ASG e trabalho remoto: não adianta torcer o nariz

Apesar das dificuldades em estabelecer limitações para essas agendas, não é possível negar que elas existem e são tendências de mercado e futuro

Escolha o melhor lugar, acomode sua tela, pegue sua bebida de preferência e venha conosco voltar no tempo diretamente para o passado-recente. Há dois anos, quase três, a pandemia da Covid-19 desestabilizou as estruturas sociais e a forma como nós, humanos, enxergamos a vida. Enfrentar o imprevisto é mesmo intenso, quantos de nós ainda nem tivemos tempo de sentar no escuro e chorar. Bem na verdade, hoje, ainda estamos lidando com as sequelas, por isso, rebobinar esse filme pode ser um exercício para entendermos o significado dessa “nova vida”.

Junto com a bolha da crise sanitária, estouraram várias outras, afinal, o planeta está respirando por aparelhos já faz um tempo. O vírus ruiu alguns dos padrões de trabalho, e representou um marco para as organizações que diante do cenário de caos precisaram se reinventar para continuar existindo. E aqui, seguindo o título, vamos destacar dois aspectos do que observamos nesse período: a popularização das práticas ASG (ESG na sigla em inglês) e o trabalho remoto.

Porém, antes de aterrissar no presente, ainda queremos instigar você a retomar aquela sensação dos primeiros meses da pandemia em que falávamos “ah, isso logo vai passar”. Lembrou? Pois bem, voltamos ao hoje, para entender que a corrida desenfreada para resolver os problemas seguiu gerando outros problemas. Isso não é necessariamente uma novidade, a busca por equilíbrio é cíclica. Então, se temos questões a serem resolvidas hoje, amanhã seguirão existindo, e algumas logo vão passar, já outras exigem maior esforço e ultrapassar a necessidade do imediatismo.

Na questão do ASG, o mercado inflou na pandemia correndo atrás de incluir pautas ambientais, sociais e de governança com perspectiva de investimentos, porém as métricas ainda são muito subjetivas, até manipuláveis, e não dão conta de investigar se os fundos estavam sendo corretamente designados à companhias que cumpriam o ASG de ponta a ponta do processo.

Não é novidade que o lucro segue sendo a máxima acima das pessoas e que apenas uma sigla não vai salvar o planeta. Então, deveríamos desistir de aplicá-lo? É tudo uma grande “lavagem verde” (do termo inglês greenwashing)? Parece mais fácil largar os bets do que assumir a responsabilidade de continuar aperfeiçoando o processo.

Depois de quase 20 anos e uma pandemia, desde o surgimento desses pilares, é hora de começar a pensar o Ambiental, Social e Governança para o nosso tempo. As mudanças precisam amadurecer e não mais focar apenas em dar respostas rápidas para gerar lucro.
Humanidade feita de pessoas
Na perspectiva do trabalho remoto, basta acessar o LinkedIn ou ter uma conversa informal com colegas para entender como as empresas estão voltando atrás. Muito embora o assunto divida opiniões, a flexibilização de algumas jornadas pode ser uma vantagem para os colaboradores. Entre encontrar um caminho, testar e remodelar, a voz do mercado determinou: VAMOS VOLTAR 100% DAS ATIVIDADES AO MODELO PRESENCIAL. Mais uma vez, o caminho mais fácil.

Aqui, voltamos ao ASG, pois os investidores, de fato, estão olhando para o aspecto ‘A’ com maior ênfase. Porém, nesta coluna já reforçamos que é um tripé. Empresas são feitas por pessoas e para pessoas e quando deixa-se de considerar a opinião e preferências dos colaboradores, exigindo apenas que ‘vistam a camisa da produtividade’, ocorre o desequilíbrio do ambiente de trabalho, nos transportes e na saúde mental.

Receitas do passado não atenderam as necessidades dos nutrientes no presente. Se evoluímos e precisamos seguir evoluindo, as demandas são outras. Então, no lugar de utilizar o ESG como slogan e focar apenas na questão ambiental, aproveitemos para repassar pelo “S” e “G”, deixando esse tripé resistente.

Outra herança da pandemia é o Layoff, que veio em primeiro plano para evitar demissões em massa, possibilitando que as empresas afastassem seus colaboradores por 1 ou 3 meses, sem demiti-los e com auxílio financeiro. Porém, layoff significa ‘despedir’ e tem popularmente virado justamente símbolo do que na teoria deveria evitar.

Em 2022 já assistimos várias das grandes startups (unicórnios, inclusive) demitindo de 70 a 400 pessoas em um único dia, todas alegando reestruturação. Para logo em seguida, abrir inúmeras vagas e receber novos investimentos. Será que este item não deveria constar nas preocupações Sociais das marcas?

De forma geral, os negócios estão precisando de sustentabilidade para sobreviverem. Isso envolve pensar nas pessoas, projetar futuros e entender os impactos sistêmicos expostos pelo vírus. Os boletos vencem, as pessoas precisam pagar contas, porém nessa balança tá pensando cada vez mais o que realmente está valendo a pena. E as organizações, bem como seus representantes, precisam resgatar a essência do que nos torna humanos.

Ufa, esse papo encerra aqui. Sabemos que foi mais denso, porém as complexidades do mundo pedem essa profundidade. No próximo papo a gente vai conectar essa reflexão com a esfera pública. Quando falamos que precisamos de pessoas e de todos e todas para construir um futuro melhor, não tem como não considerar o aspecto político. Gratidão por nos ler, se fizer sentido compartilhe, e se quiser conversar nos contate!

Esse artigo foi escrito com inspiração nestas leituras:

“The Economist”
Harvard Business Review

Aproveite para reler os artigos sobre ESG já publicados na coluna Tem futuro?:
O E do ESG: uma conversa entre pessoas e não entre marcas
O S do ESG: para além da diversidade
Governança: a base do ESG está no G

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