O que é ESG nas empresas?

Para não ser apenas um modismo e atender as reais necessidades da sociedade em relação à sustentabilidade e bem-estar, a agenda ESG precisa de reflexão

A diretoria chamou na sala a responsável do departamento de Marketing, do departamento Financeiro e RH para saber qual era a estratégia que a empresa adotaria para lançar seu posicionamento sobre ESG (sigla em inglês para iniciativas nas áreas ambiental, social e governança voltada às empresas). Afinal, a manchete do jornal, o concorrente e as redes sociais já estavam pautando a sigla como a principal tendência para quem quer levar inovação e visão de futuro para o universo corporativo.

Constrangidos e sem respostas, todos começaram uma troca sobre qual seria o slogan, como se posicionar e qual seria a verba para lançar uma campanha sintetizando essas ideias. Depois de algumas horas, o lema ‘Somos diversos, honestos e verdes’ ganhou o aval do diretor, e começaram os disparos de e-mail, convocação da equipe por todos os canais possíveis visando a compra de anúncios, posts e mudança no site da empresa dentro de 24 horas. Assim, mais um tópico da lista de prioridades estava concluído.

Achou engraçado? O riso é livre, pode gargalhar, SIM! Se estiver chorando entenderemos igualmente. Pode apostar que esse cenário aconteceu nos últimos dois anos com maior força no Brasil. Nem uma ou duas vezes e, muito provavelmente, não tenha sido presencial. Segundo o estudo ‘A Evolução do ESG no Brasil’, organizado pelo Pacto Global da ONU e a Stilingue, 84% dos representantes do setor empresarial afirmaram que o interesse por entender mais sobre a agenda e os critérios ESG aumentaram em 2020.

Essa não é uma conversa fácil, porém antes de escolher a campanha e acender as luzes do circo é preciso entender o contexto da empresa e escolher a estratégia da agenda ESG, é preciso estar aberto ao questionamento, com menos respostas padrão e prontas: ‘o que são ações sociais, ambientais e de governança? o que é esg nas empresas? e na empresa em que estou?’

Como tudo começou?

Se tem uma matéria queridinha por aqui, ela é a história, e na atualidade, gostamos de desvendá-la para além dos livros em uma análise social. Afinal, temos os atores principais eleitos e aqueles que nunca são lembrados. Porém, nesse texto aqui retomaremos uma história que nos ajudará a entender os fatos, contexto e motivações do porquê o ESG viralizou, e vamos considerar a perspectiva dominante.

Essa história tem como protagonista o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, que em 2004 após a publicação do termo no documento ‘Who Cares Wins’, elaborado pelo Pacto Global em parceria com o Banco Mundial, instigou 50 CEO’s de grandes instituições financeiras a encontrar maneiras de incorporar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais.

Lançado o desafio foram surgindo as estatísticas que comprovaram que organizações que desenvolviam ações considerando os pilares do ESG recebiam mais investimentos e interesse da sociedade. Segundo apontou um relatório da PwC, quase 60% dos ativos de fundos mútuos estão empregados em organizações que utilizam o ESG.

De acordo com informações do Pacto Global e do levantamento realizado pela Morningstar e pela Capital Reset, no Brasil, fundos ESG captaram R$ 2,5 bilhões em 2020 – mais da metade da captação veio de fundos que tinha sido criados nos últimos 12 meses.

É preciso admitir que existe uma motivação financeira por trás dessa corrida pela sigla e paralelamente há uma questão de sobrevivência, até mesmo porque diante do cenário da crise climática, social e econômica, que também caminham como pilares, existe uma pressão de transformação social. Por isso, a sua resposta para a pergunta ‘o que é o ESG para a minha empresa’ precisa ser dada depois de muita pesquisa externa e interna, mexe com a cultura e valores de todos que compõem a instituição.

Pensar o futuro sem afogar o presente

Depois desse zoom histórico, entendendo o contexto, vamos nos concentrar naquela reflexão do quarto parágrafo. Nesse momento, existe uma real necessidade de falarmos sobre o tema, de levar para a mesa de reunião, porém compreendendo a realidade de que esse é um movimento de plantar o presente e as ações não serão efetivas para colher o futuro se forem apenas slogans.

Falar de ações dentro dos pilares social, ambiental e de governança não é uma responsabilidade do departamento x ou y e vai muito, muito além do relatório ou da campanha para buscar investimentos e garantir o futuro.

É impossível dissociar as preocupações do impacto ambiental das desigualdades sociais, por exemplo, será que as instituições conseguem olhar para esses temas de maneira integrada? Qual plano para desenvolvimento dos trabalhadores em termos de Educação, investimento em futuro para reduzir desigualdade? O ESG precisa de muito trabalho conjunto  para que a roda gire de forma sustentável.

Por isso, não é uma questão para um plano de 24 horas ou uma simples campanha de cultura que refletem na transformação social. O cenário da pandemia mostrou que o rico ficou mais rico, e o pobre mais pobre. As grandes empresas decolaram, e as pequenas e médias seguem necessitando de subsídios governamentais para se manterem em pé. O desafio é: qual o

tempo e recurso para pensar a agenda ESG? Será que a colaboração seria uma solução para esse momento, governo, empresas, sociedade buscando juntos?

Mudar é uma necessidade, mudar leva tempo, precisamos dividir nossos planos em ‘ações emergenciais, ação de médio prazo e de longo prazo’, pois já estamos consumindo mais de um planeta, precisamos agir sem desespero para não atuar apenas no imediatismo.

Existem horizontes que estão sendo semeados e deixamos aqui como lampejos que podem ajudar nessa reflexão. São as cinco iniciativas ESG mais identificadas atualmente nas empresas participantes da Rede Brasil do Pacto Global:

  1. Criação de mecanismos internos de compliance e governança que inibam práticas desleais dentro das empresas (79%).
  2. Gestão de resíduos (reciclagem e reaproveitamento de insumos) (76%).
  3. Criação de comitês e instâncias de governança que contribuam para integridade da organização (68%).
  4. Apoio emergencial à Covid-19 (61%).
  5. Apoio às comunidades do entorno (60%)

Esse papo não poderia acabar aqui e assim, então continuamos desse ponto no próximo texto dia 24/05, aproveite para começar a sua reflexão individual sobre os três pilares.

Até já!

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