

Rachadinha

Em outro trecho da filmagem que gravou a convocação feita por João Bosco para atacar a vereadora Yasmin Hachem, o bolsonarista fez um trocadilho infame em que buscou associar o sobrenome “Hachem” à palavra “rachadinha”, crime caracterizado pela transferência de salários de assessores para agentes públicos.

“O nome dela até lembra uma coisa. Hachem. Recentemente votaram sobre rachadinha. Como será que foi o voto? Será que rimou com o nome dela? Gravem o nome de quem quer nos censurar. Gravem esse nome. Yasmin Hachem”, ironizou ao repetir o comando de ataque à parlamentar..

Palco recorrente de ações tocadas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), a atual legislatura da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu acumula suspeitas de corrupção. Dos três processos de cassação denunciados na atual legislatura por crimes de rachadinha, contratação de funcionário fantasma e improbidade administrativa, em nenhum Yasmin figurou como denunciada, e, em todos votou favoravelmente às investigações.

Isolamento

Isolada politicamente dentro do Legislativo local, Yasmin Hachem destaca a importância da sociedade em cobrar institucionalmente a posição dos órgãos responsáveis sobre a liberação das vias na cidade. “Porque, infelizmente, uma única vereadora nesta Casa de Leis não tem força. À instituição da Câmara, da Prefeitura, queremos nos sentir seguros neste momento. Queremos defender nossas ideias e poder andar na rua com segurança”, finaliza.

Adesão ao golpismo

Na última segunda-feira (7), passados três dias desde que à ameaça de morte contra a vereadora Yasmin Hachem se tornou pública, o Legislativo emitiu a seguinte nota:

“A Câmara Municipal de Foz do Iguaçu repudia veemente as ameaças de morte, ofensas e insinuações sofridas, nos últimos dias, pela vereadora Yasmin Hachem, nas redes sociais. A Casa de Lei considera inadmissível que mensagens de ódio sejam propagadas, atentando contra a integridade dos cidadãos ou dos parlamentares eleitos democraticamente. O Legislativo ressalta ainda que confia na Justiça para apurar o caso.

Em sessão ordinária com duração de uma 1h27 minutos, a ameaça de morte contra a vereadora foi comentada em plenário por apenas 4 dos 14 vereadores presentes. Dos 39 minutos dedicados a manifestações públicas sobre ato golpista em curso na cidade, mensagens de apoio e solidariedade à vítima não ultrapassaram os dois minutos. O resto do tempo foi destacado para declarações de apoio e exortações ao golpismo em Foz do Iguaçu.

Ao comentar o ataque, o presidente da Casa, Ney Patrício, relativizou a motivação do crime. “Eu até entendo que quem o fez, mais de um, fizeram dentro de algum algum contexto e que não mediram as palavras de ofensa. E, nesse caso, a nossa vereadora também merece atenção. Porque não é justo, não é legal, não é urbano”, afirmou. Em seguida, ao concluir, indicou sua proximidade com o grupo que ameaçou a vereadora. “Então, nós respeitamos os pensamentos de todos, menos os ataques pessoais, ou ameaças. Espero que as autoridades apurem de fato. Eu tenho uma conversa lá, com um deles, Yasmin, para depois a gente conversar sobre isso tá bom. Fica registrado”, informou.

O final da sessão foi marcado por mensagens institucionais de apoio ao movimento ilegal que ocupa parte do centro da cidade. “Quero falar em relação a nossa cidade de. Momento bastante conturbado. Eu fui bastante questionado, pessoal nos perguntando em relação ao manifesto. Eu chamo de atos democráticos”, resumiu o vereador Cabo Cassol ao não se solidarizar com a colega ameaçada.

Câmara prevê medidas

Procurada pela reportagem para comentar a sensação de insegurança apontada pela vereadora Yasmin Hachem durante o exercício do seu mandato na Câmara Municipal, a Casa de Leis se manifestou por meio de sua assessoria de comunicação.

De acordo com nota encaminhada, a solicitação criação de um novo cargo para cuidar da segurança física e digital “partiu de alguns vereadores nesta legislatura, antes mesmo dos episódios citados, como uma maneira de proteger todos que estejam no legislativo, principalmente a população que participa das sessões, eventos ou visita o local”.

A assessoria disse ainda que “estão programadas uma série de medidas para garantir a segurança digital e física, entre elas o aperfeiçoamento do acesso, com a instalação de equipamentos. Isso consta no planejamento orçamentário com a compra através de processos administrativos dentro da legislação vigente”. O cronograma para início e conclusão destas ações não foi compartilhado.

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1 comentário em “Vereadora sofre ameaça de morte por pedir liberação de vias em Foz do Iguaçu”

  1. Yasmin Hachem do MDB15.
    Nenhuma violência política deve ser tolerável. As ameaças contra essa vereadora não devem ser ignoradas.
    Me lembrou de quando a vereadora evangélica, Noemia Rocha, do MDB15 Curitiba, obedeceu as ordens do Oswaldo Eustàquio – aquele que cometeu atentado contra o STF em Setembro 2021 – e votou pela cassação racista do vereador preto Renato Freitas em 2022.
    Renato Freitas recebia várias ameaças de morte diariamente, e muitas mensagens racistas – várias delas de seus próprios colegas e da mídia. O pessoal “de bem” não tava nem aí.
    Se o MDB15 fosse uma pessoa, eu diria “quem dorme com o Satanás, não acorda dentre os anjos”.

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