Na poesia, “há sempre uma negociação entre a razão e os afetos”, diz Leprevost

Escritor, que entra para a Academia Paranaense de Letras neste fim de semana, fala sobre poesia, influências e o livro "Tudo urge no meu estar tranquilo"

Neste sábado (29), o escritor Luiz Felipe Leprevost – que é também diretor da Biblioteca Pública do Paraná – assume a cadeira número 17 da Academia Paranaense de Letras. Como autor, ele acaba de lançar uma nova edição de “Tudo urge no meu estar tranquilo”, livro de poesia publicado originalmente seis anos atrás. 

Agora, “Tudo urge no meu estar tranquilo” sai pela curitibana Arte e Letra, casa pela qual Leprevost publicou um total de seis livros – três de prosa e três de poesia. 

Na entrevista a seguir, Leprevost fala do livro, de influências e, claro, de poesia. “Me parece que não há exatamente como entender a poesia, ou melhor, há sempre uma negociação entre a razão e os afetos”, diz o escritor.

Luiz Felipe Leprevost

Sem se preocupar em dar uma sinopse, você diria que seu livro “Tudo urge no meu estar tranquilo” é sobre o quê?
O livro é dividido em três partes. A primeira, “Tudo urge no meu estar tranquilo”, traz temáticas variadas e se relaciona com a minha mudança, em 2016, para o Rio. Doze anos antes eu tinha morado uma primeira vez na Cidade Maravilhosa. Naquela época, havia um caráter festivo, de descobertas, experimentações, boêmia. Dessa segunda vez, vivi um Rio voltado ao trabalho (o que me deu uma outra perspectiva da cidade), aliado a uma necessidade de recolhimento, de auto-cuidado. 

A segunda parte, “Isso sempre me pareceu furioso”, trata do ciclo de um amor perdido e, alguns anos depois, reencontrado. 

A terceira, “Na cidade do século XXI”, é mais política, tenta responder o mal-estar em relação aos caminhos sombrios que o país estava prestes a entrar. Mas não são (espero) poemas panfletários, datados ou endereçados a alguém em específico. 

As influências

Na literatura, quais são suas maiores influências? E como essas obras e autores influenciaram você?
Veio em algum momento a descoberta da biblioteca de meu avô, repleta de obras de referência da história da literatura.

Eu esperava ansiosamente a chegada da Feiras do Livro, na escola. E havia um professor, Sérgio Vicentin, na oitava série, que me marcou sobremaneira. Ele costumava repetir para nós (cito de cabeça): não concordo com nada do que você diz, mas defendo seu direito de dizer. Se bem lembro, a frase era de Karl Marx. 

Ainda no colégio tomei contato com uma antologia de poesia portuguesa chamada de Camões à Pessoa. Este livrinho abriu mundos para mim. 

No segundo grau, aí sim, li “Dom Casmurro” e “Memórias do Subsolo”. Uma primeira consciência a respeito do ofício de escritor foi aparecendo na minha rotina. Mais ou menos nesse período comecei a ler Vinicius de Moraes, que foi deveras generoso comigo, apresentando-me sua numerosa turma, de poetas e cancionistas.

Entre tantos outros, gostaria de citar pontualmente Raduan Nassar, com “Lavoura Arcaica”; João Gilberto Noll, com a “Fúria do Corpo”; as crônicas de Antônio Maria; e Nelson Rodrigues com suas confissões e seu teatro.

Pertinho de casa, jamais poderei esquecer o Manoel Carlos Karam. Antes de tomar conhecimento de seu trabalho, jamais havia conhecido uma literatura tão engenhosa, divertida e original. O Karam é o responsável por eu ter descortinado também a faceta da alegria. Foi um gênio, e ao nosso alcance.

A poesia

Com frequência, escuto pessoas dizerem que não leem poesia porque “não entendem de poesia”. Na sua opinião, o que uma pessoa precisa saber para ler poesia? 
Me parece que não há exatamente como entender a poesia, ou melhor, há sempre uma negociação entre a razão e os afetos. Estamos nos relacionando com a poesia, seja como leitores ou como poetas, quando ela, digamos, acontece na gente: uma reflexão, uma epifania, uma descoberta, uma emoção, um prazer, um modo singular de percebermos o mundo e a nós mesmos na relação com ele. 

De todo modo, ao responder essa pergunta, estamos tentando mais uma vez explicar, justamente com aquilo que nada pode nem (talvez) quer explicar, o quanto que isto que para muitos não vale nada, vale de fato para os seres humanos de qualquer época e de todos os povos. Só quem enxerga esse valor, de algum modo, compreende a razão de existir poesia na vida. 

Ainda: é interessante notar que se tem publicado muita poesia no Brasil. Parece que do ponto de vista do mercado editorial estamos em um momento especial para a produção de poesia. Não me inteirei dos números, mas a quantidade e a qualidade do que se tem publicado, seja por grandes editoras ou pelas independentes, me anima muito.

Livro

“Tudo urge no meu estar tranquilo”, de Luiz Felipe Leprevost. Arte e Letra, R$ 55. Poesia.

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