Itaipu segue política de Bolsonaro de valorizar o meio ambiente, diz diretor ao assinar parceria com a ONU

Hidrelétrica estreitou cooperação com o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas

Ao assinar uma carta de intenção com a Undesa, o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas, para implementar projetos de contraste às mudanças climáticas, o diretor de coordenação da Itaipu Binacional, Luiz Felipe Carbonell, afirmou que a estatal está alinhada à política ambiental do governo federal.

“Nós estamos seguindo, aqui na Itaipu Binacional, o mesmo mote da Presidência da República de valorizar o meio ambiente como sempre foi valorizado aqui na empresa desde que ela foi criada”, afirmou Carbonell ao Plural, após ser questionado se as políticas de Jair Bolsonaro não estariam colocando em risco o meio ambiente.

A negativa do diretor contrasta com as ações do governo federal, como o desmonte das políticas de prevenção do desmatamento e das mudanças climáticas, o sucateamento de órgãos de fiscalização ambiental, como Ibama e ICMBio, a inviabilização do Fundo Amazônia, a liberação massiva de agrotóxicos proibidos em outros países, o enfraquecimento do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e o envolvimento do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles em um esquema de tráfico ilegal de madeira.

Carbonell – que é general do Exército e foi nomeado diretor da estatal por Jair Bolsonaro em 2019, após passagem pela Secretaria de Segurança Pública do Paraná na gestão de Ratinho Jr. – elogiou também o “círculo virtuoso” da Itaipu.

“Geramos energia renovável e ao mesmo tempo fazemos o trabalho de desenvolvimento sustentável para podermos gerar esta energia. A parceria que temos com o Paraguai, de desenvolvimento sustentável, faz parte do nosso negócio de gerar energia”, acrescentou.

Após os irreparáveis danos causados pela construção da usina nos anos 1970 e 1980, que provocaram o desaparecimento da cachoeira de Sete Quedas, o deslocamento de mais de 40 mil pessoas e a inundação de 1,5 mil km2 de floresta, Itaipu é hoje a maior geradora de energia limpa do mundo e referência em projetos de conservação ambiental. No final do ano passado, a hidrelétrica comemorou o marco de 24 milhões de mudas plantadas na região desde o fim dos anos 70.

As falas de Carbonell foram pronunciadas em coletiva de imprensa durante o Simpósio Global de Soluções Sustentáveis para Água e Energia, realizado entre os dias 13 e 15 de junho, em Foz do Iguaçu e Hernandarias (Paraguai). Ao longo do evento, representantes de 22 países apresentaram soluções sobre mudanças climáticas, preservação ambiental e geração de energia limpa com base em novas tecnologias.

Ao término do congresso, Itaipu e Undesa, que já colaboram desde 2018, se comprometeram a firmar, até o final deste ano, um acordo de cooperação técnica, com duração até 2026, cujo foco será o desenvolvimento de ações conjuntas para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, em particular os pontos 13 e 15, que trazem, respectivamente, soluções para as mudanças climáticas e preservação do ecossistema terrestre.

A Mata Atlântica, bioma em que a usina está inserido, é um dos mais ameaçados, inclusive pelas ações do governo federal. Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, o ecossistema abrange cerca de 15% do território nacional, em 17 estados. “É o lar de 72% dos brasileiros e concentra 70% do PIB nacional. Dela dependem serviços essenciais como abastecimento de água, regulação do clima, agricultura, pesca, energia elétrica e turismo”, informa a entidade. Hoje, restam apenas 12,4% da floresta que existia originalmente.

Em abril desse ano, o segundo relatório do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) Mata Atlântica, uma nova ferramenta da Fundação que visa monitorar e difundir informações sobre o desflorestamento no bioma, registrou 2.126 alertas que somam 10.751 mil hectares em áreas desmatadas. Mais da metade dos alertas foi identificada no Paraná.

A reabertura da Estrada do Colono, uma rodovia de 17 quilômetros que cortaria ao meio o Parque Nacional de Iguaçu (localizado a poucos quilômetros da hidrelétrica), é mais uma ameaça à Mata Atlântica da região. A proposta, que tramita no Congresso, foi criticada pelo superintendente de gestão ambiental da Itaipu, Ariel Scheffer, que a definiu um “retrocesso”.

Crise hídrica se intensifica

Na última década, nível de água do reservatório de Itaipu passou mais da metade do tempo abaixo da cota de referência. Foto: Reprodução/Simpósio Global de Itaipu.

Apesar de o reservatório de Itaipu estar cheio nesta época do ano, dados divulgados pela própria estatal durante o simpósio mostram que, na última década, a crise hídrica na bacia do rio Paraná vem se intensificando.

De 2012 a 2022, o nível do reservatório de água ficou por mais da metade do tempo abaixo da linha de referência. Em comparação, no período de 1985 a 2022, o mesmo ocorreu apenas em 7% do tempo.

“Até 2012, o reservatório operava como flat, a fio d’água. De 2012 para cá começa a sentir os efeitos de ter que suprir energia e potência no momento em que já não tem para suprir, e em 52% do tempo ficou abaixo da nossa cota de referência nos últimos anos”, explicou o diretor técnico da estatal, David Krug.

O pico da crise hídrica se deu entre junho e agosto do ano passado, quando a usina registrou a pior afluência do rio Paraná desde que a hidrelétrica começou a operar, em 1984. Das 20 turbinas, 12 ficaram ociosas no período.

Apesar das fontes de energia solar e eólica estarem aumentando sua participação na matriz energética dos países, a fonte hidrelétrica continua mantendo um papel vital para a segurança energética, já que a energia produzida por sol e vento não podem ser despachada de forma centralizada e depende da disponibilidade da luz solar e dos ventos, o que provoca forte variabilidade em sua geração.

Se em 2007, a fonte hidrelétrica respondia por 15% da energia produzida no mundo, em 2050, a previsão é que se mantenha no mesmo patamar. Já, os combustíveis fósseis, responsáveis por 81% da energia produzida há 15 anos, vão responder por 32% da energia gerada na metade deste século.

Em 2050, percentual de energia hidrelétrica (em azul) em nível mundial será quase a mesma de 2007. Foto: Reprodução/Simpósio Itaipu.

“Estas fontes [solar e eólica] exigem que os governos tomem medidas necessárias para garantir o fornecimento de lastro, e não é desejável que isso seja feito com energia fóssil”, afirmou Krug durante a sua palestra. “Isso abre uma grande oportunidade para que usinas hidrelétricas [que também operam a partir de fonte renovável, a água] sejam utilizadas para garantir a segurança energética”.

*O jornalista viajou a convite de Itaipu.

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