São os oligarcas brasileiros melhores do que os russos?

Nos últimos dias avançaram as sanções de países e empresas em relação à Rússia, especialmente dos EUA e da União Europeia. Esta medida também visa pressionar oligarcas russos, ditos, amigos de Putin. Confisco de bens, congelamento e bloqueio de contas bancárias, dentre outras medidas.

Na esteira dessas medidas, os meios de comunicação corporativos, explicitaram as contradições e ligações dos oligarcas russos com o centro do poder e com o processo de apropriação das grandes empresas estatais, privatizadas após fim da União Soviética. Segundo o noticiário, os oligarcas russos são muito próximos, influentes e intimamente articulados com poder do Kremlin. A tentativa é de “criminalizar” os oligarcas russos, como maldosos, cumplices de Putin, além de terem suas fortunas origem duvidosa, suspeita e até criminosa.

Este enredo é conhecido e mais parece uma caricatura dos tempos da guerra fria. Aceitando as premissas da mídia corporativa, podemos considerar que existem oligarcas bons, honestos, democráticos, republicanistas; e oligarcas suspeitos, maus, corruptos e entranhados ao centro do poder. Reforçando um dualismo primário e maniqueísta; Putin é o mau e Zelenski o bem.

Cabe destacar que oligarquia significa, de modo geral, regime em que o poder está concentrado em poucas pessoas, famílias ou empresas. Consideremos aqui poder, não apenas no sentido político, mas também, e em especial, econômico. Desta forma, oligarcas são, em ultima instância, burgueses.

Inevitavelmente estas considerações nos remetem a pensarmos nas oligarquias tupiniquins. Em vários setores, como nas comunicações, no setor financeiro, na indústria pesada, no agronegócio, no setor energético, de alimentos. Não foram estes oligarcas brasileiros beneficiados escandalosamente do processo de privatizações? Não estão todos eles, senão dentro, na antessala dos poderes (executivo, legislativo e judiciário)? Não são beneficiários de vultosas isenções fiscais e renegociações tributárias? Há estados em que, donos de meios de comunicação, oligarcas da mídia, são até governadores, sabem? Não são os oligarcas brasileiros, sempre, muito próximos aos governos de plantão?

As oligarquias brasileiras, a burguesia, é responsável por todo o caos social, econômico, ambiental e sanitário que vivemos. Todas as corporações, associações e federações empresariais aderiram a esta aventura insana que vivemos. Não pela primeira vez, aceitaram e patrocinaram o rompimento das regras do jogo democrático, golpearam o povo e impuseram uma agenda catastrófica aos brasileiros, aceitando, inclusive entregar a presidência da republica a um sujeito como este que aí está.

Aceitar o enredo da mídia corporativa sobre os oligarcas russos seria o mesmo que imaginar que havia senhores de escravos bons. A questão não está se são bons ou maus. O ponto central é que são senhores de escravos, que tem propriedade e controle sobre outros homens e mulheres. Que não percamos o discernimento, a centralidade não está no adjetivo e sim no substantivo. A dualidade entre bons ou maus oligarcas é estéril. Trata-se de que possamos construir sociedades sem oligarcas, seja na Rússia, seja no Brasil. A existência de oligarquias, em qualquer país do mundo é, um sério sintoma, imperativo da doença da desigualdade e da exploração. Como expressa a sugestiva canção, chamada “No Basta Rezar”, do grupo venezuelano Los Guaraguao; “En el mundo no habrará paz; Mientras hay explotación; Del hombre por el hombre; Y exista desigualdad”.

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