Curitiba começa vacinação com Coronavac e sem previsão de segunda dose

Com a primeira leva da Coronavac Curitiba deve aplicar dose inicial da imunização em quase todo público da fase 1

O prefeito Rafael Greca (DEM) anunciou esta semana que a vacinação da população de Curitiba para Covid-19 começa no próximo dia 20 de janeiro. A data foi definida pelo Ministério da Saúde, que espera distribuir 8 milhões de doses da vacina para todo o país já na próxima segunda-feira, dia 18. Mas na guerra de desinformação que vivemos é difícil saber o que é real e o que só marketing político.

Em Curitiba a concretização dos planos de Greca depende da ação do Ministério da Saúde que solicitou a entrega de seis milhões de doses da vacina Coronavac/Butantan na próxima segunda, dia 18, depois que o envio de um avião para buscar vacinas na Índia fracassou.

As doses da Coronavac serão entregues no Centro de Distribuição e Logística do Ministério da Saúde, no Terminal de Cargas do Aeroporto Internacional de Guarulhos. De lá serão transportadas por via terrestre para os estados do Centro-Oeste, Sul e Sudeste.

O plano nacional de vacinação divulgado pelo Ministério não especifica a quantidade de doses que serão distribuídas para cada estado. Considerando apenas o percentual de população dos estados em relação ao total do país, o Paraná poderá receber entre 243.000 a 324.000 doses. À RPC TV o secretário de Estado da Saúde do Paraná, Beto Preto, disse que a expectativa é que o estado receba 300.000 doses da Coronavac.

Isso significa a possibilidade de vacinação de cerca de 150 mil pessoas considerando as duas doses e um percentual de perda operacional de doses de 5% (estabelecido pelo próprio Ministério). Isso representa pouco mais da metade dos profissionais de saúde do estado.

Já a meta da Secretaria de Estado da Saúde (SESA) é vacinar 250 mil pessoas em todo estado na primeira fase da vacinação com apenas uma dose. A princípio o lote que deve ser entregue pelo Butantã a partir do dia 18 seriam suficiente. O problema, porém, é que ainda não está claro quando virá o segundo lote doses, o que garantiria a segunda dose de todas as 250 mil pessoas vacinadas

A documentação técnica da Coronavac aponta que a segunda dose da vacina deve ser aplicada entre 14 e 21 dias após a primeira dose. Não está claro o que acontece caso este prazo seja maior. Mas sabe-se que com apenas uma dose a eficácia da vacina fica abaixo dos 50,4% divulgados (este valor foi calculado para a aplicação de duas doses).

Previsão de doses de vacina na primeira fase por regional no Paraná. Fonte: SESA

Quem Curitiba irá vacinar?

Em Curitiba, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) espera vacinar 79 mil pessoas na primeira fase. A estrutura criada pela prefeitura no Centro de Exposições Positivo, no Parque Barigui, deverá vacinar 5.400 pessoas por dia. Se tiver todas as doses necessárias, a SMS conseguirá vacinar todas as pessoas previstas na primeira fase em 15 dias.

O problema, porém, é que a cidade não terá todas as doses neste primeiro momento. Segundo a Sesa, toda a regional metropolitana, que compreende Curitiba e as cidades da região metropolitana, receberá 77.800 doses da Coronavac.

Se considerarmos o prazo máximo para a segunda dose da vacina, a regional precisará de pelo menos outras 77,8 mil doses a partir do dia 10 de fevereiro. Até lá teremos outras seis milhões de doses da Coronavac? Não se sabe.

Sem todas as doses, Curitiba deverá priorizar no primeiro grupo os profissionais que irão trabalhar na aplicação das vacinas, profissionais de saúde das unidades de referência no atendimento a Covid-19, idosos institucionalizados e indígenas, o que representa cerca de 45 mil pessoas.

Tudo indica que a prefeitura também teme depender do Ministério da Saúde para vacinar as pessoas da primeira fase. No último dia 14, Greca solicitou ao Ministério da Saúde autorização para que o município compre diretamente doses da vacina usando R$ 100 milhões reservados do caixa da prefeitura.

O valor é suficiente para adquirir 4,5 milhões de doses da AstraZeneca, cuja unidade custa em torno de US$ 4. Ou 900.000 doses da vacina da Pfizer, cuja unidade custa US$ 20. Mas é improvável que essas doses cheguem na cidade ainda no primeiro trimestre, uma vez que os países que já estão vacinando têm acordos com a Pfizer desde julho de 2020.

O plano de vacinação definido pela SMS estipula quatro grupos prioritários que totalizam 1,2 milhão de pessoas, ou seja, 2,4 milhões de doses de vacina.

Produção do Butantan

Coronavac: vacina está em produção no Brasil.

Se o Instituto Butantan está em plena produção, por que a preocupação com a entrega da segunda dose? A instituição não deixou claro quantas doses realmente poderá entregar, nem quando. Ao Plural, o Instituto informou que tem em estoque 10,8 milhões de doses, 6 milhões das quais serão entregues ao Ministério da Saúde (isso se uma ação movida pelo governo de São Paulo contra a entrega não prosperar).

No entanto, no início de dezembro o mesmo Instituto divulgou em sua página na Internet que a linha de produção da vacina teria capacidade de processar um milhão de doses por dia. E que até janeiro 40 milhões de doses estariam prontas. O comunicado enviado ao Plural no último dia 15 de janeiro, porém, informa que a previsão agora é que o Instituto chegue a 46 milhões de doses em março.

Além disso, as seis milhões de doses que serão entregues ao Ministério não foram produzidas aqui, e sim na China, pela Sinovac. Ou seja, ainda não correspondem à produção do Instituto. Isso indica que a produção de fato do Instituto desde dezembro não deve ter passado de 4 milhões de doses.

Há ainda a relação conflituosa entre o governo federal e o governo de São Paulo. Ao invés de um contrato de fornecimento com o Instituto, o Ministério da Saúde optou por determinar a entrega das doses. Segundo o Butantan, o órgão não informou o quantitativo de doses a serem destinadas para os estados, inclusive o que deverá ficar em São Paulo.

Além disso, a Coronavac ainda aguarda aprovação da Anvisa para uso emergencial, o que deve ocorrer no domingo. Essa aprovação se refere apenas às 6 milhões de doses produzidas pela Sinovac. Um novo pedido deverá ser feito em relação as doses produzidas no Brasil, pelo Butantan.

AstraZeneca

A vacina Oxford/AstraZeneca, que será produzida no Brasil em parceria com a Fiocruz, é outra aposta para imunizar a população. A instituição já pediu autorização para uso emergencial de dois milhões de doses, porém são as unidades que deveriam ter sido retiradas pelo governo brasileiro esta semana.

No entanto, após anunciar o envio do avião, o governo brasileiro adiou a decolagem e, por fim, anunciou que irá usar a aeronave para enviar oxigênio para Manaus (AM). Um porta-voz do governo indiano declarou que é muito cedo para o país exportar vacina, uma vez que a campanha de vacinação da população local acabou de começar.

A Fiocruz também prevê a produção de vacina a partir da importação do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), com as primeiras entregas em fevereiro. A meta da instituição é produzir 50 milhões de doses até abril e chegar a um total de 100,4 milhões em julho. Mas isso depende da entrega, ainda em janeiro, do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA).

A Fiocruz também prevê a produção em solo brasileiro do Ingrediente Farmacêutico Ativo já no segundo semestre de 2021, o que viabilizaria a possibilidade de autossuficiência nacional para a vacina de Covid-19. Não está claro, no entanto, o quanto da estratégia da Fiocruz será afetada pela confusão na negociação entre o governo brasileiro e o indiano que culminou com a frustração da entrega de 2 milhões de doses da vacina esta semana.

Há ainda a possibilidade de compra de vacinas da Pfizer, mas a empresa não solicitou à Anvisa autorização de uso emergencial. O Brasil não concretizou a compra do produto. Apenas assinou um memorando para aquisição de 8,5 milhões de doses no primeiro semestre de 2021 e 61,5 milhões de doses no segundo semestre.

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