A Lista de Schindler, o mundo da lua e as demissões da Universidade Positivo

Sim, caro reitor, muitos de nós professores nos dedicamos apenas à vida acadêmica

A Lista de Schindler, de Steven Spielberg, foi um marco na história do cinema. Do mesmo modo, a citação do filme vai ficar marcada na memória de professores, coordenadores e funcionários administrativos da Universidade Positivo.

Quem mencionou a história foi Carlos Fernando de Araújo Jr, pró-reitor de EaD da Cruzeiro do Sul, nova mantenedora da universidade. Ele disse que em geral fica responsável por ser o portador da Lista de Schindler dos funcionários das novas unidades que eram adquiridas pelo grupo.

Para bom entendedor, uma Lista de Schindler já basta, não é mesmo?

A fala, totalmente autoritária e desagregadora já nos fez entender o cenário que viria pela frente: demissão!

Cabe aqui uma ressalva: a fala ocorreu antes da pandemia, numa reunião supostamente de “integração”. Ou seja, os planos de demissão existem desde sempre. Semelhança com a saga do empresário polonês contada na trama? Pensar em enriquecer a todo custo, passando por cima de condutas éticas e morais, adentrando o ímpeto da ambição desenfreada e da selvageria?

Deixo a opinião com vocês, afinal, de que vale a opinião de uma simples docente que está no “mundo da lua”?

O fragmento entre aspas do parágrafo anterior faz parte da entrevista do reitor da Universidade Positivo, José Pio Martins, publicada no Plural. A fala do reitor causou desgosto a mim e a vários colegas docentes demitidos na semana passada pela instituição.

Depois da demissão, feita de maneira totalmente desumana e articulada, nenhuma nota, nenhum artigo, nem um boa sorte ouvimos desse senhor, que agora vem a público e diz: “Mas tem um monte de professor que não ficou no mundo da lua. É médico, advogado, promotor… Tem outro trabalho”.

Sim, excelentíssimo reitor, muitos de nós ficamos no mundo da lua, no pior dos momentos em que isso poderia acontecer, em meio a uma pandemia. Muitos de nós somos docentes de forma integral. Muitos de nós dedicamos nossa vida totalmente à academia. Ou seja, não temos outro trabalho, vivemos para educar.

Mas como o senhor disse em outro trecho: “Na área educacional superior privada, tem uma coisa que as pessoas não entendem: existe uma empresa comercial, que tem vida no mundo do direito empresarial (financeiro, trabalhista, tributário), e essa empresa é a mantenedora de uma IES”. Sim, nós entendemos. Sim, nós sabemos. Sim, nós pertencemos a esse mercado. Sim, nós vendemos nosso trabalho na docência em troca de um subsídio financeiro. Mas não, prezado reitor, nós não comungamos realmente com uma Instituição em que os professores são reduzidos apenas a números, apenas a uma “folha de pagamento pesada demais”. Acima de tudo, estimado, nós não “topamos tudo por dinheiro” e que “azar infernal” o nosso não? Demitidos, sem salário, sem plano de saúde, em meio a uma pandemia. Ei, Spielberg, semelhanças? Ou só devaneios de uma jovem docente?

Por fim, excelentíssimo reitor, seria mais digno com todos nós que a verdade fosse dita, que o número real de demissões fosse público, que a metodologia da Cruzeiro do Sul fosse comunicada (inclusive aos alunos que estão ao relento) e principalmente que o nosso trabalho de docente não fosse tratado como um “bico” que fazemos por ai, para completar nossa renda, pois definitivamente não é!

Sobre o/a autor/a

17 comentários em “A Lista de Schindler, o mundo da lua e as demissões da Universidade Positivo”

  1. Ainda existem gestores que tentam justificar demissões em massa de Instituições de Ensino Superior Particulares com “folha de pagamento pesada demais”. Ora ora, nobre quadrúpede, uma Universidade não vende produtos, presta serviço, sendo assim, a folha de pagamento será o maior custo da mesma! Ou seja, são os Professores que fazem a Universidade e nada mais…

  2. O absurdo mora ao nosso lado.
    As perguntas que latejam na cabeça de uma egressa são: O que farão com essa estrtura monstruosa, que para o curso de Biologia, de onde vim, abrigava um núm enorme de laboratórios, materiais didáticos e tantos recursos? Que algorítmo usarão para lançar avaliações e correções para os alunos que permanecem, como citou Thiago Domenici a falar das insitituições ligadas à rede educacional Laureate?
    Com que cara deslavada permanecem?

  3. Sinto muito pela sua demissão, professora. E sinto mais ainda ter que ouvir este “reitor”, um ultraliberal para quem o professor é um empecilho ao lucro. Pra essa gente tanto faz oferecer ensino superior ou vender salsichas, a lógica é a mesma.

  4. Valeria Neder Lopes

    Falou tudo professora! Também fui demitida da mesma forma por esta instituição, em sua unidade de Londrina, e recebi o telegrama… com a justificativa que os problemas são advindos da COVID. Uma grande mentira, uma vez que desde o ano passado já queriam passar os cursos para o formato EAD e demitir todos os professores, como de fato o fizeram agora… a única justificativa continua sendo a mesma de sempre aumentar os lucros a todo custo, inclusive quebrando os contratos com os alunos. Ética não existe! E este reitor que veio diversas vezes a Londrina… e que exigia que o corpo docente deveria ter doutorado, quando nem ele mesmo tem ao menos mestrado… triste realidade do ensino superior neste país… onde o governo permite que se fechem cursos de qualidade presenciais para ofertar em EAD…daqui 5 ou 6 anos veremos a qualidade dos profissionais do mercado

  5. Jean Carlos Glembosky da Silva

    O ministério do trabalho e a saúde pública deveriam fazer uma vistoria grossa nessa faculdade,pois o lugar de descanso de quem trabalha terceirizado é um nojo,fica do lado da valeta.Logo após as refeições tem que ficar sentido o cheiro de urina e fezes causando um mal estar em todos. E também existe uma falta de respeito por parte da minoria dos funcionários que se sentem melhor do que os outros,destratam como se fosse qualquer um,isso é uma falta de respeito e educação.
    A nova admistração deveria rever muita coisa,principalmente da chefia geral chamada Eunice,não tem preparo nenhum para ser chefe de uma faculdade.Fora da admistração da terceirizada que presta serviço,pois não tem vergonha na cara,se dizendo empresa multinacional e fazendo dos funcionários escravos,desrespeitando até leis trabalhalistas.
    Quando será que vai ter alguém com capacidade para ir lá e ver situações adversas ???
    Por isso que o nosso país não vai para frente,tanta gente sem vergonha que existe,e as pessoas de bem sofrem,não só os professores madados embora,mas sim de outros cidadãos que contribuem para melhor de todos!!!!!

  6. Demissões sem um mínimo de respeito pelos colaboradores!

    A Universidade Positivo e o grupo que a adquiriu poderiam ter conduzido este processo de uma forma mais digna e preservando as pessoas e sua imagem.

    Lamentável

  7. Camila maria de Souza

    Sinto muito pelos acontecidos Professora, estava tendo aula com vc pela positivo no curso de Adm! Uma excelente Mestre. Fica aqui minha solidariedade com todos os professores que estão passando por isso, e ja pedi explicações para a administração da Universidade. Que os alunos se unam pedindo transparência da atual situação.

    1. Carmem Kistemacher Barche

      Camila, querida!
      Sabe o que a profa. aqui mais queria nesse momento? Dar um grande abraço em todos os meus alunos(as) (e olha que eram milhares) e dizer sigam firmes, sejam firmes e nunca esqueçam o que sempre salientei: o mercado é ávido por boas pessoas, tanto tecnicamente, quanto a comportamentalmente, principalmente nos princípios éticos e morais.
      Um grande abraço em cada um!
      Saiba que a mensagem dos meus alunos me enchem o coração de alegria! Obrigada! ?

  8. Minha solidariedade a todos os colegas que foram demitidos. Acho que o sistema educacional privado precisa ser revisto, muitos mantenedores tratam a educação como venda de abacaxi em feira. Como será esse profissional formado por elas? E os colegas Professores que fazem seus mestrados e doutorados que são tratados como se não tivessem valor algum? Os sindicatos estão por aí?

      1. Voce sabe que a Universidade Positivo foi vendida e não pertence mais ao grupo Positivo? Que as demissões ocorreram pela nova empresa que comprou (Cruzeiro do Sul) e que não tem nada a ver com o sr Oriovisto? Não sabe? Então não comente.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima