Coisas inexplicáveis acontecem em “Os Cinco Diabos”, em cartaz na MUBI

Com habilidade e sem explicar muito, a diretora Léa Mysius cria um clima de sonho em filme exclusivo da MUBI

Dizer que certo filme tem “um clima de sonho”, ou pior, “um clima onírico” é um negócio que o pessoal que curte cinema cabeça gosta de fazer. Mas acho que poucas vezes essa afirmação fez mais sentido do que agora: “Os Cinco Diabos” tem sim um clima de sonho. Isso significa que existem coisas que acontecem no filme e você não consegue explicar – ao menos não usando a lógica que costumamos usar para entender o mundo fora do filme. 

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Em cartaz na MUBI, “Os Cinco Diabos” tem uma personagem peculiar, uma menina com um olfato extraordinário. De olhos vendados e usando apenas o nariz, Vicky (Sally Dramé) consegue encontrar a mãe escondida numa floresta, ainda que ela esteja com o corpo coberto de folhas. E a mãe da menina, Joanne, é interpretada por Adèle Exarchopoulos (que tem aparecido bastante, em filmes e mostras).

Em casa ou na escola, Vicky faz misturas bizarras em vidros etiquetados com os nomes das pessoas cujos cheiros ela consegue reproduzir em suas experiências. Pedaços de madeira úmida, folhas e uísque são alguns dos ingredientes que usa para recriar cheiros que remetem à mãe, ao pai, a uma memória específica. Essa menina incomum tem um papel importante na história toda. Ela é o que vai ligar situações e pessoas que a princípio parecem desconexas. 

MUBI

Cinco Diabos é o nome de um clube (ou escola) com piscinas onde Joanne trabalha como instrutora. Ela é casada com um bombeiro, um homem que migrou do Senegal para se estabelecer na França. Como casal, eles foram apaixonados, mas essa época parece ter chegado ao fim. A rotina da família transcorre sem sobressaltos, mas também sem muito afeto. (Sabemos disso pela forma irreverente como o pai de Joanne se propõe a ficar com a neta para que o casal faça um programa e, eventualmente, transe.)

Tudo se complica mais quando entra em cena a cunhada de Joanne, uma mulher com um passado difícil que envolve problemas com álcool e cadeia. Quando fica sabendo que Julia (Swala Emati) está a caminho, Joanne surta. Porém, aos poucos, o filme vai revelando o porquê dessa reação e trata da história que Joanne e Julia tiveram antes de uma ser presa e da outra se casar. 

Essa relação das duas é o que faz “Os Cinco Diabos” ser apresentado como uma “história de amor queer“. É uma definição possível. Mas é curioso perceber como a relação mais importante da história, no fim, não é a de Julia com Joanne, mas a de Julia com certas “visões” que ela tem de uma criança. Essas visões são responsáveis pelo tal clima de sonho – um clima que a diretora Léa Mysius consegue criar e manter com habilidade, sem explicar muito. E você, que não entende direito como as coisas acontecem do jeito que acontecem, termina cativado.

Onde assistir

“Os Cinco Diabos” está em cartaz na MUBI.

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