“Quando a gente envelhece, pode piorar muito”, diz Hugo Possolo, dos Parlapatões

Hoje com 60 anos, ator e diretor participa do Festival de Curitiba com três espetáculos, encarando o conservadorismo, Shakespeare e Angeli

Se você der um google em “hugo possolo”, o resultado da pesquisa mostra em destaque: “Hugo Possolo, Palhaço”. Parece bullying típico de internet, mas não é. Hoje, com 60 anos, ele é muito mais do que um palhaço. O ator e diretor é um dos fundadores dos Parlapatões e está em Curitiba por causa do Festival de Teatro 2022.

Ao longo do Festival, os Parlapatões apresentam três espetáculos. Uma comédia que percorre o universo do cartunista Angeli (“Parlapatões revistam Angeli”). Outra comédia, de nome impronunciável, que brinca com Shakespeare (“[email protected]”, mas o pessoal diz apenas “pê-pê-pê” para falar da peça). Por fim, há um monólogo, chamado “Prego na testa”, em que Possolo está no palco absolutamente sozinho.

Há tempo

“Prego na testa” tem uma história fascinante. Porque a adaptação de Aimar Labaki, baseada em um texto de Eric Bogosian, faz parte do repertório dos Parlapatões há 17 anos. Possolo exercita esse solo há quase duas décadas.

O espetáculo solo trata de neuroses urbanas por meio de uma série de personagens, todos interpretados por Possolo.

Eric Bogosian, em cena da série “Succession”, da HBO. (Foto: Peter Kramer (HBO)/Divulgação)

Eric Bogosian é respeitadíssimo no meio teatro nova-iorquino. Porém, talvez você o conheça como um coadjuvante de personalidade em alguma série de TV – como “Billions” ou “Succession”. Se tiver mais de 45 anos, deve lembrar de “Talk Radio (1988), de Oliver Stone, filme em que interpreta um radialista vivendo uma crise pessoal.

Ao Plural, Possolo diz que ter lido Bogosian pela primeira vez foi algo incrível porque experimentou uma afinidade enorme com o nova-iorquino. “Ele trata de personagens que são muito contraditórios e, às vezes, até agressivos”, diz. “Você não acredita que essas pessoas falem aqueles absurdos.”

Os absurdos, aqui, dizem respeito a falas reacionárias e fascistas (para ver como uma peça de 20 anos atrás ainda pode ser recente). “A melhor maneira de criticar esse tipo de pensamento conservador”, diz Possolo, “é você mostrar o quanto ele é ridículo.”

Ainda pior

O ator capixaba admite que fica impressionado com certos textos teatros, justamente pela maneira como se mantêm atuais. “Porque a realidade, infelizmente, piorou”, diz.

Quando estreou “Prego na testa”, no Sesc Belenzinho, em São Paulo, era 2005 e Possolo tinha 43 anos. Hoje, ele tem 60. “Acho que quando a gente envelhece, a gente pode piorar muito”, diz o ator. “Mas eu acho que a gente precisa estar atento, principalmente ao que estão dizendo as novas gerações.”

Ele cita “transformações significativas” nos movimentos ligados a políticas afirmativas, a questões antirracistas, feministas e LGBTQIA+. “Talvez eu não tenha um lugar de fala, então tenho que ter um lugar de escuta e, como artista, ser sensível.”

Festival de Curitiba

“Prego na testa” teve sessões nos dias 29 e 30 de março, dentro do Festival de Curitiba 2022. Mas ainda é possível procurar ingressos para “[email protected]” (aqui) e “Parlapatões revista Angeli” (aqui).

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