Graciosa

Leia um conto inédito do escritor Benedito Costa

…e ela observa o chaveiro de pompom de raposa comprado na Sade do Batel balançando na ignição. O vai e vem segue seu pensamento, um sim e não, devo ou não devo, saio ou não saio, vou ou não vou, fico ou parto. Ergue o indicador e o médio até os lábios ressequidos. Dá uma mordidinha na unha natural do indicador pintada de rosa velho pela dona Teresa. Faz isso quando está na dúvida. Não tinha passado batom. Voltaria ao oitavo andar do apartamento da Comendador? Será que tinha batom na praia? Bom: quem olharia para ela, à noite, na estrada? Mesmo que parasse num posto quem olharia para ela? Quem olhava para ela a não ser para ver os grandes seios caídos? A pele flácida do rosto, sulcada, as bochechas despencadas? Quem olharia para sua idade? Esses sessenta anos? O lápis grosso, a voltinha anos 1960 no canto do olho. Um menino riu dela no supermercado – e esse menino lhe parece o mundo, desde sempre, o mundo num largo riso. Os olhos azuis com o contorno preto, caídos para os cantos, dando um ar tristonho, mesmo quando ria. O sutiã apertava. Sentiu calor na garagem escura do edifício Canadá. Sozinha. Ela, Graça, resolveu tirar o sutiã e sentiu os seios enormes roçarem na blusa de seda transpassada, feita pela Iara Saviero. Uma seda tigrada, escolhida por ela mesma numa loja da XV. Iara fez um debrum marrom escuro em torno das duas partes que cruzavam no peito como um quimono. Dependendo do movimento, era possível ver o sutiã ou parte dos seios. Ela gostava disso. Duas joias. A lembrança de algo bom, se é que um dia algum homem teria sido bom. Homens são como café. Uns cheiram couro ou borracha, uns são mais doces, lembrando frutas, outros vão trazer algo acanelado ao paladar, depois cansam. Café, cerveja artesanal, cachaça, tudo enjoa. O amargo, o doce, o ácido, o azedo, tudo pode harmonizar com a bebida certa. Daí, cansa. Uma praia cansa, um vestido cansa, um pau cansa. E, aos sessenta, a companhia de um livro costuma ser melhor. Livros paramos pela metade, quando chegamos à metade. Ou compramos uns tomos que ficam largados empoeirando ao lado do sofá, até que um dia a empregada pergunta se pode guardar, levar para a lixeira ou doar à filha do porteiro. E era bom jogar livros fora, afinal eles não ficariam ali pedindo atenção e tempo. Livrar-se de livros como de homens que queriam seu dinheiro era bom. Sensação de alívio. Mas ela teria esbofeteado aquele pirralho no supermercado, ah, teria, sim. Esbofeteado o mundo, portanto.

Sutiã na bolsa de palha, junto com o vidrinho de álcool com aloe vera, um bronzeador, cada vez mais difícil de achar, um creme Dior para hidratar após o sol, e se ela fosse pela Serra da Graciosa? Estaria aberta de noite? Por que não? Estava calor, uma noite linda, demoraria mais na estrada: seguir de Morretes ao balneário Caravelas era ilógico, mas qual a lógica, a essas alturas, de fazer as coisas correndo? Havia uma noite inteira pela frente, sem nada para fazer aqui ou lá. Teresa ficaria bem, sozinha no apartamento, tinha bastante comida no congelador. Teresa,  como se da família. Abriu a blusa, segurando com a ponta dos dedos o debrum marrom, como quem abre um roupão para cheirar o suor do corpo. Sua mãe dizia que seus seios pareciam as tetas de uma vaca.

Claro que ela tinha dito isso num momento de ódio, com dores profundas que a morfina não dava conta de apaziguar, mas era isso, uma vaca desde a meninice, desde quando os seios apareceram. Se não falava dos seios que ela precisava cortar pela metade como quem corta uma franja da cortina ou bandeirinhas para a festa junina, ela falava dos lábios rachados. Seus lábios grandes tinham umas rachaduras, que foram piorando muito com a idade. Dizia que ela nunca arrumaria um marido e era bom que não arrumasse porque perderia a renda do pai. Aí a mãe morreu e levou junto essas ofensas terríveis e deixou uma renda de uns quinhentos mil reais por ano, mais da metade da tal renda do pai, só paga para filhas solteiras, e o resto de aluguéis de alguns imóveis velhos espalhados pelo Centro de Curitiba, onde funcionavam botecos, pequenos salões de beleza, uma sala de ioga, um pet shop. Dava para viver bem, viajar para a Europa uma vez por ano, ver o Reno ou vitrines francesas, e, afora isso, podia ir a pé ao shopping Crystal e ao Pátio Batel, levando Lourdes, uma maltês douradinha. De vez em quando podia tomar um vinho com as amigas do Sion para desatrelar a língua e curtir internamente o ódio como uma vingança pela vida medíocre que cada uma delas tinha, entre idas e vindas ao e do Curitibano, viagens a Gramado, compras em NY, após se instalarem apertadamente numa quitinete conseguida pelo Airbnb. Ela, solteira, dona do nariz, ouvia as histórias de traições e bancarrotas, veadagem às escondidas e tentativas frustradas de ingresso à maçonaria, plásticas e botox. Ah, as plásticas. Ela nunca tinha feito uma. A mãe dizia que ela tinha que tirar a cara e pôr de volta. Ela nunca fez nada. Podia preencher os lábios para tentar retirar os vincos e as rachaduras, mas e se ficasse pior? Enterrar a mãe foi um pedido à Nossa Senhora das Mercês, que acabou lhe dando essa graça bem antes do que imaginava. Um câncer do tamanho de uma laranja, disse o oncologista Jefferson Mattana. Ela nunca mais comeu laranjas.

Mais ou menos na época da construção do edifício Canadá pelo Elgson Gomes, o pai dela comprou uns terrenos no litoral. Caiobá ainda não era nada, mas ele pensou que queria uma casa mais dentro do nada do que tudo que havia na praia. E Caravelas era o nada: uma rua frente ao mar, uma restinga breve como um espirro, o mar. Construiu uma casa em estilo colonial, com fachada grossa e cinco grandes portas de abertura central. Uma reforma nos anos 1980 retirou as grandes portas já carcomidas e colocou no lugar venezianas que ganharam uma tinta amarela náutica. Impossível passar pela frente e não ver a casa, diferente de tudo o que Caravelas passou a ter: prédios baixos com ondas de pastilhas azuis, casas de dois andares com colunas, muros de vidro, uns condomínios e construções para associações de empresa. Então era ali e não no centro de Caiobá, para onde todas as amigas iam, antes de Guaratuba virar point, que ela tinha passado a infância, a adolescência, a menarca, a fase de sonhar com um homem que a pegasse nos braços na praia vazia, após a restinga, e lhe dissesse que ela seria o amor de sua vida, que seriam felizes para sempre, que formariam uma família, essas fases. Ali, viu os quarenta chegarem como um porre forte, os cinquenta como um bule transparente em que uma flor na água quente abre como a boceta de uma vaca, os sessenta, como o começo do fim de tudo. Foi ali que ela enterrou vários cães e vários gatos e foi ali que viu o declínio do rosto e do corpo, a pele cada vez mais cheia de pintas brancas por excesso de sol, os lábios cada vez mais rachados, os furos da orelha maiores devido ao peso dos brincos, os seios de vaca leiteira cada vez mais próximos do umbigo. Foi ali que logo cedo ela descobriu que nunca fora e nunca seria bonita e que a beleza era sim uma boa moeda de troca. Foi aquele mar que a mãe desejou ver antes de a laranja a levar. Mas era ali que podia ler, dormir numa rede no quintal, masturbar-se sem que Teresa a ouvisse (aliás, Teresa só descia para arrumar a casa muito de vez em quando, sempre que os azulejos brancos do banheiro já pediam uma escova bem dura e água sanitária pura), passar horas fazendo palavras cruzadas do tipo Bronze. Glória era o nome da mãe de Graça. Glória e Graça, mãe e filha. Glória queria morrer naquele arremedo de um casarão colonial, mas morreu no Hospital Pilar. Sem A Gazeta para noticiar, sem flores, sem visitas, sem nada além de trinta e cinco quilos.

A Graciosa de noite. Como poderia haver tanta escuridão no mundo quando o sol se punha? Dona Glória muito mais que provavelmente diria ser um absurdo ir de Curitiba a Morretes e de Morretes a Caravelas. Para quê? Por que fazer uma curva enorme se se poder fazer uma linha reta? Por que ir por uma estrada “sem nada para ver”, “exceto mato”? Para que viajar à noite enfrentando os perigos do mundo? Para que enfrentar os perigos do mundo?

Nos últimos tempos, Dona Glória falava cada vez menos: era um relógio que alguém esqueceu de dar corda, e que foi parando. Até travar. Nos almoços, comia como um passarinho. Tomava água ou um pouco de vinho, terminava antes de todo mundo que estivesse à mesa, e passava a brincar com uma ervilha ou uma rodela de palmito. Entre o indicador dobrado e o polegar, o garfo ia seguindo a ervilha em torno do prato, seu universo particular. Podia ficar horas nesse gesto. A ervilha, de funções mais intrigantes ou mais precisas que a rodela de palmito. O formato cilíndrico ou toroidal do palmito não parecia ser muito bom. Perseguida pelo garfo, a rodela caía volta e meia e isso trazia um enfado profundo. Com a mão esquerda, era necessário erguer a rodela branca como se, no meio de uma batalha, precisasse armar uma catapulta ou uma besta. Parava para dizer coisas fora de contexto como “você é feia”, “maquiagem não te salva”, “dia desses, você vai precisar de um guindaste para te levantar”, “as fábricas vão parar de fazer sutiã do seu número” ou “odeio maçãs”, bem no dia em que a sobremesa feita por Teresa era justamente torta de maçã, que ela comera a vida toda com sorvete ou nata. Quando Teresa saía, ela dizia que não tinha comido isso ou aquilo porque conseguia sentir o cheiro das mãos da empregada. Mas não conseguia sentir o próprio cheiro, acre e ruim. Após sua morte, Graça mandou trocar todos os tecidos possíveis da casa, os carpetes, as camas, até que se sentisse aliviada pelo “seu próprio cheiro”.

Teresa contou a Graça que, enquanto arrumava Glória para dormir ou enquanto a auxiliava no banho diário, quando as cuidadoras não vinham ou estavam de folga, ela dizia coisas como “você não é da família, sua negrinha”, “você sempre morou com a gente de graça”, “você se aproveitou da gente a vida toda”. Obviamente, mas em vão, Graça não economizava esforços para explicar a Teresa que Glória estava doida, que já não dizia coisa com coisa e que a menina trazida de Cornélio Procópio quando tinha oito anos, em 1968, era “da família, sim”. Graça, enquanto manobrava o carro pelas curvas no escuro da Graciosa se perguntava “como podia haver tanta escuridão na alma da alguém?”. Como aquele universo em que uma esfera verde percorria todo um sistema solar – ou um cometa branco de gosto sensível e agradavelmente avinagrado – podia guardar tanto rancor ou mágoa? Essas coisas todas eram o que a mãe pensara a vida toda, com certeza. Verbalizar isso, mesmo na loucura, na demência ou em decisão calculada quando a vida diz adeus não trazia nada de surpreendente. Mas doía. Tanta coisa dói no mundo. Nem precisa nos tocar.

Doutor Mattana olha para Graça e atribui, ao seu gesto, desespero. Ao usar a expressão “do tamanho de uma laranja”, ela teria esboçado um pequeno e enigmático sorriso e balançado a cabeça como quem responde ao cabeleireiro anuindo a “vamos cortar somente as pontinhas, hoje, ok?”. Parecia feliz.

Chegou de madrugada. Céu escuro, com nuvens. Tomou dois comprimidos e dormiu logo. Acordou de uma noite sem sonhos, barulhos de jovens bêbados ao longe, um cão latindo, e logo cedo dois homens conversando sobre a melhor solução para encher uma laje de concreto. Tomou um suco velho que estava na geladeira, mordiscou um queijo de cabra, meio duro, mas ainda saboroso. Oitenta e cinco reais um pedacinho no Mercado Municipal! Guardou o funcho e o rábano, que tinha esquecido no balcão da cozinha, o pão, copos de iogurte, um salame de colônia, desses que se compram na estrada. E saiu passear, andar a esmo na praia de Caravelas. Levou um chapéu velho de palha, uma canga bem grande amarela, com franjas desmilinguidas, chinelos, os cigarros, um isqueiro, dois cremes, a carteira. Antes, trancou a casa e fez o sinal da cruz, desejando que ninguém entrasse. Deveria ter trazido Teresa. Assim, quando voltasse, teria comida pronta, talvez uma moqueca ao modo capixaba. Um dia bom para andar. Sol, mas com momentos de nuvens escuras, esparsas e grossas. Um narrador onisciente diria que o céu não era tão distinto de seu interior.

Foi e voltou, foi e voltou, passou diversas vezes pela casa de janelas amarelas, parou para um sorvete, depois para uma água de coco. O dia passou, ela não deu conta, estava faminta. Precisava de carboidratos e já era quase hora do jantar, de um bonito dia de céu alaranjado lá para o lado da Serra. Cansada, optou para ir de carro. Mesmo que bebesse, seria mais fácil voltar, sem cansar-se.

Deixou o carro a duas quadras do “Rei do Camarão”. Já perto do restaurante, parou para fumar. Tirou da bolsa o maço de San Marino comprado de um amigo policial e acendeu-o com certa facilidade apesar do vento. Teve náuseas. Precisava comer. Jogou com raiva o cigarro aceso no meio da rua. Nesse momento, viu que uma menina vinha pela direita, do outro lado da rua. Era quase um vulto à noite, sob a luz meio baça dos postes da praia. Tirou os óculos de sol e colocou os de grau e teve certeza: uma beldade. Ela andava pela praia como Ana Karenina cruzaria um salão de âmbar, ofuscando as paredes. Passou a observar o corpo em movimento. Mais perto de onde estava pôde –  senão ver – imaginar os seios duros  como pomos, que caberiam numa chávena rasa de chá cada um, escondidos por um lindo biquíni de cortininha, a canga esvoaçante, chinelos. Não dava para ver os chinelos. Mas eram chinelos, certamente. Ela percebeu que a menina tinha hesitado frente a um monte de papelão. Segundos de incerteza. Parou, foi, voltou. Com o chinelo, mexeu no papelão e levou um susto. Parecia que algo se mexia ali. A menina levantou-se, possivelmente recuperada do susto, atravessou a rua, dirigiu-se ao “Rei do Camarão”. Como para não ser vista, olhou para dentro, esticando corpo e pescoço, uma, duas vezes. E só depois, decidiu entrar.

Graça atravessou a rua. Mexeu no monte de papelão. Havia um cachorrinho sarnento, deixado ali para morrer. Enojada, decidiu sair dali o mais depressa possível e ir comer em outro lugar. Não queria encontrar a moça dentro do restaurante. Sentiu-se incomodada. Sentou-se numa cadeira de plástico branco, num boteco qualquer, e pediu batatas fritas e a cerveja mais vagabunda que havia nesse hemisfério.

A menina linda parando frente ao “Rei do Camarão”. Tira do coque um hashi vermelho e sacode o cabelo, que são longos e macios, e caem nas costas. Depois morde o hashi enquanto disciplinada mas blasé faz novo coque, o qual prende com o hashi. A menina nua numa cama, um jovem loiro dominando-a como a uma ninfa, ou um negro musculoso, um velho que lhe enche de presentes, outra moça que lhe morde o mamilo. A menina pedindo para alguém lhe amarrar o biquíni, numa piscina de um rooftop. A menina sentada numa mesa de um restaurante da Praia dos Carneiros, tomando uma bebida azul. A menina segurando a cabeça com a mão esquerda numa pintura super-realista. A menina com dificuldade para arrumar o fecho do brinco, num vídeo caseiro. A menina dormindo num edredom chinês amarelo de plumas de ganso. A menina no “Rei do Camarão” e alguém se esgueirando como um cachorrinho para lamber a perna dela. A menina como um borrão de tinta que se espalha num papel, formando figuras de Rorschach.

 – Senhora, vamos fechar o bar!

Bem; a menina era linda. Inegavelmente linda. Mas envelheceria. Aproxima-se do carro e arranca um santinho de Ruy Hauer do para-brisa. Os peitos durinhos virariam passas com o tempo. Apertou o chaveiro e escutou o clique-clique de destravamento do carro. Ela seria enganada pelos homens. Nem mesmo as mulheres mais lindas do planeta estão imunes à traição.  Estava ligeiramente bêbada. Precisava se alimentar melhor. Sentou-se e arrumou a bolsa do banco do passageiro. Todo mundo cresce, envelhece, morre. Como podia haver tanta beleza numa pessoa só? Girou a chave com o chaveiro de pompom de pele de raposa. Ela ganharia estrias e rugas. Poderia ser abandonada no altar ou encontrar o marido comendo a prima em plena festa de casamento. Podia ter um câncer do tamanho de uma laranja. Quem sabe morreria jovem num acidente na estrada, num barco ou numa montanha do Nepal. Deu ré e voltou e se ajeitou para ir embora pela PR-412: precisava chegar logo em casa, tomar algo e dormir.  Ou talvez continuasse bonita e linda, mas infeliz, sem saber onde pôr a beleza, que não é um colar de diamantes que se tira e coloca num cofre. A beleza dorme e acorda com você, lembrando que as pessoas lhe dirão “nossa como você é bonita”, antes de elogiar a inteligência ou o caráter. A beleza não é o inverso da fealdade: é o mesmo carma. Estrada vazia, chegou em casa rápido. Se ela fosse pobre, iam se aproveitar dela, bem feito! Fosse rica, faria um casamento de aparências no Graciosa. Mas o que fazia uma menina linda como ela ali, em Caiobá, numa noite sem graça de um dia desarmonioso? Seria inveja o que sentia? Não! Definitivamente, não. Um senso de justiça, de harmonia das coisas do mundo. Que ela morresse logo. Assim, ficaria na memória como aquela que tinha “toda uma vida pela frente”! Como as pessoas são hipócritas! Afinal a carcaça que carregamos é um túmulo. E o que importa são a nudez primeira e a última. Tomou dois remédios. Outra noite sem sonhos.

Fazia tempo não se viam tantas cabeças coroadas num velório. Antigas famílias de dinheiro junto com novas: Grecas, Bertoldis, Richas, com Zontas, Madalossos e Durkis. Algumas pessoas acharam estranho quando Reinaldo Bessa foi subindo uma das rampas que leva às câmaras ardentes do cemitério municipal. Estava acompanhado de dois conselheiros áulicos, uma menina gorda e um rapaz com uma câmera antiga, gigante. Ele estava munido de um microfone. Alguns presentes viram quando Arthur Bertoldi fez um sinal negativo com a cabeça em direção a Bessa. Então, ele entregou o microfone à assistente, adentrou à sala, cumprimentou uma dezena de pessoas, deus os pêsames a Graça, ignorou Teresa, e foi embora, decerto crendo que o problema era a escolha da roupa da assistente: um esvoaçante kaftan roxo. Dois dias após o enterro de dona Glória, Graça passou a receber ligações de gente interessada em comprar o apartamento do Canadá. Mandava todo mundo à merda.

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