Para Marcos Pamplona, a crônica é uma forma de revolução 

Escritor curitibano lança o livro de crônicas "O anjo da incerteza" neste sábado (13), às 11h, na Livraria Arte & Letra

Em uma de suas crônicas, Marcos Pamplona argumenta que uma vida não precisa ser extraordinária para render um livro. “Qualquer vida dá um livro”, diz o escritor. “A vida de uma mosca dá um livro. O que importa é a linguagem, o olhar que conformou o estilo.” 

Ele segue o raciocínio citando “Ulysses”, de James Joyce, como exemplo de uma obra incrível que fala sobre as banalidades de um dia mais ou menos comum para os personagens. “Escrever bem não quer dizer contar uma coisa extraordinária (embora isso possa fazer parte da boa narrativa). Escrever bem é contar extraordinariamente uma coisa qualquer.”

Marcos Pamplona

E é bem isso que Pamplona faz em várias das crônicas que escreveu para o Plural ao longo de quatro anos, a maioria ilustrada por Frede Tizzot. A primeira saiu em abril de 2019. A mais recente, no final do mês passado. 

Agora, parte desses textos, publicada no intervalo entre outubro de 2021 e fevereiro de 2023, dá origem ao livro “O anjo da incerteza”, que a Arte & Letra acaba de publicar.

Nascido em 1964, o curitibano Pamplona mora em Lisboa, mas está na cidade para lançar o livro neste sábado (13), às 11h, na Livraria Arte & Letra. O evento terá a participação dos jornalistas Ricardo Pedrosa Alves e Rogerio Galindo (editor-chefe do Plural), e também da atriz Raquel Rizzo, que vai fazer uma leitura dramática de uma das crônicas.

Além de escritor, ele também é editor e trabalha na Kotter Portugal, pela qual publicou um volume de poemas (“Transverso”, de 2016) e outro de crônicas (“Ninguém nos salvará de nós”, de 2021). 

Na entrevista a seguir, Pamplona fala sobre o que a crônica pode ou deve fazer. De quebra, cita Drummond, Verissimo e Rubem Braga. “Na luta de classes da literatura, a crônica é o povo”, diz.

“Garrafinha de rum”

Você acha que “crônicas” é uma boa maneira de definir os textos do livro “O anjo da incerteza”?
Em sua última crônica, depois de mais de seis décadas dedicadas ao gênero, Carlos Drummond de Andrade disse que o que se pode pedir de um cronista “é uma espécie de loucura mansa, que desenvolva determinado ponto de vista não ortodoxo e não trivial e desperte em nós a inclinação para o jogo da fantasia, o absurdo e a vadiação de espírito”. Ou seja, algo bem diferente da ideia usual que se tem de um relato do cotidiano, fiel aos acontecimentos socias ou vivências pessoais do autor. Estou com o Drummond. A crônica, no meio da conversa séria que o jornal mantém com os seus leitores, é uma garrafinha de rum. Nesse sentido, sim, são crônicas os meus textos de “O anjo da incerteza”.

“Respeitar a inteligência”

Na sua opinião, o que uma crônica pode ou não pode fazer? Existem regras que ela deve respeitar?
Acho que uma crônica não pode ser ruim. O cronista tem que ser confiável, interessante, mesmo que delire. O leitor precisa se sentir levado pela mão para um passeio prazeroso pela linguagem e pela visão singular do autor. De resto, a crônica pode se abeirar da poesia lírica, como fez o Rubem Braga, ou da ficção mais desabrida, como vemos nas tramas humorísticas de Luis Fernando Veríssimo. A única coisa que ela deve respeitar é a inteligência do leitor.

“A crônica é o povo”

Numa entrevista, um cronista de um jornal paulistano disse que a crônica é um subgênero da ficção na literatura. Você concorda com essa ideia?
Na luta de classes da literatura, a crônica é o povo. Sempre leva na cabeça. Mas, não esqueçamos, às vezes é o povo quem vence. Existem crônicas como “O amor acaba”, de Paulo Mendes Campos, que destronam muito romance, conto e poema da elite literária. Eu penso que é justamente por ser subestimado, quase invisível, que o cronista está livre para escrever o que quiser, sem o peso da “superioridade” dos outros gêneros. Não lhe parece que estas são as condições ideais para se fazer uma revolução?

Livro

“O anjo da incerteza”, de Marcos Pamplona. Arte & Letra, 196 páginas, R$ 68. Crônicas.

O lançamento do livro, com a presença do autor, será neste sábado (13), às 11h, na Livraria Arte e Letra (R. Desembargador Motta, 2.011 – Batel). O evento terá a participação de Raquel Rizzo, Ricardo Pedrosa Alves e Rogerio Galindo.

Sobre o/a autor/a

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