Brasileiro que escapou da Ucrânia dias antes da invasão russa volta a Curitiba

Pedro Bonatto vai publicar um livro com suas fotografias para arrecadar fundos para vítimas da guerra

O brasileiro Pedro Bonatto e ucraniana Iana Komarnytska se conheceram no Canadá, enquanto ambos estudavam em Toronto. Ela dançarina, ele fotógrafo e musicista. Ambos membros do mesmo grupo cultural que os levou a uma amizade e depois ao casamento.

Como ambos são artistas, viajavam muito a trabalho. Sempre que possível, porém, retornavam para perto dos pais – no Brasil e na Ucrânia, de onde saíram há quase dois meses por conta da guerra com a Rússia. Os pais de Iana não quiseram deixar o país.

No domingo (3) foram encontrados 410 corpos em município vizinho a Kiev, de acordo com agências internacionais de notícias. O conflito começou em 24 de fevereiro. Um dos motivos, entre outros, alegado pela Rússia para invadir o país vizinho é não querer que a Ucrânia integre a Otan, aliança militar comandada pelos Estados Unidos.

Há oito anos Bonatto conhece bem o tamanho da influência russa na Ucrânia. Apesar disso, nos dias que antecederam a invasão, os ucranianos ainda não acreditavam que o Kremlin iria, de fato, iniciar uma guerra.

O brasileiro teve trabalho em convencer a esposa a deixar o país. “Logo que diplomatas começaram a sair eu falei pra ela: vamos. Conseguimos sair quatro dias antes e fomos para Istambul, na Turquia. Depois disso aconteceu o primeiro ataque”, relembra.

Bonatto é gaúcho de nascimento e curitibano de coração. Criado no Paraná, ele deve chegar a Curitiba na próxima semana depois de visitar os pais em Vitória, no Espírito Santo. Embora já tenha morado no Canadá e nos Estados Unidos, a relação do brasileiro com a Ucrânia é mais afetiva.

“O que sinto mais falta é poder ir para lá. Ver meus amigos. É difícil ver a rua que eu passava todos os dias destruída”, lamenta.

Famílias chegam na Polônia depois de cruzar a fronteira da Ucrânia | Foto: © Unicef/Tom Remp

Ele e a esposa estavam em Odessa quando a situação ficou mais grave e apesar de terem conseguido sair, continuam mobilizados para ajudar quem ficou. “Quem está refugiado precisa de ajuda, mas quem ficou lá também. Então eu ajudo principalmente mulheres, gestantes e crianças através de instituições que conhecemos de lá.”

Ele vai lançar um livro neste mês com fotos de praticantes de dança do ventre – que é muito popular na Ucrânia. Toda renda será revertida para ajudar as vítimas da guerra. O livro Ventre pode ser adquirido por meio do site do artista: www.pedrobonatto.com.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 10 milhões de pessoas já foram forçadas a sair de suas casas desde que a guerra na Ucrânia começou, sendo que mulheres e meninas representam 90% dos deslocados. O número equivale a quase 25% da população ucraniana.

Orgulho de Curitiba

O Programa Mundial de Alimentos da ONU aponta que será necessário ajudar ao menos 3 milhões de cidadãos ucranianos nos próximos meses em virtude da guerra. Até agora foram despachados 40 mil toneladas de alimentos para a Ucrânia e vizinhos.

Fora da Ucrânia, a agência planeja apoiar 300 mil refugiados e requerentes de asilo. O número é uma fração dos cerca de 4,1 milhões que já fugiram da violência, segundo dados mais recentes da Agência da ONU para Refugiados, Acnur.

O Paraná recebeu 29 ucranianos no mês passado. Por meio da Humanitas as famílias receberam eletrodomésticos, roupa de cama e brinquedos para se estabelecerem no Brasil.

“Orgulho de Curitiba e do Brasil também, porque nesses momentos difíceis, se posicionar contra a guerra, pedir a paz e acolher é o que faz a diferença”, diz Bonatto.

O grupo que chegou a Curitiba é formado em sua maioria por crianças e mulheres e foram alojados na Primeira Igreja Batista.

Primeira igreja Batista de Curitiba recebe refugiados ucranianos | Foto: AEN

A beleza

Na segunda-feira (4), a estimativa da agência de notícias Reuters era de que ao menos 24 mil pessoas tenham morrido por causa do conflito. Outras 1,9 mil tiveram ferimentos. Também foram destruídos ao menos 1,8 mil prédios. Os prejuízos beiram a ordem de US$ 565 bilhões.

Para além as estatísticas, quem sobreviveu quer retomar a vida. “Com todo mundo que a gente fala lá, com todos nossos amigos, o sentimento é o mesmo para o futuro: paz”, conta Bonatto.

Havia uma expectativa de que os presidentes Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky se encontrassem pessoalmente para negociações de paz, mas interlocutores de ambos declinaram a conversa. O motivo, de acordo com a Reuters, foi o território da Criméia, que para a Ucrânia – e diversas outras nações – está ocupado ilegalmente, enquanto para a Rússia foi anexado de maneira legítima.

Apesar da situação crítica, Bonatto acredita que a união do povo ucraniano e de quem não concorda com a invasão fará a diferença. “Curiosamente um escritor russo foi quem disse: a beleza salvará o mundo (Fiódor Dostoiévski). Então vamos continuar fazendo nossa arte, ajudando mesmo à distância e mal posso esperar para voltar.”

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