Cinco livros (mais ou menos) curitibanos para dar de Natal

Benedito Costa dá cinco dicas de presentes para este Natal

O Plural vem fazendo uma campanha para que você dê livros de Natal. Já mostramos livros de escritoras mulheres, de autores brasileiros, de editoras locais, dicas do Cristovão Tezza e um balaio variado de opções. Hoje quem faz as recomendações é Benedito Costa.

BENEDITO COSTA, escritor, professor e colunista do Plural

Indico livros de autores que moraram aqui ou que ainda moram como excelentes presentes de Natal.

Um corpo negro
Lubi Prates
Nosotros, R$ 35,00

Os textos de Lubi Prates, de uma poesia rara e contestadora, marcantes, tratam de inúmeras questões de suma importância: a herança negra, a situação da mulher, o ser do corpo que fala: “Meu corpo é meu lugar de fala”, diz a poeta. E: “eu falo com minha raça”. A escritora apoia e publica autoras, o que traz um cenário ainda mais marcante para sua poesia. Poesia forte, para leitores exigentes. Um excelente presente de Natal para inúmeros momentos. Numa época em que precisamos trazer (mais) à tona o discurso feminino e o discurso em particular da mulher negra, leitura obrigatória.

Eu também sou brasileira
Marília Kubota
Lavra Editora, R$ 30,00

A própria autora menciona Drummond ao explicar a deliciosa escolha do título. Jornalista e poeta, Kubota traz nesse livro a mesma delicadeza de suas outras outras, notadamente os haikais. Mas não nos enganemos, a delicadeza é profunda, penetrante e carrega o olhar instigante que a autora sempre imprime aos seus escritos. No prefácio de Maria Valéria Rezende, esta diz que “nós somos uma mistura de heranças”, e essa mistura Kubota discute com precisão. Gosto de pensar nesse livro à luz dos comentários sempre instigantes que Marília faz a respeito das comunidades asiáticas no Brasil.

Vertigem do chão
Cezar Tridapalli
Moinhos, R$ 50,00

Se você é daqueles que reclama que a nova safra de autores brasileiros se preocupa muito com o conteúdo (eu mesmo já escrevi muito sobre isso) e pouco com a forma, ainda não leu Tridapalli. Ele é um dos grandes narradores da atualidade no Brasil. Gosto muito de observar como o autor faz um minucioso estudo da estrutura de seus romances. Já disse em algum lugar que os livros deles me fazem pensar numa catedral, daquelas que levaram dois séculos para se chegar ao tocar dos sinos. Nesse romance em particular, o autor sobrepõe várias realidades como estratos geológicos: a mescla é, além de muito linda, para fazer pensar. Há muitos des-loca-mentos nessa obra, inclusive a do próprio autor, que costuma escrever distante, visitando os lugares que pretende descrever. Um dos melhores lançamentos dos últimos tempos se pensarmos em narrativas de ficção.

A volta ao quarto em 180 dias
Yuri Al’Hanati
Dublinense, R$ 39,90 (papel) ou 28,90 (ebook)

O Yuri vai me perdoar se ele não pensou em Xavier de Mestre para a escolha certeira do título desse livro. Al’Hanati é um observador de detalhes, detalhes mesmo: de um pequeno objeto colocado sob sua mesa de trabalho até o corpo inteiro de um indivíduo que lhe chama a atenção. E disso tudo, do pequeno e do grande, ele tira as mais sensacionais leituras. Mas aqui, ele está fechado, mas não trancafiado. A verve do autor é a mesma de seu primeiro livro de crônicas. Fazia tempos eu não lia crônicas construídas com tanta precisão, e justamente a crônica, que tem larga tradição nas letras brasileiras. A gente lê desejando mais, economizando a leitura para durar um bocadinho mais.

Found in tranlation
Miriam Adelman
Nosotros, R$ 45,00

Se tínhamos alguém perdido na tradução em algum filme ou na prática mesma da tradução, aqui vamos encontrar o contrário. O título é em inglês, mas a edição é bilíngue/trilíngue. É um livro de encontros. Gosto de pensar no como a autora — uma das mais prestigiadas sociólogas atuantes no Brasil — imprime nos seus poemas certa visão acadêmica, sem que a estrutura linguística do discurso acadêmico perturbe a beleza da estrutura (e do sentido) dos poemas. Talvez para pessoas próximas, seus poemas lembrem um diário. Não é. É a leitura de uma poeta bissexta, que até demorou para publicar. “No sonho, você me conta que dança com fogo”, nos diz a poeta, e essa poesia em diálogo com o “outro” vai de uma “conversa” com uma garota que é de uma “impaciência pura”, ou seja, naïf, até uma linda homenagem a outra mulher muito mais experiente, Assia Djebar.

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