O governo de Jair Bolsonaro (PSL) conseguiu um feito inédito: reunir dezenas de milhares de pessoas em diversas capitais do país para defender o ensino superior e as universidades federais. Curitiba, sede de três instituições afetadas pelos cortes de recursos e de bolsas, foi uma das cidades do país com maiores manifestações: a “República” que meses atrás deu 75% dos votos a Bolsonaro pôs nesta terça-feira 15 mil pessoas nas ruas de manhã e mais 6 mil à noite. Indícios de que o governo não demorou e perder popularidade e prestígio.
Pela manhã, os protestos ocorreram mesmo sob chuva. À noite, as pessoas saíram às ruas apesar do frio. Nos dois momentos, exigiram o desbloqueio dos 30% de verbas de custeio tirados de UFPR, UTFPR e Instituto Federal. Somadas, as três instituições e a Unila, de Foz, perderam R$ 120 milhões com uma canetada de Bolsonaro.
Outros itens fizeram parte da pauta da manifestação, como o corte de bolsas de pós-graduação e a reforma da Previdência. Professores das redes estadual e municipal de educação também lutaram por suas próprias pautas – o que ajudou a transformar as passeatas pelo Centro de Curitiba em multidões ainda maiores.
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Na noite desta terça, havia receio dos organizadores de que uma confusão na comunicação do governo (que alguns julgam ter sido proposital) esvaziasse as manifestações. O governo, por algumas horas, deu a entender que os cortes seriam revistos e as bolsas, devolvidas. No fundo, era tudo mais uma trapalhada do governo. Tudo continua como antes.
Nesta quarta, o governo colocou ainda mais lenha na fogueira. De Dallas, Bolsonaro chamou os manifestantes de “idiotas úteis” e disse que se tratava de gente que não sabia fazer contas simples nem conhecia a molécula da água. Em Brasília, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, comprou briga com parlamentares ao dizer não só que os cortes estão mantidos como ao insinuar que os deputados nunca trabalharam na vida.
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Nas ruas de Curitiba, além de gritos de protesto, viram-se também cartazes com palavras de ordem contra o governo.
“No pais inteiro hoje, quem defende a educação esteve nas ruas para dar um recado bem claro para o presidente”, salienta Luiz Belmiro, professor do Instituto Federal e integrante do Coletivo CWB Resiste. Uma greve nacional está prevista para o próximo mês, entre as pautas a reforma da previdência. “Essas pautas não são isoladas, lutar por uma educação de qualidade é lutar contra a reforma da previdência”, ressalta Belmiro.
Os organizadores, do CWB Resiste, estimam que 6 mil pessoas compareceram à marcha noturna. “Vamos fazer atos maiores, para mostrar ao presidente que ele tem que governar para a população – para as pessoas que sempre pagam a conta nesse país”, encerra o professor.