Marcelo Motta, eu queria te dizer uma coisa

Franco Iacomini homenageia o colega e amigo de profissão: "Não deu para honrá-lo, falando o quanto aprendi com ele"

Era fevereiro de 1988 quando eu comecei a trabalhar em um quinzenário chamado Primeira Edição. Aos 18 anos, no segundo ano da faculdade de Jornalismo, tive ali meu primeiro emprego. Tínhamos uma equipe pequena, mas feroz. Entrevistávamos políticos, artistas e empresários como se fôssemos “grande imprensa”. Pesquisávamos. Escrevíamos com sentimento, palavra por palavra escolhida. Debatíamos por horas o design de cada página de jornal, que na época ainda era montada em folhas de papel gessado.

Formamos um grande time, com Ernesto Bernardes e Andréa Doré escrevendo, Rodolpho Pajuaba, Marcos Campos e Silvio Auriquio (outro que perdemos recentemente) fotografando. À frente de tudo (abaixo apenas do dono, o empresário Fernando Ghignone) estava um jornalista talentoso, perfeccionista, brilhante mesmo: Marcelo Motta Vieira.

Eu o o Marmotta viramos amigos próximos, inseparáveis por um bom tempo. Fomos sócios na Tempo Comunicação. Fizemos jornais, revistas, até programas de rádio. Trabalhamos juntos depois no Jornal do Estado (hoje Bem Paraná), com outro grupo de jornalistas apaixonados, de uma qualidade difícil de igualar. Lá estavam minha amada Marli Lima Iacomini, Luciano Patzsch, Flávio Costa, Vanderlei Rebelo, Roberto José da Silva (Zé Beto), Fernando Mendonça, Evandro Oliveira, Luciana Lu Fraguas, Sandro Guidalli, Ricardo Almeida e outros grandes.

Marcelo nunca foi comedido em nada. Quando comia, comia muito. Quando bebia, nunca era pouco. Era um inconformista. Não se ajustava nem às exigências legais, que diziam que para ser jornalista precisava ter diploma.

Ficamos anos sem nos falar, até poucos meses atrás, quando conversamos algumas vezes por telefone. Quis visitá-lo, ele disse que não estava bem e não queria ser visto daquele jeito.

Não deu mais tempo. Nesses tempos de Covid, não deu nem mesmo tempo para uma despedida decente – quando soube, ele já tinha sido sepultado. Também não deu para conversar mais, não deu para recuperar o tempo perdido, não deu para contar tudo o que aconteceu nos últimos tempos, não deu para animarmos um ao outro. Não deu para honrá-lo, falando o quanto aprendi com ele.

Queria poder dizer isso.

Sobre o/a autor/a

1 comentário em “Marcelo Motta, eu queria te dizer uma coisa”

  1. Tive uma breve passagem pelo Primeira Edição, escrevendo sobre literatura. A passagem foi breve, mas suficiente para reconhecer a força e a grandeza do Marcelo.

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