Novo “Batman” conta com um herói melancólico e mais humano

Nova versão do Homem-Morcego se afasta do mundo fantástico dos super-heróis para ocupar a realidade sombria e cínica do film noir

Quando Christopher Nolan lançou, em 2005, sua versão realista do Batman, poucos acreditaram estar diante de um dos filmes mais influentes dos anos 2000. Na época, “Batman Begins” foi um fracasso de bilheteria e só alcançaria o status de fenômeno cultural alguns anos depois.

Com “O Cavaleiro das Trevas” (2008) e “O Cavaleiro das Trevas Ressurge” (2012), a abordagem de Nolan se transformou no padrão dos sonhos dos executivos da Warner. Assim, o estúdio procurou reproduzir o sucesso da trilogia Batman em outras franquias. Isso explica o Superman que quebrou o pescoço do General Zod em uma Metrópolis em ruínas (“Homem de Aço”, de 2013) e um segundo Batman que assistiu à destruição que um ser todo poderoso poderia promover no planeta Terra (“Batman vs. Superman: A Origem da Justiça”, 2016).

Nenhum desses títulos alcançou o êxito financeiro desejado. Além disso, depois do fracasso de “Liga da Justiça” (2017), o estúdio passou a focar em filmes mais contidos, como “Coringa” (2019). Este, além de se sair bem nas bilheterias, deu a Joaquin Phoenix o Oscar de ator. Agora, uma nova versão do Batman chega aos cinemas, incentivado pelo sucesso de “Coringa”.

Assassinato

Dirigido por Matt Reeves, que assina o roteiro ao lado de Peter Craig, “Batman” encontra a cidade de Gotham na noite de Halloween em que o prefeito é morto pelo misterioso Charada (Paul Dano). No local do crime, o assassino deixa um cartão para o Batman (Robert Pattinson). E, com o cartão, pistas que levam à descoberta de um esquema de corrupção envolvendo os homens mais poderosos da cidade.

Porém, o prefeito é apenas a primeira vítima do Charada. O vilão desenvolve uma série de armadilhas sádicas para expor os integrantes da quadrilha que domina Gotham há décadas. Cabe ao vigilante mascarado seguir os rastros dessa intrincada trama e salvar a cidade do caos no qual o Charada pretende mergulhá-la.

Enquanto “Coringa” foi muito influenciado pela obra de Martin Scorsese, o “Batman” de Matt Reeves busca inspiração em David Fincher, tanto na estética quanto na narrativa. Essa versão se afasta do mundo fantástico dos super-heróis e se firma na realidade sombria e cínica do film noir.

O personagem-título assume sua persona de “maior detetive do mundo”. E a investigação que conduz se torna uma solução eficiente para a exposição no filme. Pois cada passo da busca leva a conversas com criminosos, aliados e inimigos. Batman é um investigador meticuloso e o público passa a conhecer cada detalhe do caso que ele monta contra o Charada.

Luto

Esta é a terceira encarnação de Bruce Wayne no cinema em menos de duas décadas (sem contar as animações). A versão de Robert Pattinson abandona a imagem de playboy e apresenta Wayne como um homem recluso e solitário, em luto pela perda dos pais. Esse Batman melancólico talvez seja a manifestação mais humana do personagem até aqui. Congeladas na memória de Bruce, as vidas virtuosas de Thomas e Martha Wayne assombram o filho que, a qualquer custo, procura honrar o legado dos pais, celebrados filantropos de Gotham.

No entanto, Bruce tem uma fúria dentro de si que a caridade não pode apaziguar. A cidade que seus pais pretendiam resgatar os matou, então ele a pune enquanto tenta salvá-la. Criminosos serão capturados nem que Gotham tenha que arder em chamas para tirá-los de seus esconderijos.

Um dos destaques de “Batman” é a Selina Kyle da atriz Zoë Kravitz, cuja dinâmica com Batman estabelece um companheirismo divertido de acompanhar. No entanto, a personagem é subutilizada no roteiro de Reeves e Craig, que também pouco faz com o James Gordon de Jeffrey Wright e o Alfred de Andy Serkis. Enquanto algumas sequências de ação se alongam demais, personagens interessantes são explorados superficialmente.

Com 2 horas e 55 minutos de filme, Batman solidifica uma direção alternativa para filmes de super-herói, demonstrando que eles não precisam existir em universos expandidos compartilhando referências sem fim. Se a qualidade mais duradoura dessas histórias está na identificação do público com o personagem, o destino de uma única cidade pode ser tão significativo quanto o futuro do multiverso.

Cinema

“Batman” está em cartaz nos cinemas.

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1 comentário em “Novo “Batman” conta com um herói melancólico e mais humano”

  1. Um super herói impotente diante de uma sociedade com tantos problemas. Mas não se pode perder a esperança.. um Batman humano com problemas humanos.

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