Conselheira que gritou “Lula Livre” perde o cargo novamente

Cai liminar que permitiu posse de Rosana Kloester após cassação baseada em vídeo privado

“Eu saio com a cabeça erguida, sabendo que estou sendo injustiçada”, diz Rosana Kloester, prestes a deixar o Conselho Tutelar depois de apenas nove meses de mandato. Ela foi eleita democraticamente em 2019, mas o vazamento de um vídeo privado – dela e da colega Aline Castro gritando “Lula livre” na comemoração – transformou o exercício de ambas em um enorme desafio. No Ministério Público do Paraná, o comportamento delas chegou a ser descrito como “belicoso” e foi preciso lutar pelos cargos na Justiça. Hoje, porém, Rosana teve uma derrota importante: caiu a liminar que permitiu que ela tomasse posse.

Pessoas que eram contrárias ao meu exercício no cargo não gostariam que eu estivesse saindo. Tenho certeza de que dei o meu melhor; lembrar dos atendimentos que fiz não tem preço. E também não tem dinheiro que pague o que ouvi hoje de gente que detesta o PT, mas tem ética e reconhece o meu trabalho”, desabafa a conselheira. Ela ainda aguarda o comunicado oficial da Prefeitura de Curitiba para deixar o posto, no Boa Vista, mas adianta que vai seguir na luta para terminar o mandato, apesar do cansaço e de saber que “a politicagem” não quer que ela permaneça.

“Existe um grupo que não quer que estejamos lá. Isso ficou evidente desde o primeiro momento, mas, vivenciando o Conselho Tutelar, ficou muito mais exposto. É um jogo de interesses. Não estou generalizando, existem conselheiros competentes, mas é perceptível que a política partidária está lá dentro”, lamenta. “Eu fui eleita porque tenho uma história na defesa da Infância e da Juventude, mas a partir do momento que expus uma posição política, por mais que fosse um direito fundamental meu, e esse partido não tenha me apoiado ou colocado lá dentro, incomodei muita gente.” 

Quase um ano depois, ela diz que vê muitas falhas no órgão e gostaria de trabalhar para corrigi-las. “Foi difícil. Tive muitas divergências de ideias e procedimentos. Com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, foi preciso revogar o Código de Menores que existia antigamente, mas infelizmente o Conselho ainda é muito punitivo. Confesso que não conhecia muito os fluxos antes de entrar, apesar da minha experiência. A minha percepção, hoje, é de que muita coisa tem que mudar. A minha luta em prol da Infância e Juventude continua, não importa o cargo.”

A queda da liminar

“A gente recebeu a decisão com natural surpresa. Estávamos esperançosos”, fala o advogado da conselheira, Felipe Lopes. Ele explica que Rosana exercia o mandato por meio de uma liminar, concedida em um agravo de instrumento, ou seja, um recurso interposto contra a decisão da juíza Patrícia Bergonsi, que indeferiu o pedido liminar no mandado de segurança impetrado em 2020.

O recurso ficou vinculado ao desembargador Luiz Taro Oyama que, na visão de Lopes, ‘“mexeu na ferida” em sua decisão liminar. Na ocasião, segundo o advogado, ele disse: “Em cognição sumária e inicial, está presente o fumus boni iuris no que se refere tão somente à idoneidade moral para o cargo de conselheiro tutelar, que deve ser aquela considerada grave e não apenas posicionamento político acerca de determinado partido ou candidato.”

Já na decisão definitiva do agravo, documento ao qual o Plural teve acesso, o desembargador argumenta que o judiciário não reexamina decisão de mérito tomada pelo poder administrativo. “Ele diz que o conceito de idoneidade é extremamente amplo. Então quem vai aplicar tem um cheque em branco nas mãos, porque a lei é subjetiva?”, questiona o advogado. “Ao contrário, precisaria ter muita responsabilidade. Tinha que pesar contra ela uma acusação de maus tratos contra uma criança, já que o cargo é de conselheira, mas ela falou um palavrão, manifestou posicionamento político e esbravejou.”

Agora, o profissional vai estudar os recursos disponíveis contra a decisão, mas adianta que a situação de Rosana ficou bastante complicada. “A reversão dessa decisão seria só no Supremo Tribunal de Justiça ou no Supremo Tribunal Federal”, avalia.

O caso de Aline ainda não foi julgado, mas deve seguir o mesmo destino. “São processos distintos, mas elas estão sendo punidas por algo que praticaram em conjunto, então eu não vejo muita saída.”

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10 comentários em “Conselheira que gritou “Lula Livre” perde o cargo novamente”

  1. Espero que chegue ao Supremo, essa decisão é um desrespeito ao processo democrático de eleição dessa conselheira. Opinião política sendo punida? Inaceitável!

  2. Em terra de moro,dalagnol e fachin, pela ordem e em minuisculo pela relevancia das pessoas cidatadas, não é de se estranhar tais atitudes perversas em nome de suas podres e pobres almas. O tempo vai passar, mas ficará registrado na historia oq esses senhores acompanhados de uma corja de moleques do MP fizeram, e claro, vai ficar manchado o nome do estado do Paraná.

  3. O Brasil é um miséria, em todos os aspectos. Instituições frágeis, atrasadas.
    Nosso judiciário é uma vergonha, todo o sistema contaminado por uma elite antidemocrática e feudal.
    Estamos vivenciando a exposição clara de como atuam esses “juízes”.
    Triste país! Miserável.

  4. Essa juíza pertence a um grupo grande do poder judiciário com pensamento patriarcal, preconceituoso e eletista. Um absurdo essa decisão. Pune-se a conselheira tutelar pelo posicionamento político e aceita-se situações vergonhosas de ex juízes que afundaram nosso pais. Toda nossa solidariedade à Rosana!

  5. Primeiro Lula Livre não é crime… Segundo um video ainda que privado. Terceiro tem que enfatizar que essa Juíza é anti professor ou anti movimento social, foi ela que claramente e cabalmente quase que condenou os professores pela violência sofrida em 29 de Abril.

  6. Se ela, gritando “Lula Luvre”, caiu, o que deveria ser feito com ex-juiz de primeira instância, limitadíssimo, e seus asseclas, cachorrinhos que atendiam a seus pedidos, dizendo e fazendo o que faziam???

  7. Tania Maria Luvizao

    Mas é muita hipocrisia desta chamada “justiça” e, deste sistema perverso e moralista , que vigora nas gestões quando certos candidatos estão no poder dos três níveis de governo. Agem de forma punitiva, SIM. Cadê nossa CONSTITUIÇÃO Federal? Dos direitos coletivos e individuais? Isto é vergonhoso, chega a ser repugnante como funciona quem faz parte deste sistema atual, por dentro de suas entranhas comungadas. Ridículo e repulsivo.

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