Quem tem medo do Lobo Mau?

A melhor intervenção de um adulto diante da agressividade infantil é aceitar que não se trata de violência

Clássico personagem das histórias que se diz capaz de, com um sopro, fazer tudo ir pelos ares, de transformar criancinhas em mingau, é o responsável por dar a vida aos enredos que participa. Ora, delete  esse coadjuvante e veja o que sobra: palavras soltas, personagens sem repertório para vincular-se com a aventura de viver, crescer e aprender.

Na vida real, a nossa história também funciona assim. É preciso de uma boa dose de agressividade para viver; e quando digo agressividade quero deixar claro que é a vontade de fazer justiça, de ser reconhecido, de ser aceito, ser ouvido e ouvir, enfim, essa energia que nos impulsiona a ser mais e que, vale dizer, é bem diferente de violência. A violência é uma agressividade mal educada.

A agressividade é necessária e o momento mais propício para torná-la uma aliada da vontade de ser mais, (que é tão somente a vocação para aprender), é a infância. Época em que os seres humanos são mais tolerantes e menos fortes, mais velozes e menos furiosos, mais abertos as possibilidades de interagir e aprender. Crianças brigam e brincam em igual proporção, o que pode corromper o peso na balança dessas ações é a intervenção de quem não olha, com olhos de crianças, o mundo das crianças.

Adultos, muitas vezes, querem defender uma criança criticando outra. Muitas vezes, entram na briga sem perceber que agora a sua força está em outra dimensão, a dimensão do julgamento, a qual pode ferir uma criança muito mais que os arranhões, tapas, beliscões e empurrões vivenciados ao brincar e brigar com os seus pares.

A agressividade é um lobo mau que assusta, mas é ela que ensina. Pais e educadores não devem ter medo, porque é por meio dela que se chega ao final feliz. Crianças precisam brincar e brigar para aprender a maior virtude do ser humano, a de perdoar, ser perdoado e perdoar-se.

A melhor intervenção de um adulto diante da agressividade infantil é aceitar que não se trata de violência, que uma criança não é má porque brigou e que uma criança não é detentora de necessidades especiais ou de acompanhamentos específicos porque é um pouco mais agitada. Crianças precisam de cuidado e atenção, não de julgamentos, tampouco pré-conceitos.

Quando uma criança apresenta algo que aos olhos desavisados parece inconveniente é hora de aquietar. E, depois, buscar entender, feito Chapeuzinho Vermelho, de onde vem tudo isso, fazer uma criteriosa análise para intervir de modo assertivo, eficaz, cujo foco não é nem a criança que bate, nem a criança que apanha, mas justamente a construção em ambas da autonomia, essa categoria interna que possibilita ao ser humano encorajar-se, enfrentar seus medos e dificuldades, acolher seus limites e, inclusive, ser verdadeiramente feliz!

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