Mata Atlântica, o bioma que pode desaparecer

O crescimento desordenado das cidades somado ao avanço desenfreado de áreas agrícolas coloca diariamente o bioma da Mata Atlântica em um risco

Neste 27 de maio celebra-se o Dia Nacional da Mata Atlântica. A data é uma referência ao dia em que padre Anchieta assinou, em 1560, a Carta de São Vicente, documento no qual descreveu, pela primeira vez, a biodiversidade das florestas tropicais nas Américas. Passados 462 anos, boa parte da beleza descrita no histórico documento simplesmente desapareceu.

O crescimento desordenado das cidades somado ao avanço desenfreado de áreas agrícolas coloca diariamente o bioma da Mata Atlântica, e toda a sua biodiversidade, em um risco eminente de desaparecer para sempre do território brasileiro.

Desde que os portugueses desembarcaram no Brasil, o país passou a ser um alvo constante de ações predatórias contra o meio ambiente. A exploração da natureza, até hoje, é sinônimo de lucro fácil para muitas pessoas. Com isso, o esgotamento dos recursos ambientais torna-se, dia após dia, um risco cada vez mais real.

Essa realidade coloca em xeque o futuro do país e das belezas naturais como conhecemos hoje – isso vale para todos os biomas brasileiros. A consequência pode ser trágica do ponto de vista social e econômico. Tanto que os Estados Unidos e a União Europeia já chegaram a cobrar medidas para o governo brasileiro combater o desmatamento no país e garantir a preservação da Amazônia, por exemplo. Em 2020, a Parceria das Declarações de Amsterdã, grupo formado por Alemanha, Dinamarca, Itália, Holanda, França, Reino Unido, Noruega e Bélgica, comunicou que estão comprometidos a consumir alimentos ambientalmente adequados e que, por isso, o aumento do desmatamento no país dificulta o comércio com o Brasil.

A atual gestão governamental é um claro exemplo do descaso com o meio ambiente. A preocupação de quem ocupa hoje o posto de presidente da nação para com a preservação e conservação ambiental é zero. Ele só quer agradar aos seus correlegionários.

Quer um exemplo? Vamos refrescar a memória em relação ao então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que deixou o comando da pasta em julho de 2021 em meio a índices de desmatamentos recordes no país. Integrante da tropa de choque ideológica de Jair Bolsonaro, Salles deixou o cargo semanas depois de serem abertas duas investigações contra ele: uma por ligações com um caso de tráfico ilegal de madeira e outra por supostamente obstruir as investigações em um caso de desmatamento. Isso que ele era ministro do Meio Ambiente! Ao que tudo indica, era o lobo cuidando do galinheiro.

Ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. Foto: Fabio Pozzebom/Agência Brasil.

Na atual gestão, por exemplo, foram expedidos 39 decretos presidenciais que tratam (e destratam) do meio ambiente nos dois primeiros anos de governo – um recorde para o período. Outras medidas que deixariam as porteiras abertas para a depredação ambiental foram suspensas pelo Poder Judiciário, como a tentativa de revogar as regras de proteção a áreas de manguezais e de restingas.

Desde que Bolsonaro foi eleito, o retrocesso atacou em várias frentes: políticas para prevenir o desmatamento e as mudanças climáticas foram desmontadas, assim como foram sucateados Ibama e ICMBio, que são órgãos de fiscalização ambiental. O governo teve a “capacidade” de inviabilizar, ainda, o Fundo Amazônia.

Fatos que indicam a situação ambiental no país, ou melhor, como a política do atual governo pouco (ou nada) se importa com a preservação – de fato – do meio ambiente. Com isso, obviamente, a nossa Mata Atlântica continua correndo sério risco. Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, o bioma abrange cerca de 15% do território nacional, em 17 estados. “É o lar de 72% dos brasileiros e concentra 70% do PIB nacional. Dela dependem serviços essenciais como abastecimento de água, regulação do clima, agricultura, pesca, energia elétrica e turismo”, informa a entidade. Hoje, restam apenas 12,4% da floresta que existia originalmente.

Em abril desse ano, o segundo relatório do Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) Mata Atlântica, uma nova ferramenta da Fundação que visa monitorar e difundir informações sobre o desflorestamento no bioma, coletou e validou dados de todo o ano de 2021 em quatro regiões: as bacias hidrográficas do Rio Tietê (SP), do Rio Iguaçu (PR), do Rio Jequitinhonha (BH e MG) e dos rios Miranda e Aquidauana, na área do município de Bonito (MS).

O sistema registrou 2.126 alertas que somam 10.751 mil hectares em áreas desmatadas. Mais da metade dos alertas foi identificada no Paraná, que é governado por Ratinho Jr., um aliado político de Bolsonaro –ressalte-se.

Caso a Mata Atlântica desapareça dos atlas brasileiros, a vida humana será fortemente prejudicada. Aquecimento global e escassez de recursos hídricos se tornarão cada vez mais frequente.

Espera-se, porém, que o Brasil e seus eleitores mirem no exemplo recente da Austrália, que elegeu Anthony Albanese (Partido Trabalhista), com a promessa de realizar mudanças significativas na política climática do país – que tem um dos maiores índices de emissão de poluentes entre as nações ricas e já tem convivido com tragédias relacionadas ao clima: três anos de incêndios florestais e enchentes em níveis recorde, com um saldo de centenas de pessoas e bilhões de animais mortos. Não é prudente esperar chegar a esse ponto para que sejam realizadas as mudanças necessárias e urgentes em nosso país.

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