Paraná é o estado com mais casos ativos de Covid no país; semana pode ser o pico

Se estado atingir o auge da nova onda essa semana, sistema de saúde será menos afetado

O Paraná tem hoje o maior número de infecções ativas por Covid-19 de todo o Brasil. Até o fim da manhã desta terça-feira (25) eram cerca de 264 mil contaminados ainda não considerados recuperados, ou seja, em potencial período de transmissão ou que seguiam em acompanhamento médico. O volume sustenta projeções da iminência de um novo pico de casos no estado que pode ocorrer nos próximos dias, previsto em modelagens quantitativas, e ampara o movimento de reabertura de leitos feito recentemente pelo governo Ratinho Jr. (PSD). Na comparação com 14 dias atrás, o número de internados subiu quase 75%, em um universo majoritariamente de não vacinados.

A fatia de casos ativos registrados na manhã desta terça no Paraná corresponde a 12% dos 2,04 milhões de casos ativos em todo o país neste dia, desproporcional ao tamanho do estado, onde estão concentrados 5,4% da população brasileira. Os números são da Covid19br, plataforma de dados sobre o coronavírus vinculada à Universidade Federal de Viçosa (UFV).

O sistema compila informações cruzadas entre as secretarias estaduais da Saúde e o Ministério da Saúde (MS) para uma atualização dinâmica da situação da pandemia do país. São, portanto, mais “frescos” que os boletins diários divulgados ao público pelas autoridades, geralmente disponibilizados apenas no fim de cada dia. Atualmente, o governo Federal não divulga recortes locais de infectados ativos, mas dá o cálculo: são considerados ativos os casos confirmados que não evoluíram a óbito e não se enquadram nos critérios de recuperados.

A Secretaria da Saúde do Paraná (Sesa) sustenta que a nova onda é impacto de um conjunto de fatores, principalmente da nova variante em circulação, a Ômicron.

Foto: Pedro Ribas/SMCS

“O aumento do número de casos ativos subiu nos últimos dias com a média de casos elevadas pela  introdução da variante Ômicron, mais transmissível associado aos movimentos de final de ano, consequente aumento da testagem, e possível atraso no encerramento de casos pelos notificadores dos casos de Covid-19 pelas equipes de saúde dos municípios com alta demanda de trabalho”, disse, em nota, a pasta.

A cepa é considerada mais transmissível, com impactos diretos na pressão exercida sobre políticas e sobre o sistema de saúde. Há duas semanas, a prefeitura de Curitiba, também sobrecarregada, voltou com limite de capacidade para estabelecimentos. No Brasil, a já fragilizada política de testes, por exemplo, não deu conta de absorver a massa de possíveis contaminados – nesta terça, o país bateu um novo recorde e elevou a média móvel de contágios dos últimos sete dias para 150.236, a maior desde o início da pandemia.

Casos ativosTotal de óbitos RecuperadosTotal de casos
Total Brasil2.044.985623.63621.473.41124.142.032
PR264.34841.0051.521.7241.827.077
MG252.90256.9652.204.1822.514.049
RJ235.59769.6891.307.9741.613.260
RN140.6227.643256.642404.907
SP139.148156.5514.270.0004.565.699
RS131.50036.6441.536.8141.704.958
CE127.82925.039879.7831.032.651
PB111.8649.640358.448479.952
ES*108.30713.429621.086742.822
SC106.40120.3841.241.4281.368.213
AM60.92913.892420.707495.528
PE60.43020.590588.784669.804
DF45.99111.143511.299568.433
GO*43.15024.870938.4741.006.494
BA33.20227.7911.258.1831.319.176
PA*28.46117.296593.998639.755
MT*26.60914.205560.639601.453
RO25.8486.810270.457303.115
MS23.2209.796369.713402.729
AP22.0692.039116.354140.462
TO20.6663.985230.893255.544
MA10.65110.452357.885378.988
AL9.3796.409235.400251.188
RR8.4362.086126.934137.456
AC7.0061.85786.22895.091
SE6.4566.075271.802284.333
PI*-6.0367.351337.580338.895
Fonte: https://covid19br.wcota.me/#main REPOSITÓRIO DE DADOS
*Estados com casos ainda não confirmados pelo Ministério da Saúde

“Pelos dados do IHME [sigla de Institute for Health Metrics and Evaluation] há uma confirmação sobre o aumento de casos em decorrência da variante Ômicron. Ela tem uma capacidade muito grande de gerar as chamadas infecções de escape, que são infecções em quem é vacinado ou tenha sido infectado previamente, isso explica esse incremento muito grande”, explica o infectologista Bernardo Almeida Montesanti, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR).

A fonte de dados citada pelo especialista tem base na Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. A organização, independente, compila dados governamentais de vários países para fornecer projeções sobre o comportamento da pandemia em diversas partes do mundo. A abordagem emprega um modelo híbrido de informações em tempo real associadas aos diferentes contextos da crise sanitária, incluindo, por exemplo, o ritmo da distribuição das vacinas, a eficácia dos imunizantes e a prevalência de variantes.  

“A estimativa do IHME (Institute for Health Metrics and Evaluation) coloca que o pico já aconteceu, mas dificilmente teríamos pego esse pico porque a quantidade de casos é tão grande que o sistema laboratorial está em completo colapso, então as notificações não acompanham os casos reais, e esse pico vamos perceber com certo atraso”

Bernardo Almeida Montesanti, infectologista do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná.

Os indicadores do instituto para o Brasil e seus respectivos estados sugerem que o Paraná já passou pelo pico provocado pela Ômicron. Pela projeção, o auge de casos dessa nova onda teria ocorrido no dia 16 de janeiro, com uma estimativa de quase 320 mil infecções em paralelo. Assim, os casos estariam, agora, em declínio – embora a realidade pareça ser outra.

“A estimativa do IHME coloca que o pico já aconteceu, mas dificilmente teríamos pego esse pico porque a quantidade de casos é tão grande que o sistema laboratorial está em completo colapso, então as notificações não acompanham os casos reais, e esse pico vamos perceber com certo atraso”, pondera o infectologista.

Semana decisiva

Ainda que não seja possível prever quando realmente o estado vai atingir o auge de casos, alguns indicadores reforçam as estimativas epidemiológicas do cenário. Um deles é índice de positividade dos testes, em curva ascendente nas últimas semanas.

A corrida aos exames que detectam a infecção pela Covid-19 acompanhou o comportamento nacional e também saltou no Paraná. Na última semana foram aproximadamente 85 mil novos testes do tipo RT-PCR realizados pela rede pública e por laboratórios credenciados registrados no sistema do Ministério da Saúde. Entre o dia 27 de dezembro e 3 de janeiro, esse número não havia passado dos 20 mil.

Hospital de Clínicas. Foto: HC/UFPR

Para o médico do Hospital de Clínicas, o Paraná vive, no entanto, uma semana decisiva no que diz respeito ao acúmulo de infecções, antecipada pela taxa de positividade. O índice, um termômetro para a área da Saúde, passou de 9,9% entre o fim de dezembro e o começo de janeiro para 44% entre os dias 17 e 24 de janeiro, conforme boletins da Sesa.

“Então estamos na expectativa de que esse pico se forme. Se acontecer essa semana será uma boa notícia porque haverá uma forte expectativa também de pico de internamentos e óbitos sem ter ocorrido o colapso que já vivemos no ano de 2021, principalmente nos meses mais críticos”, avalia positivamente o médico.

De fato, mesmo com o crescimento acelerado de infecções confirmadas a rede de saúde pública ainda opera em condições de menos intimidação se comparado a boa parte dos meses do ano passado, quando a falta de leitos colapsou o sistema de suporte a doentes graves por várias vezes seguidas.

Por ora, a taxa de ocupação é de 58%, considerando novos leitos abertos pela Sesa. Com o recrudescimento da pandemia, a Saúde reativou vagas para atendimento de pacientes com Covid-19 e H3N2 – vírus da gripe também responsável por mais casos de síndrome respiratória no estado. Desde o início de janeiro, foram retomados 554 leitos no SUS, sendo 167 UTI’s e 387 enfermarias, e o número pode passar dos 700 até as próximas semanas, adiantou a pasta.  

77% da população do Paraná

havia sido imunizada com duas doses da vacina contra Covid-19 até esta terça-feira (25).

Comparado a 14 dias atrás, o total de internações passou de 467 para 814. As mortes, felizmente, não ganharam tanta força. No mesmo período o acumulado de óbitos foi de 40.780 para 40.693, uma média de 6 por dia. Entre março e abril do ano passado, no período mais duro da pandemia no país, o estado chegou a somar mais de 400 mortes em um só dia.

O freio tem sido a vacinação. Até esta terça, cerca de 77% da população do Paraná havia sido imunizada com as duas doses ou com a vacina de dose única, mostra levantamento da Sesa. No balanço já entram as crianças, o novo alvo da campanha de vacinação no Brasil. Em entrevista à Agência Estadual de Notícias no dia 17 de janeiro, o secretário da Saúde do Paraná, Beto Preto, informou que, dos internados no estado, entre 80% a 90% não tomaram a primeira dose ou não completaram o esquema vacinal.

“Há um consenso de que essa onda vai trazer problemas não por conta da virulência. Aparentemente, o vírus tem uma capacidade menor de, dado que a infecção ocorra, gerar hospitalização e óbito. Isso em parte por conta do próprio vírus e em parte muito por conta da vacinação. A infecção no indivíduo vacinado está atrelada a um risco muito menor de complicações, hospitalizações e óbito”, reforça Montesanti.

Ele alerta, contudo, que os indicadores não podem ser menosprezados. O aumento diário de hospitalizações nos leitos gerenciados pela Sesa atingiu velocidade média de 4%. Se for mantido, poderia dobrar o registro de internamentos no estado – hoje em 814 – em 18 dias.

“Essa maciça quantidade de casos faz com que, mesmo com uma probabilidade menor de internamento e óbitos, mas como base da pirâmide aumentando absurdamente, que é o número de casos, poderemos ter, sim, problemas de hospital e de sobrecarga do SUS e elevação considerável de óbitos”.

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima