Pacientes sem Covid são internados ao lado de positivados

Nas UPAs de Curitiba faltam espaço, infraestrutura e materiais para atendimento

Funcionários de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Curitiba afirmam que falta infraestrutura para atender os pacientes e que, muitas vezes, pessoas em tratamento de Covid-19 e pessoas com outras comorbidades têm ficado na mesma sala, próximas e correndo o risco de se contaminar.

“Os pacientes estão misturados. Muitas vezes, na sala de atendimento Covid, tem clínico junto”, afirma um servidor da UPA Pinheirinho que prefere não se identificar. “Aqui, só sobrou uma sala para clínica que tem três camas. Aí colocam poltronas, cadeiras e macas do Samu onde cabem, todas empilhadas”, contou.

Já na UPA Sítio Cercado, outra funcionária garante que também há faltas de equipamentos. “Faltam aparelhos para medir a glicemia dos pacientes, termômetros e aparelhos de pressão”, diz. Ela afirma que as vezes é preciso criatividade em meio ao caos. “A demanda de pacientes é tão grande que não temos mais suportes para colocar soro. E aí entra a criatividade da enfermagem”, completa. Prova disto é o soro que, na falta de suportes, é colado nas paredes com esparadrapo.

Na falta de equipamentos, funcionários precisam improvisar com esparadrapo. Foto: Plural.jor

Outra profissional da saúde, também da UPA Pinheirinho, revela que tem acontecido com frequência a mistura de pacientes contaminados e não contaminados devido à falta de espaço e salas, o que os obriga a colocar enfermos também nos corredores. “Separados? Só se for por uma linha imaginária”, afirma.

Nas fotos enviadas exclusivamente para o Plural, a funcionária mostra um exemplo da rotina e do dia a dia da Unidade. Nela, uma paciente sem Covid está deitada numa maca emprestada pelo Samu, pois já não existem leitos na unidade.

A menos de dois metros, sentada numa cadeira, outra paciente positivada com a Covid-19 aguarda tratamento. O fato de pacientes que necessitam de cuidados terem que esperar sentados, tem sido mais um agravante. “Pacientes ficam internados no oxigênio sentados em poltronas ou cadeiras. Eles não estão na central de leitos aguardando vaga de hospital, porque são os menos graves. Vão ficar sentados até o dia que derem alta, pois não tem como colocá-los para deitar”, alerta a funcionária.

Ambientes pequenos, pouco ventilados e que misturam atendimentos. Foto: Sismec

Tendas

Nesta quarta-feira (14), funcionários da Unidade de Saúde Coqueiros, que fica no Sítio Cercado, foram avisados que precisavam tirar seus carros do estacionamento para que tendas fossem montadas no local. “Ao invés de abrirem as Unidades para que cada uma atenda seus pacientes, foi orientado tirar os carros do estacionamento para armar barracas”, disse uma das funcionárias.

Funcionários montam tendas no estacionamento da Unidade Coqueiros, no Sítio Cercado. Foto: Plural.jor

Segundo Patrícia da Rosa Mendonça, diretora do Sindicato dos Servidores Municipais de Enfermagem de Curitiba (Sismec), a informação é que a Unidade está cheia. “Já não cabem mais pessoas dentro do prédio, pois ele não tem estrutura para tanta gente. Devido a alta procura, estavam ficando para fora, pois falta espaço”, afirmou.

Questionada sobre a utilidade das tendas, a assessoria de Secretaria Municipal de Saúde disse que são “para acolhimento dos pacientes (recepção), para evitar aglomerações dentro da unidade e evitar que essas pessoas fiquem expostas ao sol ou chuva”.

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1 comentário em “Pacientes sem Covid são internados ao lado de positivados”

  1. Mais uma excelente matéria. Há que se fazer o registro dos fatos. Fundamentais as fotografias: Curitiba, 2021, o soro afixado com esparadrapo à parede. Houve ações coordenadas que desembocaram neste aqui-agora. Houve política e políticas públicas. A palavra “negacionismo” poderia acompanhar as legendas de cada uma dessas imagens. Importante para despertar consciências.
    É crucial documentar o genocídio que acontece no Brasil. Constitui legado que possibilitará imputar responsabilidade às autoridades que conduziram a cidade, o estado e o país ao colapso.

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