Eleições 2022: Um voto faz diferença?

Confira as principais disputas no estado em que a diferença entre ser eleito ou não dependeu de poucos votos

É um princípio básico da democracia e do processo eleitoral que todo cidadão/cidadã tem direito a um voto. E esse voto tem igual valor para todo mundo. Ou seja, do baixo ao alto, do magro ao gordo, do pobre ao rico, índios, negros, pardos e brancos têm exatamente o mesmo voto. Mas será que num país com 200 milhões de habitantes (dos quais 157 milhões são eleitores aptos a votar) um único voto pode fazer a diferença?

O Plural analisou as eleições realizadas no Paraná desde 2012. Com 8,5 milhões de eleitores aptos, o Paraná tem 4,3 mil cargos eletivos que são: 399 prefeituras, 3869 vereadores, 54 deputados estaduais, 30 deputados federais, 3 senadores e o governador(a) do estado. Há também 413 vagas de Conselheiros Tutelares que também são escolhidos pelo voto, porém nessa eleição o voto é facultativo (ou seja, não é obrigatório).

Os resultados das eleições analisados pelo Plural mostram que há uma tendência de disputas com eleitorado menor terem mais disputas por uma pequena quantidade de votos. Isso potencializa o peso dos votos na disputa. Nas eleições desse ano, os cenários com maior disputa e menor eleitorado no Paraná são a Assembleia Legislativa e as 30 vagas do Paraná na Câmara Federal.

Muito embora a perda de uma eleição por um voto seja rara, os casos em que a diferença entre a eleição e a derrota é menor que 1% dos votos válidos são frequentes nas disputas pelo parlamento. Aconteceu em diversas Câmaras pelo estado em 2020, inclusive em Curitiba, onde a diferença entre entre a eleição do vereador Sidnei Toaldo (Patriota) e o suplente, Geovane Fernandes (Patriota) foi de 33 votos.

Um voto, cem votos, mil votos

Nas eleições paranaenses desde 2014, um exemplo de disputa acirrada aconteceu na Câmara de Altamira do Paraná, quando dois candidatos do Cidadania tiveram a mesma votação e a escolha do eleito se deu pelo critério de desempate. Por isso Sergio Boiadeiro ficou com a vaga e Adrielson ficou com a suplência. O município tinha 2,8 mil eleitores válidos.

No município paranaense de Loanda em 2020 a diferença entre o prefeito eleito – José Maria Pereira Fernandes (PROS) e o segundo colocado – João Nicolau dos Santos (Solidariedade), foi de apenas 22 votos. Loanda tinha, na ocasião, 11,4 mil eleitores aptos, dos quais 11,4 mil votaram efetivamente.

Em Sertanópolis a diferença entre a prefeita eleita, Ana Ruth (PSB) e o segundo colocado, Edson Filho (PTB) foi ainda menor: 12 votos. A cidade tinha 9,8 mil eleitores aptos naquele ano.

Em outra eleição em que o total de votos válidos é baixo, um único voto separou as candidatas eleitas em 4º e 5º lugares e a segunda e terceira suplentes no Conselho Tutelar de Santa Felicidade. Dannyelle Maria Rodrigues e Maria Luiza Dalla Stella foram eleitas com um voto de diferença: 144 e 143 respectivamente. Regina Salete Lopes e Maria Bernadete Strapasson foram eleitas 2a. e 3a. suplentes. Na eleição para o Conselho Tutelar, os suplentes assumem o cargo quando a titular tira férias ou licença.

A eleição para o Conselho Tutelar em Curitiba em 2019 registrou 27 mil votos. Os eleitos assumem o papel de representar os interesses de cerca de 450 mil crianças e adolescentes de zero a 21 anos da cidade e foi, em 2019, cenário de uma intensa disputa entre candidatos progressistas e evangélicos. Depois de um processo eletivo conturbado e cheio de falhas, a eleição terminou com vários candidatos cassados, inclusive duas conselheiras tutelares eleitas na regional Boa Vista por terem dito “Lula Livre” num vídeo pessoal vazado por um site de extrema direita.

Eleição para deputado estadual

A briga por uma vaga na Assembleia registrou sua menor diferença de votos no Paraná em 2014. Foi quando uma diferença de apenas 10 votos elegeu Luiz Carlos Martins (PSD) deputado estadual, mas deixou Rubens Recalcatti de fora como primeiro suplente.

Na eleição para deputado estadual em 2018, a disputa foi intensa não só entre as coligações. Alguns partidos usaram puxadores de votos para garantir uma bancada robusta, o que deixou os candidatos menores levados pelos votos do líder disputando um espaço na Assembleia por uma pequena margem de votos. Foi o caso da coligação PP / PTB / DEM / PSDB / PSB, liderada pelos deputados Alexandre Cury (PSB), Thiago Amaral (PSB) e Romanelli (PSB).

A coligação emplacou 15 vagas na Assembleia. A diferença entre o último eleito, Elio Rusch (DEM) e o primeiro suplente, Evandro Junior (PSDB), foi de 801 votos. Já a diferença entre o primeiro e o segundo suplente, o vereador em Curitiba Pier (PTB), foi de 42 votos.

No PSL (atual União), o Delegado Francischini fez 427 mil votos e com isso levou outros sete candidatos para a Assembleia. O grupo acabou tendo os cargos cassados porque o partido foi condenado por fraudar a cota para mulheres (30%). Mas mesmo assim os eleitos ficaram quase 3 anos na Casa.

O grupo teve dois candidatos com votação próxima: a diferença entre Do Carmo (que tenta se reeleger) e Emerson Bacil foi de 69 votos. Ambos se elegeram (e depois perderam o cargo). Entre os suplentes, a diferença entre o segundo (Felipe Juliani) e o terceiro (Coronel Nerino) foi de 31 votos.

Este ano, as novas regras eleitorais estipulam uma cláusula de desempenho individual que veta a eleição de candidatos que puderem ser eleitos por quociente eleitoral, mas tiveram um total de votos inferior a 10% do quociente eleitoral. Se a regra estivesse em vigor, sete suplentes eleitos em 2018 não poderiam assumir.

Na disputa entre partidos e coligações, a diferença entre uma vaga a mais ou a menos na Assembleia pode ser muito pequena. Para a coligação PROS/PMB/PMN faltaram 1.956 votos para garantir uma terceira vaga. Já o PDT/SOLIDARIEDADE/PC do B conseguiu uma segunda vaga na Casa por 3821 votos acima do quociente eleitoral. O PRTB/PRP ficou só com uma vaga por causa da falta de 20.643 votos.

Na disputa desse ano, os partidos com menor votação para o parlamento vão precisar de todos os votos possíveis para garantir uma, ou talvez duas vagas na Assembleia. Como complicador, a eleição para a assembleia tem maior percentual de votos inválidos. Em 2018, dos 8 milhões de eleitores só 5,3 milhões registraram votos válidos para a Casa.

Disputa na Câmara Federal

Com um quociente eleitoral de 190 mil votos, a disputa pelas 30 vagas do Paraná na Câmara Federal é cheia de números grandes. Mas algumas disputas ficaram na casa das dezenas de votos. Em 2018, a coligação PP / PTB / DEM / PMN / PMB / PSB / PSDB / PROS conseguiu 8 vagas, a última das quais foi para Toninho Wandscheer (PROS) e deixou como primeiro suplente Rossoni (PSDB) por causa de uma diferença de 379 votos.

Naquele ano a disputa foi mais acirrada que em 2014, quando o embate mais sério ficou na casa dos 765 votos, uma diferença que garantiu uma vaga para Alfredo Kaefer (PSDB), mas deixou Osmar Bertoldi (DEM) como suplente.

Entre as coligações, uma diferença de 23 mil votos garantiu 1, mas não a segunda vaga para o PSB na Câmara em 2014. Em 2018, a diferença entre ter 6 ou 7 vagas para a coligação PP / PTB / DEM / PMN / PMB / PSB / PSDB / PROS foi de 6368 votos. E para o PSD / PSC / PR / PPS / PODE – que conseguiu 8 vagas – a diferença que garantiria a nona vaga foi de 1.045 votos.

Prefeitura de Curitiba

Muito embora a disputa pela prefeitura da capital do Paraná não tenha dependido de apenas um único voto nos últimos 12 anos, em 2012 a cidade presenciou um embate com margens bastante pequenas para a escala da eleição para prefeito. Estavam na disputa o atual governador do Paraná, Ratinho Junior (PSC), os ex-prefeitos Luciano Ducci (PSB) e Rafael Greca (PMDB) e o então deputado federal Gustavo Fruet (PDT).

De forma surpreendente na época, o primeiro turno terminou com Ratinho Junior (PSC) em primeiro lugar com 332 mil votos. Na disputa pelo segundo lugar e, portanto, uma chance de disputar a prefeitura no segundo turno, estavam Fruet e Ducci, o que deixou as horas após o encerramento da votação e de realização da contagem emocionantes. A diferença entre Fruet e Ducci acabou sendo de meros 4,4 mil votos, menos de 1% do eleitorado apto na época.

Quem acabou indo para o segundo turno com Ratinho foi Fruet, que também de forma surpreendente rompeu com a tradição e conseguiu vencer o segundo turno após não ter ganho o primeiro. A diferença entre Fruet e Ducci no primeiro turno é menor que o total de alunos matriculados no Colégio Estadual do Paraná.

A eleição de 2012 em Curitiba mostra como disputas acirradas aumentam o peso da decisão individual de voto. Este ano, o país vive a expectativa de uma eleição que pode ser decidida ainda no primeiro turno: a da presidência. Mas como as pesquisas de intenção de voto apontam o candidato líder muito próximo dos 50% dos votos válidos, é provável que o resultado e a apuração sejam tão intensos quando daquela vez.

Outra disputa intensa que deve garantir um acompanhamento voto a voto até o resultado é para a vaga no Senado do Paraná. Com três candidatos na disputa – Alvaro Dias (PODE), Moro (União) e Paulo Martins (PSD) – é provável que a diferença entre o eleito e os demais não seja significativa, obrigando o eleitor e os candidatos a aguardar que a apuração chegue a um percentual próximo de 100% para que seja declarado o vencedor.

A situação é bem diferente a última eleição de Alvaro para o Senado, em 2014, quando ele teve 4,1 milhões de votos (77% dos votos válidos) e nenhum dos demais candidatos chegou a um milhão. Este ano, as pesquisas de intenção de voto apontam para uma noite de muita ansiedade para os três principais candidatos e o eleitorado em geral.

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