Minha avó foi vacinada, ufa!

Assistir ao vídeo da vó Palmira sendo vacinada foi um dos momentos mais felizes e emocionantes dos últimos tempos na minha vida. Emoção é algo incontrolável, né? E que nos marca a memória e as lembranças futuras terão aquele sorriso de quando acessamos coisas boas em nosso pensamento. Dia 10 fevereiro de 2021 está marcado como um dos dias mais emocionantes pra mim dentro de todo o isolamento voluntário causado pela pandemia pelo coronavírus.

Recebi o vídeo às 16h enquanto assistia a uma palestra da semana acadêmica da Universidade Positivo. Ouvia Augusto Cury falar sobre a emergência das competências socioemocionais no ensino superior. Ele explicava sobre como nós podemos ser gestores de nossas emoções e entendi que tenho muito a aprender sobre como gerir meus sentimentos que neste momento têm sido bastante marcados pela raiva.

Minha avó completou 90 anos em 19 de janeiro de 2021 e foi vacinada 22 dias depois do aniversário. Não pudemos fazer festa porque estamos isolados (talvez minha família seja uma das únicas do Brasil a ter o privilégio de poder escolher por manter-se assim). Não vejo a minha vó pessoalmente desde fevereiro de 2020, já vai completar mais de um ano que não abraço a vó, nem as tias.

Vó Palmira é uma das poucas mulheres que viveram para conhecer os dois tataranetos, tem onze bisnetos, teve dezesseis netos (três já falecidos, dois ao nascer) e cinco filhos. Todos esses filhos e netos, ela cuidou e ajudou a cuidar sozinha porque enviuvou muito cedo. A família é grande.

A vó é para mim o símbolo de um grupo de mulheres brasileiras: ela trabalhou na roça, na limpeza da igreja de Rio Branco do Sul (onde sempre viveu) e depois cuidou dos netos. Manteve a todos os seus alimentados e educados com a pensão de um salário mínimo que recebeu a vida toda pela morte do marido em um acidente de trabalho (que não foi assim registrado lá no fim da década de 1960).

Aprendemos com a vó Palmira o valor de cuidar dos parentes, de ter um trabalho pra se sustentar e da saúde. Aprendemos com ela, também, a ter medo. Medo de diversas coisas e pessoas. E um destes medos é o da morte (não nossa própria morte), mas medo de perder pessoas que amamos. A Covid trouxe a mim, e a nós da família, este gatilho. 

No dia em que a vó foi vacinada 234.945 pessoas tinham morrido no Brasil, segundo dados oficiais. A prevenção chegou tarde para muitas famílias e vai chegar atrasada para muitas outras até que a maioria seja vacinada. Eu acompanhei a perda da mãe de uma amada amiga e do pai de um amado amigo recebendo os boletins médicos diários enviados pelos médicos, ambos ficaram mais de 20 dias na UTI e não sobreviveram. Só quem viveu isso sabe da tristeza que foi, por isso, eu me solidarizo com quem não pode ser salvo pela Coronavac ou por qualquer outra.

Minha avó foi vacinada em casa por uma profissional e duas agentes de saúde que marcaram horário, foram até lá e aguardaram para ver se ela teria alguma reação ou precisaria de ajuda. E eu agradeço muito a essas três mulheres e à jovem prefeita de Rio Branco do Sul, Karime Fayad, por organizar em sua gestão a vacina domiciliar para idosos com mais de 90 anos. Num momento em que vemos profissionais de saúde fingindo aplicar vacinas ou prefeituras pedindo aos idosos que se cadastrem em aplicativos para serem vacinados algum dia, este agradecimento é sincero.

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