“Sexual Drive”, em cartaz na MUBI, é um filme estranho, mas estranho de um jeito bom. Para começar, ele fala de desejo sexual enquanto fala de comida. Mas essa é uma decisão divertida do diretor e roteirista Kôta Yoshida (que é pouco conhecido) e permite que a história seja bem ousada quando, na verdade, a discussão ali é sobre soja fermentada.
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O filme é feito de três contos distintos, unidos pelo tema e por um homem chamado Kurita (Tateto Serizawa), que aparece em todos eles e tem uma figura que oscila entre o humor, a pena e o terror psicológico. Mais ou menos como um personagem saído de um livro de Stephen King, só que japonês. O ator Tateto Serizawa é um achado. Ele tem um currículo longo de filmes e séries de TV, mas que parece limitado ao Japão. No papel de Kurita, ele transmite fragilidade (porque tem dificuldade para se locomover após um AVC), atrevimento e maldade.
MUBI
No primeiro conto de “Sexual Drive”, Kurita tem um caso com uma enfermeira casada há anos e decide confessar tudo para o marido dela. O diálogo entre os dois responde por quase toda a ação dos primeiros 20 minutos. A peculiaridade aqui é que a enfermeira adora natto, um prato japonês feito de soja fermentada e com cheiro forte.
Quando o marido começa a fazer perguntas sobre os detalhes da relação (um clássico: a pessoa traída quer saber como, quando, onde e quantas vezes), Kurita se anima a contar que o cheiro das partes íntimas da mulher lembra natto.
“Sexual Drive”
A segunda história também tem um casal de amantes. O homem não tem coragem de deixar a esposa (outro clássico), mas também não consegue ser honesto com a amante, que vive levando bolo do sujeito. Numa dessas vezes em que ele a deixa plantada num bar, ela levanta e vai embora a pé. No caminho, encontra um restaurante de lámen e segue o impulso de entrar no lugar e pedir um prato.
De alguma forma, ela consegue transformar o lámen num veículo para extravasar a frustração amorosa e o desejo sexual. Kurita, nesse caso, aparece ao telefone para aterrorizar o homem casado. E nessa confusão entre comida e sexo, o cineasta Kôta Yoshida mostra como é habilidoso tanto nas palavras que usa para descrever uma coisa e outra, confundindo as duas, quanto nas situações que cria. Situações essas que são sempre tensas.
Comédia
Embora o filme possa ser encarado como uma comédia peculiar (pois japonesa), é esse suspense que chama atenção e que acaba alimentando um riso nervoso. A tensão fica mais evidente no terceiro e último conto. Nesse, a comida tem um papel coadjuvante e o desejo sexual da vez tem mais a ver com uma história de dor e humilhação.
O saldo das três partes desse filme breve – com pouco mais de uma hora no total – é que às vezes o sexo e a comida podem ser muito mais do que uma tigela de lámen ou um caso extraconjungal.
Onde assistir
“Sexual Drive” está em cartaz na MUBI.