Dona Teresinha, que vendia bilhetes de loteria com o bordão “borboleta 13”, morre aos 72 anos

Teresinha Leonice Hevane dos Santos conseguiu comprar uma casa própria com o trabalho e se tornou uma personagem querida de Curitiba

Uma das personalidades mais conhecidas de Curitiba morreu nesta segunda-feira (29), aos 72 anos: a comerciante Teresinha Leonice Hevane dos Santos, conhecida por vender bilhetes de loteria no Centro da cidade, dando voz aos bordões “borboleta 13” e “olha a cobra, corre hoje”. Segundo a família, Teresinha faleceu devido a uma infecção generalizada após duas semanas internada no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR).

Durante mais de quatro décadas, Teresinha vendeu bilhetes na esquina da rua XV de Novembro com a Monsenhor Celso, tornando-se uma personalidade marcante na capital paranaense. Nascida em Abelardo Luz, em Santa Catarina, era filha de José Marcelino dos Santos e Cristina Nahumiz Hevane. Mudou-se para Curitiba ainda jovem, onde conheceu o marido, Joel, e começou a trabalhar, grávida do quarto filho, para conseguir sustentar a família. Exerceu diversas profissões antes de se tornar uma comerciante famosa no Centro de Curitiba, atuando como faxineira, cozinheira e catadora de papel. 

Leia mais: Eu devia ter dito

“Mulher da cobra”

Com o lucro das vendas ao longo dos anos, a “mulher da cobra” conseguiu criar seus seis filhos e regularizar o terreno de sua casa em 2011, após morar 25 anos em um lote comprado irregularmente em 1985 no Jardim Dom Bosco, no Tatuquara.

Teresinha viveu com o marido, Joel, durante apenas três anos – ele foi assassinado. Além de Joel, outra companhia essencial em sua vida foi a vendedora ambulante Filisbina Bárbara, que tornou-se sua melhor amiga. 

Além disso, Filisbina foi a primeira pessoa a contribuir para o nascimento da Borboleta 13: foi ela que incentivou Teresinha a vender bilhetes de loteria no Centro da cidade. Desde 1972, quando a Rua das Flores mal tinha virado Calçadão, Teresinha distribuiu diversos bilhetes premiados, como um bilhete de cobra com o prêmio de R$ 500 mil. 

Leia Mais: Mulheres

Borboleta 13

Mesmo após o assassinato do marido, Joel, em 1988, Teresinha criou seus seis filhos no mesmo terreno: Jackson, Emerson e Jerônimo, Odenílson, Sandra Mara e Joelson César. O lote de 12,5 metros por 45 metros era formado por duas casas, sendo que a da frente, de alvenaria, Borboleta 13 cedeu para o filho casado morar com a esposa e dois netos. 

Na casa de trás, feita de madeira, Teresinha viveu com seu filho caçula, que atualmente tem 40 anos. Ao regularizar a posse do terreno em 2011, Teresinha conseguiu cumprir, aos 61 anos, seu principal sonho como mãe: deixar uma casa própria para os filhos após sua morte. Embora o marido também desejasse uma casa própria na década de 1980, quando ainda era vivo, Teresinha descobriu que ele escondia atrás de um quadro o que lucrava na loteria, e inteirou o dinheiro que faltava para comprar o lote com um prêmio do bilhete 13.035.

Leia Mais: Mulher é toda “errada”

Casa própria

Além disso, a própria Prefeitura de Curitiba fez uma reportagem em homenagem à Borboleta 13, intitulada “Teresinha, a Borboleta 13, agora tem casa própria”. A comerciante conseguiu oficializar a posse do terreno que pertencia a uma antiga área de ocupação ao assinar os contratos de regularização dos terrenos com a Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab). Segundo Teresinha, ela foi uma das primeiras moradoras a chegar ao Tatuquara e, por volta de 1985, “não tinha nada, era só mato”.

Conforme uma das filhas de Teresinha, Sandra Mara, sua mãe representava a força e a sustentação da casa, assumindo as funções de pai e mãe para seus seis filhos. Dedicava-se diariamente ao trabalho, vendendo o máximo de bilhetes possíveis para manter vivo o sonho de deixar uma casa própria para os filhos. 

Leia Mais: fugindo de mim pra me encontrar

Fama

Ao dar voz ao bordão Borboleta 13, Teresinha passou a ser reconhecida por todas as pessoas que frequentam ou apenas passam pela XV de Novembro, fazendo com que poucos a conhecessem pelo nome de registro. Além disso, nos últimos anos, Teresinha não vendia mais bilhetes: passou a usar sua já conhecida voz para fazer publicidade das lojas do Centro de Curitiba.

Mesmo tendo começado a vender bilhetes de loteria por necessidade, logo Teresinha descobriu que se tratava de uma paixão. Em 2005, foi contratada para trabalhar na divulgação de uma ótica, onde trabalhou por oito anos com carteira assinada para se desenvolver no que faz de melhor: vender. 

Porém, decidiu voltar para o Centro da cidade após entrar com um processo judicial contra os abusos da nova gerência da ótica. Após ganhar a ação por danos morais, Teresinha conseguiu utilizar o dinheiro para se aposentar e descansar um pouco mais no fim da vida. 

Sobre o/a autor/a

5 comentários em “Dona Teresinha, que vendia bilhetes de loteria com o bordão “borboleta 13”, morre aos 72 anos”

  1. Que D. Terezinha descanse em paz. Bela matéria. E o que dizer da importância do direito a habitação, ao trabalho digno e a Previdência Social, tão negligenciados nestes tempos sombrios em que vivemos. Parabéns ao Plural.

  2. Descanse em paz Dona Terezinha….andei muito pela rua xv e sempre irei me lembrar quando passar por ali…..sua voz continuará ecoando sempre na memória!

  3. que tristeza imensa que eu estou sentido com o falecimento da Dona Teresinha. Ela fez parte do meu dia a dia na infância e adolescência, eu via ela praticamente todo dia lá na XV.

  4. Descanse em paz dona Terezinha, que o Greca crie um memorial para ela, figura lendária de Curitiba.
    E parabéns Letícia, foi a matéria mais bem escrita sobre ela que eu li hoje.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima