O S do ESG: para além da diversidade

Um diálogo sobre os desafios relacionais e estruturais que precisam ser contemplados na reflexão das ações de impacto social nas empresas

Seguimos a trilha para explicar O que é ESG nas empresas?, agora com uma abordagem sobre o ‘S’ – social. A segunda letra da sigla está relacionada às ações sociais adotadas pelas empresas. Essas práticas devem envolver, segundo os princípios do Pacto Global da ONU, questões como respeito e apoio aos direitos humanos, asseguridade da não participação da empresa na violação dos direitos humanos, apoio a liberdade de associação e reconhecimento do direito à negociação coletiva, a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório, erradicação das formas de trabalho infantil na cadeia produtiva e o estimulo às práticas que eliminem qualquer tipo de discriminação no emprego.

Importante destacar que o ‘S’ do tripé ESG não caminha sozinho e se une diretamente aos princípios do ‘E’. Embora a primeira sigla seja relacionada à sustentabilidade ambiental, convidamos você para uma breve reflexão, ponderando sobre: como é possível equilibrar e promover um mundo ambientalmente melhor se não considerarmos a diversidade de seus habitantes, bem como seus direitos enquanto indivíduos e cidadãos?

No ‘S’ o debate se volta, principalmente, para as relações, a interação e as pessoas dentro do universo corporativo e no seu entorno. Existe uma necessidade latente da sociedade em resolver problemas estruturais como a equidade racial e de gênero e que permeiam as atividades laborais. Em 2020, mais de 6,4 milhões de pessoas negras saíram da força de trabalho entre o 1º e 2º trimestre. O dado é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que apontou os impactos da pandemia para a população brasileira, sendo que o número de pessoas brancas nessa mesma condição chegou a 2,4 milhões.

Olhar corporativo do ‘S’

Os dados chocam e podem até paralisar, porém é importante destacar que superar as desigualdades e assegurar os direitos exigem um esforço coletivo da sociedade junto às instituições públicas e privadas. Entendendo as divergências estruturais de acesso à educação, moradia, alimentação, as quais estão submetidos em grande maioria e, em condições de vulnerabilidade social,  negros, negras, mulheres, neurodivergentes, pessoas com deficiência e LGBTQIAPN+, fica evidente a necessidade de repensar as organizações contemplando a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho.

Vagas direcionadas e processos de inclusão são formas de atrair, porém conjuntamente, é preciso preparar o ambiente para acolher essas pessoas, bem como dar condições de desenvolvimento. Nesse processo é fundamental tomar conhecimento cultural e até mesmo geográfico sobre as condições de vida de cada um e uma, a fim de compreender como essa jornada de trabalho pode se tornar virtuosa e confortável. Não basta ampliar percentuais de diversidade se não existe uma reflexão e uma preparação da empresa que envolve, inclusive, as pessoas que já compõem o ambiente. Precisa haver uma sinergia entre as pessoas que impulsionam os negócios a alcançarem suas metas, portanto é necessário oferecer condições, não com diferença e sim com equidade para uma real transformação.

Um primeiro passo dentro de qualquer iniciativa ESG é a empresa mapear sua atuação para depois propor soluções. Sair lançando vagas inclusivas sem pensar na estruturação e plano de carreira não sustenta a condição de equidade dentro das corporações. Sem contar que um ambiente saudável e que tenha uma excelente prática social precisa abarcar a saúde mental dos colaboradores.  Afinal, o ESG não é apenas um conjunto de ações para preencher relatório e atrair investidores. Essa é uma real necessidade, que expande os limites das paredes dos escritórios para encontrar as fronteiras da vizinhança das empresas, bem como, os fornecedores que ajudam a construir os negócios.

Como você pode olhar o social das empresas

Se podemos chamar o ‘S’ de sustentabilidade social, devemos lembrar que para ser sustentável existem vários elos de sustentação. Internamente a empresa precisa nutrir o respeito e direito dos colaboradores. Já externamente tem vínculo direto com a comunidade na qual está inserida, bem como com aqueles com quem gera conexões profissionais. Fechando a cadeia, está quem consome. Nenhum movimento ocorre de forma individual.

Quando você opta por comprar algo pode somar o valor de cultura da marca. Diante de um mundo interconectado digitalmente, uma pesquisa pode ser suficiente para compreender as ações sociais realizadas pelas empresas ou suas eventuais falhas, seja na perspectiva interna ou externa. Além disso, órgãos como os Procons municipais recebem notificações online ou em seus postos de atendimentos, que contemplam além reclamações pertinentes ao produto, denúncias de discriminação no atendimento e, no caso de lojistas, do tratamento dos clientes. Outra opção é o site Consumidor.gov.br que gerencia as relações entre consumidores, fornecedores e o Estado.

O respeito à vida e aos direitos, bem como o cumprimento deles, passa por todas e todos.

Para complementar essa reflexão circular indicamos: Mano a Mano recebe Sueli Carneiro e o trabalho do Instituto Aurora.

Fez sentido para você? Sente dúvidas e gostaria de compartilhar? Deixe seu comentário. Daqui a 15 dias fecharemos o debate com uma abordagem sobre o G – Governança.

Nos vemos em breve!

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