Curitiba está em compasso de espera por nova onda Covid-19

Ainda não se sabe o que explica a diminuição de casos no início de janeiro, mas especialistas andam preocupados com um novo pico de infecções

Há duas semanas Curitiba vive uma calmaria em seus serviços de saúde. UPAS e hospitais, que viram o colapso de perto no início de dezembro, acompanharam uma redução significativa no número de atendimentos. Caíram também os números de novos casos de Covid-19 confirmados na cidade. A sensação, o Plural ouviu de profissionais da linha de frente, é de ansiedade pelo que vem por aí.

É que a cidade estava no meio de uma curva ascendente de casos quando a tendência se inverteu sem causa clara. E epidemiologistas no país inteiro esperam que as festas de fim de ano resultem em mais infecções.

Calmaria antes da tempestade?

O Plural voltou aos dados e conversou com profissionais da saúde para explicar o que aconteceu e o que pode acontecer no cenário da pandemia de Covid-19 em Curitiba.

Primeiro, sim, estamos num momento de “calmaria”. Não é bem um momento de calma porque os números de novos casos confirmados de Covid-19 na cidade está ainda acima do pico registrado em julho. Já o número de óbitos caiu, mas permanece acima de 80 mortes por semana, um índice semelhante ao do pico de julho.

A redução nos números confirmados pode ter uma explicação: um menor número de pessoas procurando fazer exames para Covid-19. Antes de 20 de dezembro, as unidades de processamento de exames PCR-RT para Covid-19 estavam analisando 8 a 9 mil exames por dia em Curitiba (de todo Estado). Esta semana, o Plural apurou, esse total não chega a 3 mil.

Um dado ajuda a complicar esta análise: o número de pessoas internadas em UTIs e enfermarias Covid-19 caiu também. Mas há duas formas de interpretar isto.

Primeiro é preciso entender que Curitiba não faz busca ativa de casos de Covid-19. São encaminhados para o exame os pacientes que procuram os serviços de saúde com sintomas. De forma que, se estão sendo feitos menos exames, é porque menos gente está procurando os serviços de saúde.

A Covid-19 é uma doença que tem apresentações diferentes em diferentes pessoas. Segundo o relatório da missão da Organização Mundial de Saúde (OMS) na China, cerca de 80% dos casos confirmados de Covid-19 são de pacientes com sintomas leves a moderados. 13,8% desenvolvem casos graves e 6,1% se tornam sintomas críticos.

Se estas proporções se mantêm, uma redução no número de casos deveria vir acompanhada de uma redução no número de internações, que foi o que de fato aconteceu nas semanas do Natal e Ano Novo. Isso indica, pelo menos a princípio, que a redução de casos confirmados foi consequência da redução de casos de fato. Ou seja, as pessoas com sintomas não deixaram de procurar os serviços de saúde.

Mas então isso quer dizer que mesmo com toda movimentação do Natal os casos caíram mesmo? Sim e não. Da exposição ao início dos sintomas, em média, segundo Center for Disease Control and Prevention (CDC), órgão de saúde pública dos Estados Unidos, passam 4 a 5 dias (mas podem chegar a até 14 dias).

Isso, na prática, quer dizer que se houve redução de casos a partir do dia 12 de dezembro, isso é reflexo de uma redução na contaminação entre 4 a 14 dias antes. No caso, isso quer dizer início de dezembro. Mas o que aconteceu no início do mês de dezembro que resultou em queda de casos por volta de 12 de dezembro?

Os dados de mobilidade do Google em Curitiba mostram que houve redução na frequência de pessoas em locais de trabalho e no transporte coletivo, com picos de retração aos fins de semana e de aumento em 20 de janeiro. Ou seja, se houve redução entre o Natal e o Ano Novo, é porque a população se aglomerou e se expôs menos a contaminação no início do mês.

Os mesmos dados do Google mostram também uma retração mais intensa na frequência de pessoas no transporte coletivo e locais de trabalho a partir de 23 de dezembro. Então, seguindo o mesmo raciocínio anterior, podemos esperar ainda uma retração de casos agora no início de janeiro?

Não necessariamente. Nos dias anteriores ao Natal e no Ano Novo, cerca de 250 mil pessoas deixaram Curitiba via Rodoferroviária. Nas rodovias que levam ao litoral do Paraná e Santa Catarina, o movimento nesse mesmo período chegou a ter picos de 2.200 carros por hora.

O medo de epidemiologistas e profissionais da linha de frente é que, ao invés de se proteger e ficar em pequenos grupos familiares nas festas de fim de ano, as pessoas tenham (e muitas notícias desses dias mostram que sim) participado de festas com aglomerações no litoral.

O resultado disso vai começar a aparecer nos próximos dias, uma vez que o período de incubação de possíveis infecções vai terminar e quem se contaminou começará a mostrar sintomas e a procurar as unidades de saúde.

De acordo com o CDC, após a exposição ao vírus, o paciente leva de 4 a 5 dias em média para apresentar sintomas. Neste período, ele é mais contagioso – ou seja, mais capaz de transmitir o vírus – entre 1 a 3 dias antes do início dos sintomas. Após os início dos sintomas este paciente poderá piorar e precisar de internação em 5 a 8 dias.

Se imaginarmos que as maiores aglomerações aconteceram na festa de Ano Novo, as pessoas contaminadas aí poderão começar a apresentar sintomas – e a fazer exames – esta semana. E os casos mais graves deverão começar a ocupar leitos de hospital em meados da semana que vem.

Redução de riscos

Apesar do clima de relaxamento que as festas de fim de ano trouxeram, ainda não é tarde para conter os danos causados. Se você participou de festas de Natal e Ano Novo com aglomeração e se expôs a riscos, é importante que, ao voltar para Curitiba, se coloque em isolamento. Isso quer dizer permanecer em casa, sem contato com outras pessoas.

Esse isolamento deve incluir também evitar contato com outros moradores da casa que não tenham participado das mesmas festas que você.

Esse cuidado evita que, caso você esteja infectado, passe a doença para mais pessoas e as chances de sobrecarga no sistema de saúde nas próximas semanas.

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