Reaplicação do Enem teve abstenção de 95,8% no Paraná

Dados do segundo dia deixam o Estado com a maior taxa de ausentes na segunda fase do exame

No Paraná, a reaplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 – que ocorreu em 23 e 24 de fevereiro – contou com um total de 19.956 inscritos para o primeiro dia e 20.170 para o segundo. No entanto, 92,8% dos candidatos não compareceram para a realização da primeira fase da prova. O índice de abstenção do segundo dia foi ainda mais alto: 95,8%. De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), no dia 24, o Paraná teve a maior taxa de ausência entre todos os estados.

Conforme o Inep, o nível de abstenção nacional também foi alto: passou de 70% nos dois dias. Com um total de 228.679 inscritos no primeiro dia e 234.083 no segundo, a porcentagem de pessoas que não compareceram às provas foi de 72,2% e 72,6%, respectivamente.

No início do ano, por conta da pandemia, milhares de candidatos não conseguiram realizar o exame, que teve a primeira aplicação nos dias 17 e 24 de janeiro. Na ocasião, Curitiba foi a cidade mais afetada pela superlotação nos locais de prova. Os participantes que se sentiram prejudicados por conta de incidentes logísticos – como falta de luz e de espaço nas salas – ou que apresentaram sintomas de Covid-19 ou de outra doença infectocontagiosa prevista no edital puderam pedir pela reaplicação.

Além disso, também tiveram direito de solicitar a reaplicação aqueles candidatos que ficaram para fora das salas – que já contavam com o limite de 50% de lotação – e foram impedidos de realizar as provas. Em Curitiba, a situação ocorreu em pelo menos quatro locais de prova. 

Foi o caso da estudante Eduarda Dícalo, de 18 anos. Ela conta que teve que pedir pela reaplicação pois foi barrada da sala do Colégio Estadual Professor Francisco Zardo, em Curitiba, na data da primeira fase, ainda em janeiro. 

A aspirante a engenheira química, que fez a prova de reaplicação no Centro Universitário UniBrasil, relata que era a única da sala em que eram esperados 20 alunos. “No meu bloco era para ter umas 400 pessoas mas no bloco inteiro tinha só 10”. Segundo a estudante, a UniBrasil contou com quatro prédios para a realização do exame. 

Uma das inscritas que não compareceu para realizar a prova na UniBrasil foi Giovana Burnier. A treineira de 16 anos relata que não pôde ir devido à grande distância que separa o Centro Universitário de sua casa. 

Em janeiro deste ano, assim como Eduarda, Giovana também foi barrada na porta da sala do Colégio Estadual Professor Francisco Zardo por conta da superlotação. “Eu fiquei muito frustrada. Eu acabei não fazendo o Enem que eu já estava me programando para fazer. Agora vou ter que estudar o máximo para conseguir passar direto no próximo, sem treino nem nada”, relata. 

A situação se repetiu em pelo menos outros dois locais de prova na Capital. Duas irmãs, que preferem não se identificar, trabalharam como aplicadoras na Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), em Curitiba, e relatam que ao todo, na instituição, compareceram 17 pessoas no primeiro dia e entre 11 e 15 no segundo. 

Uma das jovens acredita que se as provas tivessem sido realizadas durante o final de semana, haveria um número muito maior de candidatos. “É uma coisa que ninguém esperava, que não tinha acontecido antes”, afirma. 

“Eu me candidatei para ser aplicador e fui chamado. Pagaram R$ 170 por dois dias e só foram dois inscritos de 400 no meu prédio. Eu fiquei de cara com o tanto de gente que ‘abandonou'”, diz o post no Twitter de um aplicador que trabalhou no campus da Universidade Federal do Paraná (UFPR) do Jardim Botânico.  

Ele conta que no local havia três prédios para a aplicação do teste e estima que o número total de colaboradores, nos dois dias, foi de 25 a 30 pessoas. Segundo ele, todos os coordenadores, fiscais e aplicadores ficaram postados em suas tarefas até que os únicos dois candidatos presentes tivessem finalizado a prova. Nenhum deles foi dispensado. 

Para o jovem, o alto índice de abstenção se deu por uma “junção de má administração do órgão organizador e também com uma parcela de culpa nos participantes, pois essa reaplicação só foi feita para quem pediu via site do Enem-Inep”.

Segundo os aplicadores, não houve nenhum problema quanto às medidas de segurança sanitária contra a Covid-19, justamente por conta do baixo número de pessoas que compareceram nos locais de prova.

O Plural entrou em contato com organizadores da aplicação da prova no Estado, mas eles informaram que estão proibidos de repassar informações sobre o Enem.

O Inep também não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre os números relativos a Curitiba.

Provas

As provas de reaplicação ocorreram junto do Enem PPL, exame destinado a pessoas privadas de liberdade ou sob medida socioeducativa que inclua privação de liberdade. Na mesma data também foram aplicadas as provas para os inscritos do Amazonas e para os participantes do município de Espigão D’Oeste e de Rolim de Moura, ambos em Rondônia, que não realizaram o exame em janeiro por conta de decretos locais relacionados ao combate à Covid-19. 

Segundo o Inep, o total de inscritos foi de 276 mil. Desses, 66.860 eram candidatos que apresentaram sintomas de doenças infectocontagiosas no dia da primeira aplicação, que enfrentaram problemas logísticos ou que foram barrados em salas lotadas; 41.864 prestaram o Enem PPL; 163.444 eram do Amazonas, 969 de Espigão D’Oeste e 2.863 de Rolim de Moura.

No Paraná, a aplicação das provas aconteceu em 86 municípios, com 115 locais de prova e 1.131 salas.

Os gabaritos e os cadernos de questões serão divulgados no portal do Inep na segunda-feira (1º). O resultado final e as notas individuais saem em 29 de março, junto com a dos candidatos da primeira aplicação.

Colaborou: Maria Cecília Zarpelon

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