Teatro é um bom negócio. E a cultura é um mercado bilionário

Com mais de 100 mil empregos gerados em dez anos, Festival de Curitiba é um exemplo do potencial da economia criativa, setor responsável por 2,6% do PIB

Depois de um ano suspenso por causa da pandemia, em 2020, e de uma edição online no ano passado, o Festival de Curitiba voltou aos palcos e às ruas quase 3 mil empregos diretos e indiretos gerados. Nas dez edições do evento, o Festival já gerou mais de 100 mil vagas de trabalho, uma mostra do potencial da economia criativa, setor responsável por 2,6% do PIB brasileiro. A expectativa de público é de pelo menos 100 mil pessoas, sendo 15 mil de outras cidades, até o próximo dia 10.

“Para fazer um monólogo precisamos de sete a oito pessoas. Ator, operador de luz, operador de som, camareiro, contrarregra, todo o pessoal atrás do palco”, diz o diretor do Festival, Leandro Knopfholz. As áreas de transporte e montagem de palco são as que mais empregam. “Os cenários sobem e descem do caminhão a todo momento. O pessoal que transporta o palco é um, o que monta é outro. E tem ainda atendentes, recepcionistas, seguranças e o exército das redes sociais.”

A maior parte dos contratados é de Curitiba ou região, segundo Knopfholz. “As pessoas que vêm de fora ficam impressionadas com a qualidade do pessoal que empregamos aqui. É uma força de trabalho já acostumada a atender qualquer demanda nessa área, de shows internacionais a espetáculos de teatro.”

Identificar oportunidades

Além de responder por 2,6% do Produto Interno Bruto brasileiro (ou cerca de R$ 226 bilhões no ano passado), a economia criativa gera quase 5 milhões de postos de trabalho no país. O investimento em cultura proporciona o contato com um público com potencial de consumo e que pode ajudar na criação de uma identidade positiva para a marca.

Segundo levantamento da empresa de pesquisas de mercado Kantar, gerar impacto cultural, ditar tendências e apoiar causas sociais estão cada vez mais entre os objetivos das empresas. A pesquisa mostra ainda que a relevância cultural de uma marca é um fator decisivo para a intenção de compra e recomendação no Brasil.

“O contato com a arte permite que a sociedade aumente seu repertório, que as pessoas tenham opções diferentes e sejam mais tolerantes. O empresário atento percebe essa tendência e investe em cultura.”

Leandro Knopfholz, diretor do Festival de Curitiba.

Os patrocinadores da 30.ª edição do Festival de Curitiba são: Grupo Uninter, da Junto Seguros, do Banco CNH Industrial, Bosch, Vivo, Copel, Instituto Cultural Vale, Da Magrinha 100% Integral e Paraná Banco.

Continuidade

Para Leandro Knopfholz, o Brasil ainda precisa identificar todas as oportunidades nessa cadeia econômica. “O Brasil consome a Disney, mas não exporta o carnaval. A gente consome o produto cultural, mas não exporta. Acho que o Brasil está um pouco atrás nessa percepção de que existe uma cadeia econômica por trás dessas atividades.”

Um exemplo de produto cultural bem trabalhado é o Cirque du Soleil, avalia o diretor do Festival. O que depende de planejamento e visão de médio ou longo prazo por parte de investidores e do poder público. “Não é um produto do acaso. A província de Quebec fez um trabalho voltado para a indústria criativa e para a exportação dos seus ativos criativos. Entendeu como fator de geração de emprego, renda e percepção positiva: é uma indústria que não polui, forma e diverte.” 

O esporte de competição também pode ser tratado como produto cultural a ser exportado por altos valores. Knopfholz fez mestrado em Londres e acompanhou o crescimento da Premier League, a Liga Inglesa de futebol. “Há 20 anos o futebol inglês só tinha chutão pra cima. Foi feito um plano para que o futebol fosse visto como um ativo e foram feitos investimentos. Em 20 anos, se tornou a liga mais cara do mundo.”

Depois de identificar as oportunidades e investir, a palavra principal seria continuidade. “A partir do momento em que as políticas públicas perceberem que isso gera valor, acho que haverá uma continuidade. O agronegócio teve uma continuidade de 40 anos em suas políticas, o que fez do Brasil o maior produtor de soja do mundo.”

“Não falta uma política, um incentivo, falta um olhar para perceber que a cultura não é algo seletivo, não é feita para o artista, é feita para o público”.

Leandro Knopfholz, diretor do Festival de Curitiba.

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