Como escolher uma escola para seu filho? 10 sinais importantes a considerar

Alguns sinais mostram quando a escola não é democrática, inclusiva ou não consegue segurar sua equipe pedagógica

Escolher uma escola para os filhos não é uma tarefa fácil. Especialmente porque não se trata de uma escolha pontual, mas algo que você vai ter que continuar avaliando enquanto a criança cresce e se desenvolve. Além disso, muito do que faz uma escola ser uma “boa escola” tem a ver com a dinâmica das pessoas dentro da instituição, o que é difícil de avaliar numa visita.

Mas há alguns sinais que indicam que algo pode estar fora do lugar ou ser inadequado, incoerente com o discurso da instituição. A repórter do Plural e mestre em Educação, Rosiane Correia de Freitas, explica dez sinais que devem ser analisados com cuidado pelos pais.

“A escola ideal é sempre aquela que faz sentido dentro da dinâmica familiar. Ou seja, ela se encaixa nessa dinâmica tanto econômica quanto socialmente, respeita os valores familiares sem deixar de expor a criança à pluralidade da sociedade em que ela está”, explica. “Hoje a pressão financeira que a educação coloca sobre as famílias é muito grande e nem sempre o sacrifício que os pais fazem pagando mensalidades exorbitantes se traduzem em real qualidade de ensino, nem em remuneração justa para os professores”, completa.

Freitas também indica que os pais precisar saber que, se por um lado a escola que eles frequentaram não faz mais sentido no mundo de hoje, por outro modismos não são a resposta para uma educação de qualidade. “A escola que eu frequentei não existe mais porque as crianças de hoje não são como as da minha infância. Então é natural que os pais se sintam perdidos e apegados a valores que não fazem sentido na sociedade de hoje. Mas abraçar modismo também não é resposta. O que era importante no passado e que continua importante hoje é o fator humano: uma boa escola tem bons profissionais, da cantina à sala de aula”.

1 – Equipe pedagógica muito nova

Você anda pela escola e a professora mais velha parece mal ter chego aos 20 anos. As professoras auxiliares parecem todas recém-aprovadas no vestibular. A idade média parece só aumentar no setor administrativo. Não se trata de preconceito com pessoas mais novas. É da natureza do setor que jovens estudantes passem parte de sua formação acadêmica nas escolas, aprendendo na prática sob a orientação de profissionais mais experientes.

Mas em escolas em que as condições de trabalho não são boas, a tendência é que professoras com mais experiência não permaneçam por muito tempo no corpo docente. Uma boa equipe sempre vai ter uma composição equilibrada de profissionais em vários estágios da carreira. A ausência de equilíbrio e o excesso de gente muito nova e inexperiente é algo que deve ser analisado com cuidado.

A escola e as profissionais devem ser questionadas a respeito. É interessante questionar também a forma de contratação das profissionais, a proporção de professoras formadas em relação a estagiárias e até mesmo o valor da remuneração e eventuais benefícios que a escola oferece ao corpo docente. Lembre-se que este ano o piso para o magistério foi reajustado pelo governo federal para R$ 4.420,55 para 40 horas semanais.

2 – Ausência de diversidade

Sempre que se vai avaliar uma nova escola, observe os grupos de crianças. Há diversidade? Você pode observar crianças de diferentes raças/etnias? Há crianças Down, com deficiência física? O corpo docente é diverso?

As pessoas costumam ver a diversidade e a inclusão como pautas de grupos específicos, mas o fato é que uma escola plural é uma escola melhor. Ela é menos resistente a diversidade que as crianças trazem e busca lidar com os conflitos e desafios que surgem daí.

Mas infelizmente muitas escolas resistem ao diferente. Elas encaram o aluno deficiente como um “problema” que terá um custo mais alto e causará distúrbio na rotina escolar. Isso é bastante óbvio quando se trata de uma característica evidente, como uma deficiência física, Síndrome de Down ou autismo. O resultado é que menos crianças “diferentes” são admitidas. Ou se chegam a entrar na escola, são levadas pedir para sair por não se sentirem acolhidas.

Nos últimos 30 anos a educação e a ciência evoluíram muito em reconhecer as diferenças na forma como as pessoas processam informações e aprendem. Essas descobertas podem potencializar, e muito, o processo educativo, mas a escola precisa estar disposta a abrir mão de rotinas rígidas e concepções ultrapassadas para tirar vantagem disso.

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3 – É contra a “Ideologia de gênero”

Adquira o hábito de perguntar, ao visitar uma escola, qual a posição dela em relação à “ideologia de gênero”. O termo, inventado nos anos 1990 por movimentos fundamentalistas religiosos dos EUA, foi importado para o Brasil para servir de guarda-chuva a guerra contra a educação sexual. É isso mesmo que você leu: dizer que é contra ‘ideologia de gênero’ quer dizer ‘não queremos educação sexual’.

Nas últimas décadas a educação sexual evoluiu para reconhecer aquilo que a escola já havia percebido: a diversidade sexual de seus alunos. Queira ou não, alunos gays, transgênero sempre estiveram na escola, mas passaram a ser incluídos, o que também ajuda a reduzir casos de bullying e violência contra esses grupos.

Mas na esteira do pânico moral promovido pelo fundamentalismo religioso, essas mudanças passaram a ser “denunciadas” como “promoção do homossexualismo”, como se fosse possível pelo simples acesso à informação “converter” alguém de hetero a homossexual (não é, só para deixar claro).

O problema é que muitas escolas, desesperadas pela grande perda de alunos nos últimos anos, passaram a incorporar certos discursos ao discurso de venda. E afirmam sem pudor “não promover ideologia de gênero”. Na prática essa afirmação pode não ter efeito prático nenhum porque a educação sexual não pode ser retirada do currículo porque ela está na Base Nacional Curricular, mas a posição da escola pode resultar num ambiente hostil e preconceituoso e até mesmo em conivência com bullying.

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4 – Coisas são mais importantes que pessoas

No site da escola tem fotos dos prédios, inúmeras citações a equipamentos como tablet, computadores, kits de robótica, quadros interativos etc, mas nem uma palavra sobre a equipe de professores e seus currículos? Tem que analisar melhor isso aí.

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5 – Excesso de exposição em redes sociais e descuido com uso da imagem dos alunos

A escola quer que você assine uma única autorização genérica para todo e qualquer uso de imagens dos seus filhos? As redes sociais da escola estão lotadas de fotos das crianças quase que em tempo real? Nananinanão.

Se a função da escola é educar e um dos principais desafios para essa geração é justamente aprender a lidar com a exposição excessiva de imagens e informações pessoais, como confiar numa instituição que de saída já é descuidada com isso?

Não existe nenhuma razão para a escola te forçar a assinar uma autorização de uso de imagem dos seus filhos genérica. A autorização deve ser sempre para cada situação específica para quem a criança e a família tenham controle sobre o que está sendo exibido e onde. Além disso, a escola deveria ser a primeira a evitar a divulgação de imagens de seus alunos, preservando um direito que eles têm mas que não podem cobrar por conta da idade.

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6 – Sem grupos de pais

Se a escola não oferece nem estimula a comunicação entre os pais isso é um enorme sinal vermelho. Quem já tem filho na escola sabe o quanto é importante conhecer os pais dos colegas da criança. Ajuda a criar laços entre elas, marcando visitas e brincadeiras fora do horário escolar. Além disso os pais se ajudam a manter o controle sobre a agenda escolar e a rotina.

Mas há escolas de morrem de medo de pais que se falam porque sabem que isso pode levar a mais reivindicações junto a escola. Algumas chegam ao cúmulo de ter regras para nunca receber grupos de pais, mas só famílias individualmente. Isso é péssimo para a comunidade escolar, que perde em democracia e em construção de uma comunidade saudável. Também dificulta a resolução de conflitos.

7 – Última moda

O discurso da escola acerta todo o bingo de palavras da moda em educação: robótica, aula de programação, educação digital, cultura maker, ensino bilingue, educação integral, termos em inglês que poderiam facilmente ser substituídos por palavras em português. Impossível dar conta de tudo isso. Será que a escola tem alguma personalidade própria ou ela só está nadando na direção do momento? Tenha em mente que desde 2016 as escolas privadas de Curitiba perderam 13 mil alunos e na hora de recuperar o prejuízo o discurso pode prometer mais do que a instituição é capaz de entregar.

Curitiba: Escolas particulares perderam 13 mil alunos desde 2016

8 – Ensino bilingue

Aprender um segundo idioma ainda na infância é certamente um investimento no futuro do estudante. Existem pesquisas robustas que apontam que os idiomas aprendidos ainda na primeira infância são entendido como o idioma materno. Num mundo integrado e com tantas possibilidades de intercâmbio, viagens e até trabalho, certamente é desejável estar num ambiente em que esse aprendizado é estimulado.

O problema é que o ensino de idioma exige profissionais qualificados tanto no idioma a ser ensinado quanto em metodologia de ensino. Um profissional desse custa caro. No ensino bilingue tem ainda o agravante de que não se trata de um professor do idioma, mas de vários profissionais que precisam estar com o idioma na ponta da língua e ainda saber lidar com as particularidades do ensino numa outra língua.

Lamento informar, mas escolas que pagam mal não tem profissionais qualificados para atuar nessa área. Uma pessoa com formação superior e domínio do inglês ou espanhol é um profissional valorizado. Fique especialmente atento ao currículo dos professores que vão conduzir o ensino bilingue.

Muitas escolas vendem o ensino bilingue, mas só entregam um ensino de idioma apostilado comprado de um serviço terceirizado. Dá até para considerar que isso se qualifica como aula do idioma, mas não como ensino bilingue que prevê a imersão, pelo menos em parte do período de aula, na língua que se está aprendendo.

9 – Sem autonomia

Nos últimos anos muitas escolas particulares foram compradas ou absorvidas por grandes grupos de educação. Esse modelo pode ser interessante se aumentar o conjunto de recursos à disposição dos estudantes e dos professores. Mas em muitos casos as unidades precisam sacrificar a própria autonomia em nome da rede. A autonomia escolar é um princípio extremamente importante que garante que a unidade irá ser capaz de se adaptar à realidade de sua comunidade.

https://www.plural.jor.br/escolas/autonomia-escolar-porque-o-alvo-de-ratinho-junior-e-importante-para-a-educacao/

10 – A escola quer um laudo

Sei que já falamos de inclusão, mas essa merece um comentário extra: a criança mal chegou na escola e já quer que os pais criem um calendário de consultas e exames para diagnosticar o estudante. Ou a criança apresenta dificuldades em sala de aula e a resposta é pedir a opinião de “especialistas”.

Calma lá, não estou dizendo que a escola não pode pedir aos pais o encaminhamento da criança a equipes da área de saúde. Claro que sim. Mas é função da escola também lidar com eventuais dificuldades, sugerindo abordagens com ou sem a atuação conjunta da família independente de laudo ou intervenção médica.

Um exemplo é a criança que tem dificuldade para acompanhar o professor quando ele usa o quadro. A escola, ao detectar essa dificuldade pode sugerir aos pais que levem o aluno para fazer exames e poder descartar, ou não, problemas de visão. Mas enquanto isso a escola também pode propor trocar o local do estudante na sala de forma a facilitar a visão dele do quadro ou mesmo permitir que o professor observe mais de perto da dificuldade do aluno.

Não faz o menor sentido a escola jogar toda a responsabilidade nas costas da família e deixar a criança lidando com as próprias dificuldades enquanto o laudo não vem.

O que fazer em caso de problemas com a escola?

Os pais que estão tendo dificuldades com a escola têm várias opções para buscar ajuda. O Brasil tem uma robusta legislação de proteção à infância e a Constituição de 1988 deixa claro que a educação é um direito universal.

O primeiro passo quando há problemas com a escola é tentar conversas com as próprias instituições. Peça reuniões com a coordenação pedagógica, a equipe de professores e até mesmo a direção. Documente as decisões tomadas e promessas feitas e retome a conversa depois de um tempo para reajustar as expectativas.

Encontre outros pais com dificuldade. As escolas tendem a isolar problemas porque isso torna mais difícil identificar falhas sistemáticas. Além disso, muitos pais costumam ser protetores em relação à escola que escolheram, evitando críticas ou discussões. Para furar esse bloqueio, fale sobre as suas dificuldades na instituição. Naturalmente outros pais com dificuldades semelhantes vão trocar experiências contigo.

Procure o Núcleo Regional de Educação ou o Conselho Municipal de Educação, ambos órgãos que podem cobrar da escola o cumprimento da lei.

Procure o Centro de Apoio às Promotorias de Infância e Adolescência do Ministério Público (informações aqui). Ou o Centro de Apoio às Promotorias de Educação (dados de contato aqui). O MP tem autoridade abrir inquéritos civis para investir casos de descaso ou desrespeito a direitos protegidos e fazer a escola prestar esclarecimentos oficiais sobre a situação.

Note que o MP não irá advogar por você. Ele atua na proteção de direitos coletivos. Para uma ação judicial individual você pode procurar a Defensoria Pública.

É possível acionar também o Conselho Tutelar (procure o Conselho da sua regional), que pode também atuar para garantir o direito que está sendo desrespeitado. Confira abaixo a lista dos conselhos por regional:

Conselho Tutelar Bairro Novo – Vila Tecnologica, casa 1,2,3 e 4  – Sítio Cercado – Fone: (41) 3289-1272 / (41) 3564-7083 / 

Conselho Tutelar Boa Vista – Rua Avenida Paraná, 3600 – Rua da Cidadania Boa Vista, Térreo, Loja 33 – Bacacheri – Fone (41)3313-5705 /  3313-5691 / 3313-5682 / 3313-5694 

Conselho Tutelar Boqueirão – Avenida Marechal Floriano Peixoto, 8430 – Boqueirão – Fone (41) 3313.5560 / 3313-5508 / 3313-5562/ 3313-5576/ 3313-5414 / 3313-5432

Conselho Tutelar Cajuru – Rua Engenheira Enedina Alves Marques, 167 – Cajuru – Fone (41) 3267-7888 / 3266-9504 / 3267-1297 / 3267-5871

Conselho Tutelar CIC – Rua José Clemente de Oliveira, 56 – Cidade Industrial de Curitiba – Fone (41) 3221-2909

Conselho Tutelar Matriz – Avenida São José, 875 – Cristo Rei – Fone (41) 3363-7681 / 3262-6124 / 3363-4488 / 3262-9862 / 3362-4995

Conselho Tutelar Pinheirinho – Rua Jaime Rodrigues da Rocha; 92 – Pinheirinho – Fone (41) 3313-5607 / 3313-5462 /3344-9560 / (41) 3356-8344 

Conselho Tutelar Portão – Rua Carlos Klemtz, 1700 – Rua da Cidadania Fazendinha, Sala 52 – Portão – Fone (41) 3245-8096 / 3350-3974 / 3245-0739 / 3288-8106 / 3245-1252 

Conselho Tutelar Santa Felicidade – Rua Santa Bertilla Boscardini, 213 – Rua da Cidadania Santa Felicidade, Loja 17C – Santa Felicidade – Fone (41) 3221-2562 / 3221-2563 / 3221-2564 / 3221-2565 / 3221-2566 / 3221-2567 / 3221-2568 

Conselho Tutelar Tatuquara – Avenida Pero Vaz de Caminha, 560 – Tatuquara – Fone (41) 3289-6174 / 3265-2829 / 3227-5413

Sobre o/a autor/a

3 comentários em “Como escolher uma escola para seu filho? 10 sinais importantes a considerar”

  1. Quem é o autor deste texto (CPF)?
    Que conhecimento, estudos e quanto tempo de sua vida este autor se debruçou sobre o assunto educação?
    Ou melhor: este autor se quer sabe o que significa a palavra educação? Conhece a raiz etimologica dela? Fez algum estudo filosófico sobre este tema, educação, sobre o homem/antropologia?
    Claramente se vê, pelas suas afirmações (algo que ele não deveria fazer, já que não tem autoridade sobre o assunto) que nada sabe!!
    Espero que pouquíssimas pessoas tenho tido acesso a esse texto e as que tiveram tenham um mínimo de conhecimento para não serem mal influenciados por esses “pitacos” desajuizados!

    1. Rosiane Correia de Freitas

      Oi Joana, o texto indica claramente que se trata de uma análise feita por mim. Sou jornalista formada pela UFPR e mestre em Educação pela Federal também. O programa de mestrado da UFPR em educação é um dos mais bem avaliados do país. Além disso coordenei por quase 10 anos projetos de educação popular, fui professora por 9 anos na Universidade Positivo e já trabalhei em inúmeros projetos na área.
      Um abraço,
      Rosiane

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