UP demite mais professores

Ao menos 26 foram desligados agora e outros 300 profissionais em julho; docentes aprovaram ação trabalhista coletiva

A Universidade Positivo (UP) parece longe de parar de demitir. Nesta sexta-feira (11), o Plural apurou que pelo menos 26 professores perderam o emprego. Eles faziam parte dos cursos de Ciências Contábeis, Direito, Engenharia da Computação, Engenharia da Produção, Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Fotografia, Relações Internacionais, Psicologia, Fisioterapia e Medicina. Em off, a redação também foi alertada de que novos cortes devem acontecer em janeiro de 2021.

Em julho, cerca de 300 profissionais já haviam sido desligados, em plena pandemia, a mando do Grupo Cruzeiro do Sul, que comprou a instituição no fim do ano passado. Na mesma época, ao menos sete cursos presenciais foram fechados. Em votação, os docentes aprovaram uma Ação Trabalhista Coletiva.

Procurado pela reportagem, o reitor José Pio Martins informou que a assessoria da UP poderia passar informações mais precisas, como os “dados reais” de demissões, mas que “isso é um movimento meio que normal, acontece todo fim de ano”. Segundo ele, os cortes ocorreram em função da não abertura de cursos, da evasão de alunos e alterações de cargas horárias mínimas feitas pelo Ministério da Educação (MEC). 

“Eu costumo dizer que toda demissão é sempre muito triste, muito chata. Agora, uma boa parte aí são pessoas que também já viram como que as coisas funcionram e pediram, então não é um movimento tão grande, né?”, completou.

Em nota, a assessoria de imprensa confirmou as demissões de docentes e reforçou que é um “movimento acadêmico natural ao final do semestre letivo, assim como o de futuras contratações, baseadas na adaptação a novas disciplinas, novos cursos e diferentes demandas dos estudantes e do mercado”. 

O Grupo Cruzeiro do Sul, mais uma vez, não quis falar em números. Apenas acrescentou um agradecimento: “A UP reconhece e agradece a contribuição desses profissionais que nos ajudaram a cumprir o objetivo de oferecer uma educação de excelência aos nossos estudantes, com o qual seguimos plenamente comprometidos”. 

“Eles têm sido vorazes”

A professora Nicole Chagas Lima, do curso de Fotografia, foi uma das demitidas. “Ontem eu recebi uma ligação da coordenadora do curso. Engraçado como as pessoas buscam eufemismos, né? As palavras exatas foram que como o curso não abriria novas turmas em 2021, ela precisaria fazer o cancelamento do meu contrato.”

Uma nova reunião foi marcada para esta sexta, quando a demissão foi formalizada via Zoom. “Depois da parte gravada, que foi bem curta, teve uma conversa mais humana. Eu percebi, pelo menos nas minhas coordenadoras, uma tristeza, porque acaba sobrando pra elas ter que fazer esse papel de ser um robô institucional.”

Nicole fazia parte do quadro de docentes da UP desde 2012, ano em que foi inaugurado o curso de Fotografia. “Foi um convite muito bacana, porque eu comecei tendo muita liberdade e confiança. Eu realmente vivia e respirava o curso.”

Nicole em sala de aula em 2013. Foto: Joel Rocha

Em 2016, ela precisou se desligar da instituição para concluir o doutorado, e voltou no ano seguinte. “Eu fui recontratada com um valor hora/aula bem diferente, por conta da reforma trabalhista, mas ainda assim estava feliz por estar de volta a uma instituição de que eu gostava muito.”

Na visão dela, o cenário piorou mesmo após a UP ser comprada pelo Grupo Cruzeiro do Sul. ”Eles têm sido vorazes em relação à instituição do regime a distância e a redução do pessoal tem sido constante, então eu fico triste pelos que foram, mas fico triste também pelos que ficaram, porque não tá fácil. A gente não sabe por quanto tempo vai ficar e eu acho isso péssimo para pessoas que deram a vida para aquela instituição – algumas até mais que eu.”

“Mercantilização”

O Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana (Sinpes) está acompanhando os professores demitidos em julho. “Depois de muitas negociações, e diante da contraproposta apresentada pela UP, os docentes aprovaram por meio de votação a abertura de uma Ação Trabalhista Coletiva”, informou.

O Sinpes também disse que fará um pedido de informação ao Departamento de Recursos Humanos da UP para levantar a quantidade exata de novos demitidos e em quais cursos eles atuavam.

“Comprada pela Cruzeiro do Sul Educacional em dezembro de 2019, quando à época tinha cerca de 1.600 empregados e 33 mil alunos, a UP projeta hoje a sombra da mercantilização do ensino promovida por grandes conglomerados educacionais. As mudanças, aos poucos implementadas na universidade pelo grupo, que hoje é o quinto maior da educação privada no país, têm se refletido em constantes demissões, em redução de carga horária de professores e no fortalecimento da modalidade de ensino a distância”, lamentou o sindicato.

“Tiraram de nós o que tínhamos de mais precioso”

“Em 2017, quando entrei no curso de Psicologia da UP, foi um sonho realizado, sempre me senti acolhida e com professores e uma coordenação excelente, porém, desde a venda para a Cruzeiro do Sul, eles tiraram de nós o que tínhamos de mais precioso, o respeito e a educação de qualidade”, desabafou Bruna Calgaro Martins, que faz parte do movimento Resiste UP, criado após as demissões de julho.

“Não adianta ter um campus lindo e laboratórios novos se a gestão atual não se preocupa com professores, colaboradores e alunos. Hoje, chegamos ao ponto de ficarmos felizes com algumas demissões, por sabermos que pelo menos esses professores não irão permanecer em um ambiente de trabalho prejudicial, e desejamos que encontrem um local de trabalho onde sejam reconhecidos”, completou a aluna.

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2 comentários em “UP demite mais professores”

  1. Absurdo, entre professores e funcionários eram 1845 colaboradores, quase 330 professores demitidos agora analisem quantos funcionários ficaram, a demissões passam de 1330 aproximadamente

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