Perdi meu pai para a Covid

Eu pedia muito pra ele se cuidar, mas ele repetia as frases do presidente em quem confiava

Perdi meu pai. José Berdusco Simões. Homem simples, da roça. E também muito carismático e apaixonado por política. Cresci vendo ele receber em casa governadores, deputados, prefeitos e diversas lideranças comunitárias sem nunca ter tido um cargo público ou eletivo. Ele aglutinava, alegrava, gargalhava alto, era inventivo e sonhador.

Perdemos ele para a Covid. Eu pedia muito pra ele se cuidar, mas ele repetia as frases do presidente em quem, pelo cargo e pela importância, ele confiava. Não quero politizar a morte do meu pai, mas é fato que a política pautou sua vida e marcou sua morte. Ele contraiu o vírus por volta do dia 15 de novembro, em meio a campanha eleitoral, com a qual estava envolvido. Morreu no dia 22 de dezembro. Saúde era o que ele mais queria “pra viver mais sessenta anos”, como disse no discurso de aniversário dos 60. Mas na fé de que o presidente estivesse certo, recusou em reconhecer a gravidade da doença e se expôs ao vírus.

Repetia que tinha histórico de atleta “e dos bons”. O que também é um fato. Jogou tanta bola que chegou a receber proposta do Palmeiras. Mesmo sendo santista roxo ele queria muito, claro, mas meus avós com as questões deles e daquela época não deixaram. Por esse motivo ele nunca impediu a mim e às minhas duas irmãs de irmos atrás dos nossos sonhos. Deixou o interior do Paraná há vinte anos para nos dar melhores condições de educação na capital.

Morreu aos 63. Passou seu último aniversário intubado. Foi quase um mês de angústia pra família recebendo notícias uma vez ao dia do hospital que leva seu nome, o São José, na região metropolitana de Curitiba. E eu que também tenho José no meu nome, espero levar comigo um pouco do caráter, da honestidade, da humildade, da generosidade e da vontade de trabalhar e ajudar as pessoas que ele tinha. Te amo pai e obrigado por mesmo diante das nossas enormes discordâncias ter me permitido ser quem eu sou e termos nos respeitado.

Se cuidem e cuidem de quem vocês amam.

Sobre o/a autor/a

26 comentários em “Perdi meu pai para a Covid”

  1. Boa noite, seu exatamente o que está sentindo, na data de 14/03/2021 também enterramos meu pai, vítima de uma parada cardiorrespiratória, causada pela covid, tinha 78 anos, me ensinou a ser a pessoa que sou, foi um homem íntegro, cuidou de 5 filhos que não eram seus, hoje todos homens e mulheres de bem.
    Vai com Deus meu eterno herói.

  2. Maisa Herrera T de Carvalho

    Também perdi meu pai, José Paulino de Carvalho, pela Covid-19 na mesma data em que você perdeu o seu, 22/12/2020.
    Meus sentimentos, entendo sua dor estou arrasada…

  3. Leonildo Andrade de Santana

    Caro Eduardo, grato por seu gesto de compartilhar conosco sua dor, pois ela nos traz uma conscientização de quanto devemos levar em conta os cuidados com a COVID.
    Creio q cada um de nos tem alguém próximo q ja perdeu um ente para essa doença e quando vemos políticos estrupidos fazendo politicagem com a vacina nos sentimos enojados com tamanha falta de empatia. Que possamos ter dias melhores em 2021 e q a vacina chegue logo.

  4. Parabéns Eduardo pela iniciativa,mesmo num momento tão difícil , partilhar sua experiência para de dor para concientizar as pessoas,somos vizinhos e estavamos acompanhando a tragetoria dele , muita força para toda a família,e parabéns pela atitude .

  5. * Boa noite Eduardo.

    * Em primeiro lugar deixo saber que sou empático com seus sentimentos de perda. Sinceros sentimentos por ela.

    * Realmente, não devíamos politizar fatos que nos deprimem. E, por enquanto, minhas perdas foram os quase 200.000 óbitos (somente no Brasil). Por empatia, sinto-me solidário aos milhões afetados.

    * Algo que esta mais que claro, o não ter sido mostrado a nível de governo federal no Brasil. E o mal exemplo, infelizmente, esta afetando milhões e milhões de brasileiros. Se não da forma como afetou seu pai, de outro modo bem pior, transformando pessoas humanas em zumbis, que nada mais fazem que imitar um transgressor.

    * Pela definição grega, toda ato humano é politico. Por mais cuidado que a gente tem em escrever o que pensamos, sempre haverão os que entenderão diferente do que desejamos transmitir.

    * Em meu caso particular, não abordo o assunto por criticismo, partidarismo ou ideologia. Estudei veterinária. E em criatórios de aves, suínos etc, aprendemos que a única forma de termos sucesso é trabalharmos com a prevenção, ou seja, antes que oferecer tratamento melhor é não deixar os animais adoecerem.

    * O que vimos acontecer no Brasil foi uma aposta feita pela atual administração na propalada imunidade de rebanho. Ou seja, deixar que a doença tome conta, “morram os que tiverem que morrer”, para que os sobreviventes obtenham a imunidade adquirida.

    * Ora, se nos na veterinária não nos damos ao luxo dessa alternativa, por que fazer-se assim com pessoas humanas?

    * Essa decisão não foi política no sentido estrito. Foi o maior equivoco administrativo jamais ocorrido em quaisquer governanças anteriores. E por equívocos muito menores o Brasil saiu `as ruas em busca de dois impeachments, os quais obteve sucesso.

    * Tem-me sido admirável como boa parte da população brasileira esta não apenas resignada com a busca pela imunidade de rebanho, esta ela própria se comportando como um rebanho de ovelhas, sendo governadas por uma alcatéia contaminada pelo rabdovírus.

    * Infelizmente, com a continuidade do apostar em tratamento e fazer pouco caso da vacina, ja sabemos que milhares de pessoas ainda morrerão, e milhões que sobreviverão sofrerão perdas semelhantes `as nossas.

    * A tristeza maior será as pessoas, alem de enganadas, se acostumarem `a dor e isso vir a transformar-se em tragédia maior. Nem vou revelar o que penso. Que cada um que ler reflita.

  6. Eduardo, sinto muito. Também perdi meu pai em uma situação muito parecida com a sua, ele também desconsiderava a capacidade letal do vírus, por ser um homem forte, e por acreditar no genocída, faz 6 meses de sua partida.

    Passei 16 dias trancado, isolado com ele em um quarto de hospital, tinha a esperança de trazê-lo para casa, mas não deu, ainda dói muito e ainda estou muito mal.

  7. Meus Sentimentos. Perdi minha mãe para Covid em 24/12. Ela estava isolada e um parente negacionista levou o vírus para ela no dia 08/12, aniversario de minha mãe. O presente de grego regado à politica e ignorância levou a vida da minha querida. Me solidarizo a você. Força!

  8. Homenagem e desabafo importante! Lugar para elaborar o luto e também de contribuição para informação e alertar de que sim, precisamos nos cuidar. Grata

    1. Perdi meu pai no dia 29/12 sepultamos ele no dia 31 /12 , perdeu a vida pra esse vírus maldito , vivia de máscara mas por algum descuido se contaminou. É muito doído saber q ele passou 3 dias implorando pra ter contato com a família e isso foi negado , para cala lo foi melhor extubar. Uma covardia imensa com o paciente e a família.

  9. Sinto muito pela sua perda.
    Eu sei o que você está passando.
    Perdi meus pais pelo COVID também.
    Meu pai(73anos)faleceu dia 26/10/20 às 9:30hs.
    Minha mãe (70 anos) faleceu dia 27/10/20 às 00:05hs.
    Os dois ficaram internados juntos, no mesmo quarto na UTI por 15 dias, só minha mãe ficou entubada.
    Eu visitei eles 2 vezes, última vez fiquei transtornada, tanto que estavam desabilitados.
    Somente Deus para nos confortar, nos dar forças para enfrentar uma perda assim.
    Mas Deus sabe de todas as coisas.
    Temos que ser gratos pelos anos vividos, pelos aprendizados e principalmente por nos dar a vida. Guardar somente as boas lembranças.
    2020 ficará para história, um ano para refletirmos sobre o que fazemos nessa vida, valorizarmos as pessoas que amamos, viver o momento presente, valorizar o que temos e ser gratos por tudo. Vamos lembrar das boas lições que aprendemos nesse ano, sem lamentações.
    Tudo está nas mãos de Deus, ele sabe o que é melhor para cada um de nós.

  10. Sinto muito pela sua perda.
    Eu sei o que você está passando.
    Perdi meus pais pelo COVID também.
    Meu pai(73anos)faleceu dia 26/10/20 às 9:30hs.
    Minha mãe (70 anos) faleceu dia 27/10/20 às 00:05hs.
    Os dois ficaram internados juntos, no mesmo quarto na UTI por 15 dias, só minha mãe ficou entubada.
    Eu visitei eles 2 vezes, última vez fiquei transtornada, tanto que estavam desabilitados.
    Somente Deus para nos confortar, nos dar forças para enfrentar uma perda assim.
    Mas Deus sabe de todas as coisas.
    Temos que ser gratos pelos anos vividos, pelos aprendizados e principalmente por nos dar a vida. Guardar somente as boas lembranças.
    2020 ficará para história, um ano para refletirmos sobre o que fazemos nessa vida, valorizarmos as pessoas que amamos, viver o momento presente, valorizar o que temos e ser gratos por tudo. Vamos lembrar das boas lições que aprendemos nesse ano, sem lamentações.
    Tudo está nas mãos de Deus, ele sabe o que é melhor para cada um de nós.

  11. Deve ser muito difícil passar por tudo isso. Meus pêsames.

    O que não consigo entender é como seu pai e outras milhares de pessoas nesse mundo conseguem confiar tão cegamente em um político, não importa de qual partido e ideologia.
    Mas é infinitamente mais grave quando se vai contra todo o mundo científico e todas as pessoas de bom senso. Bolsonaro é um cara que passou 30 anos na vida pública sem fazer nada que presta, só propagando ódio por minorias e desinformação. Alguém ainda se lembra da sua defesa da pílula do cancer, que só serviu para enganar e desiludir milhares de doentes? Depois de se eleger presidente continuou fazendo a mesma coisa, mas agora com poder muito maior de destruição.
    A idolatria de políticos e celebridades é um problema grave que ninguém discute muito. Politico é um funcionário do povo. O povo tem que cobrar e elogiar quando este faz o bem, mas nunca idolatrar ou confiar cegamente.

  12. Meus sentimentos meu caro pela perda do pai querido. É a vida ! Que DEUS o receba em PAZ e conforte sua Família. Parabéns pelo depoimento e pela coragem de expor a triste e péssima escolha do seu pai ( na minha opinião), escolha esta que também é de muitos pais neste Brasil, O que piora em muito nossa situação de melhor controle dessa pandemia por aqui. O desserviço que este sr. presidente presta à nossa Nação é de uma brutalidade sem limites. Triste.´ É um genocida não tenho dúvidas disso! (PRAM)

    1. Maisa Herrera T de Carvalho

      Também perdi meu pai, José Paulino de Carvalho, pela Covid-19 na mesma data em que você perdeu o seu, 22/12/2020.
      Meus sentimentos, entendo sua dor estou arrasada…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima