Sustentabilidade é mudança social, ambiental e econômica. A comunicação é ponte!

A ciência já nos mostrou que sustentar ou suportar determinadas condições vai nos levar ao fim, a cada ano esgotamos mais cedo os recursos naturais disponíveis, estamos em desequilíbrio social e econômico, com mais pessoas abaixo da linha da pobreza

Assim como tem o potencial de aproximar, as palavras encaixotam cenários e por séculos perpetuam um conceito que não acompanha a vanguarda dos movimentos sociais. Essa é a constatação apontada por Marshall Rosenberg, em seu livro Comunicação Não-Violenta. Atualmente vivenciamos essa transição.

Extrapolamos a linguagem, que nem sempre consegue abraçar o todo, para entender que os problemas coexistem e se interrelacionam. Dessa forma, é preciso pensar que habitamos um sistema de seres humanos e não-humanos, para os quais uma transformação no modo de vida ‘centrada no homem’ se torna cada dia mais urgente.

Se a mudança se faz necessária, de fato é preciso transbordar os limites das palavras, para que correram soltas e livres pelo papel ou pela oralidade. Em uma simbiose de áreas, podemos unir a sustentabilidade e a comunicação. Ao analisar seus três eixos: ambiental (ecologia, ecossistemas, planeta, social (pessoas, vida em sociedade, diversidade, idade) e econômico (renda, preços, capital financeiro), é nítido que nossa capacidade cognitiva há tempos não dá conta de absorver a enxurrada de informações que chega e, por isso, precisamos olhar para o que a natureza tem a nos ensinar sobre isso.

O volume de e-mails, mensagens, propagandas, panfletos, revistas, áudios, e todos os aparatos nos quais é possível veicular conteúdos nos direcionam a repetir padrões de consumo que não são saudáveis para nenhum dos três eixos. Sejam supérfluos, itens de necessidade básica, ou até mesmo notícias. Geramos tanto lixo informacional quanto embalagens plásticas.

É bom resgatar que o termo sustentabilidade tem origem no latim e refere-se à ‘habilidade, no sentido de capacidade, de sustentar ou suportar uma ou mais condições, exibida por algo ou alguém’. Aí chegou a hora de se questionar o que mesmo nossa narrativa está sustentando e se não estamos apenas enfeitando discurso para entrar na moda de vestir verde e colecionar selos.

O mergulho começou profundo, perdão. Não teria como ser diferente. Para chegar na ‘sustentabilidade’ o caminho necessita reflexão.

Ponto de virada & mudança

A ciência já nos mostrou que sustentar ou suportar determinadas condições vai nos levar ao fim, a cada ano esgotamos mais cedo os recursos naturais disponíveis, estamos em desequilíbrio social e econômico, com mais pessoas abaixo da linha da pobreza. Então, mudar significa reconhecer que erramos e entender que precisamos de escolhas diferentes.

Naturalmente o ponto de virada vai passar pelo viés da comunicação, que além de ser uma habilidade humana é responsável por traduzir e estabelecer melhor relacionamento entre as pessoas.

É nesse momento que precisamos perceber que a mudança começa do local para o global, que o mundo é um só e o que fazemos em pequenas doses reverbera, sim, em todo o planeta. O Relatório Luz 2021 aponta que o Brasil não apresenta progresso satisfatório em nenhuma das 169 metas dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030, das Nações Unidas. Das 169 metas, 54,4% estão em retrocesso, 16% estagnadas, 12,4% ameaçadas e 7,7% mostram progresso insuficiente.

O texto de abertura do relatório carrega o título “um país em Retrocesso Acelerado”, percebemos aqui nossa falha como nação em todos os pilares, no econômico, social e ambiental: “com mais desmatamento e poluição, mais assassinatos de defensores/as de direitos humanos, mais ameaças a jornalistas, mais violências e mortes de mulheres, pessoas LGBTQIP+, povos indígenas, quilombolas e de pessoas negras; com menor participação social, mais militares em cargos civis e maior criminalização das organizações sociais e sindicais; com menos direitos, mais fome, trabalho infantil e igrejas fundamentalistas pressionando as esferas de decisão, o Brasil retrocede e, em meio a uma emergência sanitária sem precedentes, nega a ciência e suas responsabilidades…”.

Além disso, temos uma economia baseada na agricultura e pecuária, não olhamos com atenção os assuntos climáticos, mesmo com esse índice crescente de poluição e desmatamento. Mantenha no radar esses temas, esta é uma longa conversa para um próximo texto. Entendemos o espaço da Comunicação nesse contexto, como uma atividade necessária para formar, informar e com consciência gerar reflexões que nos auxiliem no ponto de virada.  É a sustentabilidade das ideias, das palavras, dos movimentos que poderão restaurar nossas relações com o ambiente que compartilhamos e fortalecer nossos próprios laços. Para isso é necessário reduzir a quantidade, gerar menos lixo e melhorar a qualidade das nossas comunicações.

Sabemos que ela sozinha não pode mudar o cenário. Porém entendemos que é uma das ferramentas que vai ajudar na criação de estratégias governamentais, trazendo o macro, aproximando as pessoas, contando histórias reais. Ela fará diferença para as marcas e poderá revelar quando a organização está apenas usando o termo como cortina de fumaça, o tão falado greenwashing. Outro ponto relevante é que, por meio da comunicação, podemos ajudar na mobilização de pequenos grupos motivados por um interesse comum de transformação, independente da área. Nem precisa dizer que a mudança é coletiva e que vamos precisar de muito oxigênio. Respira e vamos em frente em colaboração.

Naturalmente o ponto de virada vai passar pelo viés da comunicação, que além de ser uma habilidade humana é responsável por traduzir e estabelecer melhor relacionamento entre as pessoas.

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