O fabuloso destino do palhaço Zequinha

Desenhista Nilson Müller fala sobre o poder educativo do personagem criado há quase cem anos para ilustrar papel de bala

Algo inusitado aconteceu no ano passado. Numa espécie de viagem no tempo, Curitiba e o Paraná viram o lançamento de um novo álbum de figurinhas do Zequinha com ilustrações do desenhista Nilson Müller, hoje com 80 anos.

Quem viveu as décadas de 1970 e 1980 em território paranaense conhece bem o palhaço carequinha do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM), atual ICMS. Em 1979, o governo do Paraná usou o personagem para ajudar a promover a campanha. As pessoas trocavam notas fiscais por figurinhas. Quem completava o álbum, concorria a prêmios.

Zequinha, hoje

Na época, para o governo, Müller ilustrou o palhaço em 200 situações diferentes. Mais de 40 anos depois, lá foi o artista desenhar o Zequinha em outras 200 situações que têm como referência o mundo atual. As figurinhas novas mostram o Zequinha de máscara e usando álcool gel, Zequinha fazendo selfie, economizando água, participando de lives etc.

O ilustrador Nilson Müller diz ter ouvido histórias comoventes: “Tem o caso de uma criança com Transtorno do Espectro Autista. A mãe veio agradecer a gente, dizendo que a criança começou a reconhecer os lugares da cidade em que ela passava porque tinha visto nas figurinhas”.

Zequinha viaja pelo Paraná e pelo mundo nas figurinhas. Foto: Rafaela Moura

Um personagem diferente

O Zequinha de 1979 foi uma forma de pagar as contas. O Zequinha de 2021 foi um pouco diferente. “Ele trouxe um foco social – foi o que fez a diferença dessa vez”, diz Müller. “Na época, fiz [o Zequinha] para um cliente. Eu estava anônimo. Dessa vez, tive que colocar o nome na brincadeira. Foi bom porque, nessa altura da vida, ter o reconhecimento é uma espécie de pagamento.”

De acordo com Müller, o Zequinha surge agora como um personagem instrutivo que traz boas mensagens. “Na sociedade atual, a gente está acostumado a só levar bomba. De repente, surge um personagem que faz você participar de coisas interessantes e que instrui sem ser chato”, diz o artista. “Que mostra lugares e faz você ter vontade de conhecê-los. É estimulante.”

A ideia agora é começar a divulgar nas escolas com visitas e oficinas de ilustração voltadas para as crianças. O objetivo é aproximá-las do personagem e das mensagens que ele passa. Para Müller, o Zequinha mostra que a vida é mais do que joguinhos no celular. Ele dá dicas sobre lazer, trabalho e alimentação. Ele coloca a pessoa em contato com a diversidade, provoca a curiosidade e instiga o raciocínio.

Exposição dos esboços, reproduções de figurinhas e releituras do Zequinha na Gibiteca de Curitiba. Foto: Rafaela Moura

O resgate de Zequinha

Zequinha surgiu em 1928 com as balas que levavam seu nome, produzidas pela fábrica dos irmãos Sobânia. Na época, vários desenhistas faziam as artes e Zequinha aparecia em situações controversas: caracterizado como gângster, atrás das grades e até como suicida. Já o Zequinha na versão dos anos 1970, mais educativa e rechonchuda, é obra de Müller.

Quem resgatou o palhaço foi a família Müller e os empresários João Luís Teixeira e Robson Krieger, sócios da Sambay Express. O portal, que comercializa produtos de todos os tipos, abriga a loja oficial do Zequinha na web, com produtos como álbuns, figurinhas e bonés.

O retorno do Zequinha tem muito a ver com o nascimento de um outro personagem: a ararinha da Sambay. Foi buscando um ilustrador para a mascote do portal que Teixeira conheceu Nilson Müller e fez o que foi preciso para resolver os entraves que impediam Zequinha de voltar a ser publicado. Agora, o personagem está com a agenda cheia. Zequinha está em cartaz numa exibição na Gibiteca, estrela um gibi em que narra a lenda da fundação de Curitiba e está de viagem marcada para Antonina. Além de ter álbum novo prestes a sair.

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