Economia de Curitiba terá uma retomada lenta em 2021

Emprego, renda e inflação dificultam a recuperação na capital após um ano atípico

Até o final de outubro deste ano, o índice de empregos de Curitiba chegou ao total de 693,9 mil vínculos ativos, segundo o  Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged). Isso representa uma recuperação do emprego na cidade em relação à pandemia, quando houve um saldo negativo 13,4 mil postos de emprego. No entanto, ainda representa um saldo negativo de mais de 2,3 mil postos de trabalho que foram perdidos esse ano.

Os números do mercado de trabalho, da inflação e da renda de Curitiba mostram que, após um ano atípico para a economia de todo o país, a cidade ainda vai levar um tempo para se recuperar. Setores como o de serviços, que é o mais presente na Capital, e o comércio ainda não estão completamente recuperados e, mesmo com uma vacina ainda encontram desafios com a diminuição da renda da população.

E, nesse sentido, o encerramento do pagamento do auxílio emergencial pelo Governo Federal também pode afetar o desempenho da economia curitibana. Além disso, a interrupção dos pagamentos indica uma pressão econômica ainda maior para as famílias mais pobres da cidade. Economistas ouvidos pelo Plural preveem um primeiro semestre difícil em 2021 para Curitiba.

O vaivém do emprego

Os números mais recentes do Novo Caged, referentes ao mês de outubro, mostram que a cidade de Curitiba está recuperando os postos de trabalho que foram fechados na pandemia. No entanto, Alexandre Porsse, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), afirma que as vagas retomadas ainda não são suficientes para eliminar a perda de empregos do início da pandemia.

“Estávamos nos recuperando de um período sem contratações, entre 2012 e 2017. Em 2019 tínhamos nos recuperado bem, mas ainda assim abaixo do período anterior. Foi então que chegou a pandemia e ainda não conseguimos retomar aos valores do início do ano”, diz Porsse.

De fato, os dados mais recentes da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) apontavam para uma recuperação sólida do emprego. O ano de 2019 foi o primeiro a superar, ainda que por uma pequena margem, o número de vínculos empregatícios de 2015, primeiro ano da última crise econômica brasileira.

No inicio de 2020, o Novo Caged registrava 702,2 ml vínculos ativos de emprego. Até outubro, apenas 639,9 ml.

Jackson Teixeira Bittencourt, coordenador do curso de Ciências Econômicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) concorda e indica ainda que a questão do emprego é estrutural em Curitiba. Para ele o alto número de pessoas em situação de rua no centro da cidade e o fato da pandemia ter alterado as estruturas de trabalho, inclusive em relação ao alto índice de informalidade, complicam ainda mais essa área.

“Antes o trabalho informal fazia com que houvesse alguma geração de renda, mas a pandemia derrubou isso também. E no primeiro semestre o mercado de trabalho não vai ter se recuperado ainda, é algo que só veremos no segundo semestre.”

Um dos problemas é que, com a segunda onda, o setor de serviços, que é central em Curitiba, vai levar ainda mais tempo para se recuperar. “A expectativa de 2021 é de melhora, mas vai levar tempo e nós dependemos da economia brasileira para que seja realmente rápida, porque toda a cadeia produtiva foi desestruturada”, explica ele.

Essa desestruturação afeta os preços dos bens e serviços e leva tempo para que a economia se reorganize. Por isso, é necessário que a cidade se reorganize, o que deve ocorrer no primeiro semestre. Assim, a criação de novos postos de emprego no ritmo anterior a pandemia ainda não está no horizonte.

Inflação e fim do auxílio

O Boletim de Conjuntura Econômica do Paraná, realizado pelo Estúdio de Economia e Finanças da PUCPR aponta que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subu 3,64% no ano encerrado em outubro de 2020. Isso significa que os alimentos ficaram mais caros para os curitibanos. O aumento dos preços nos supermercados chegaram a até 57,9%.

“A verdade é que o setor de alimentação foi um dos que se saíram melhor nesse período, afinal a compra de alimentos cresceu. Quem trabalha nesse setor conseguiu ter mais espaço para investimentos e inovações e conseguiu se sair bem”, explica Porsse.

No entanto, com a inflação pressionando o orçamento doméstico, as famílias podem ter dificuldades para manter o mesmo ritmo de consumo. E isso implica em consequências para toda a economia de Curitiba.

“Em 2021, sem o auxílio emergencial, é impossível não impactar negativamente”, diz Porsse. E completa: “As famílias mais vulneráveis terão um quadro crítico no primeiro semestre até que a economia consiga realmente se recuperar e incluir essas pessoas no mercado de trabalho. O que nós vamos ver é um aumento da desigualdade, que foi exacerbada pela pandemia”.

O auxílio emergencial, pago pelo Governo Federal, foi muito direcionado para o setor de alimentações, mas também contribui para os comércios locais. E, na análise de Bittencourt, esse setor também será muito afetado, porque dependem do mercado consumidor local. “Em Curitiba, muito comércio de bairro só conseguiu se manter porque tinha essa renda por meio do auxílio emergencial. Ele ainda é essencial enquanto não houver crescimento real da economia”, diz ele.

A importância do auxílio emergencial para as famílias brasileiras e para a economia do país e de cidades como Curitiba se mostra principalmente nos índices de desigualdade. Projeções do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas indica que a renda dos 10% mais pobres caíra 77% em janeiro de 2021.

Nesse sentido, o Senado apresentou em 14 de dezembro um projeto para prorrogação do auxílio emergencial até março de 2021. O valor do pagamento seria de R$ 300. No entanto, até o momento, o projeto não foi discutido ou votado em nenhuma das casas do Congresso Nacional.

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