Rubens Massuda tem 56 anos e leve deficiência cerebral e motora, ocasionada por uma paralisia cerebral. O problema não o impediu de, aos 21 anos, iniciar a carreira profissional. Desde então, ele trabalha na mesma empresa, um grande grupo de saúde de Curitiba. O cargo era de office-boy e hoje é de auxiliar administrativo. Rubinho, como é conhecido, conquistou a progressão na carreira e o respeito dos colegas.
Nem sempre, porém, a história é assim. As empresas, que por lei têm de reservar entre 2% e 5% de suas vagas para pessoas com deficiência, dizem que dificilmente conseguem ocupar os postos.
No Paraná, 81% das vagas permanecem abertas. O número é da Secretaria de Estado da Justiça, Família e Trabalho (Sejuf). “Temos tentado, de várias formas, ser assertivos nesses recrutamentos. Fazemos divulgação dessas vagas com muita frequência, ainda assim, o aproveitamento delas nas Agências do Trabalhador, em todo o Estado, é muito baixo”, afirma o supervisor de gestão do Trabalho e Emprego da Sejuf, Walmir dos Santos.
Somente em 2019, no Paraná, foram abertas 9.771 vagas específicas para pessoas com deficiência. Destas, apenas 1.878 foram preenchidas, o que representa 19% do total. O número é ainda menor quando avaliados os encaminhamentos que resultaram em contratações. Dos 16.351 candidatos com deficiência encaminhados pelo Sine para as entrevistas profissionais, somente 11% possuíam as qualificações necessárias e foram contratados.
Baixa escolaridade e qualificação profissional são apontados pelo gestor da Secretaria como motivos que levam ao não preenchimento das vagas. “Outro motivo é o grau de exigências das empresas, que abrem cargos bem específicos e nem sempre são flexíveis com o perfil solicitado”, percebe Santos. “Muitos familiares também não preparam essa pessoa para o mercado de trabalho e isso faz com que o desafio do setor de recrutamento seja ainda maior.”
Feirão de empregos
Para divulgar e preencher as vagas, as empresas fazem até feirão. “Nossa intenção é chamar a atenção deles. Muitos não sabem que temos um plano de carreira. Começam no teleatendimento, ganhando um salário mínimo, mas têm condições de crescer e ocupar outros postos, com remuneração mais elevada, e até construir uma carreira. Basta ter capacitação para isso. Como para qualquer outro colaborador, o segredo é se atualizar. O conhecimento abre caminho para muitas e melhores oportunidades”, enfatiza Eliana Tartaglione, gerente de RH na dbm contact center, destacando que os feirões serão quinzenais.
Segundo ela, a qualificação profissional é uma grande barreira para o preenchimento dos cargos exclusivos. “Os pré-requisitos são os mesmos utilizados em uma seleção padrão. Assim como os demais candidatos, eles passam por entrevista, fazem testes de informática e de língua portuguesa”, explica a gerente.
O presidente da Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADF-PR), Júnior Ongaro, também aponta a baixa escolaridade, falta de qualificação e experiência como empecilhos para a boa colocação profissional. “As vagas requerem muita experiência e as famílias ainda são protecionistas, não incentivam ao estudo nem ao mercado de trabalho. Mas elas não são vítimas e sua deficiência não pode ser encarada como uma doença. É apenas um jeito de estar. Elas podem fazer o que tiverem vontade”, garante.
O presidente sustenta que o mercado de trabalho permite a ressocialização, o convívio social. “Ele te dá voz ativa e oportunidades para ter uma vida normal. São experiências para um mercado cada vez mais competitivo e, ainda, crescimento pra vida”, acrescenta.
Cursos
A Associação dos Deficientes do Paraná oferece cursos gratuitos para interessados em ingressar no mercado de trabalho. A partir de março, três novos módulos terão início. São eles: Iniciação à Programação (40h), Hardware (12h) e Call Center (20h).
Para se inscrever, basta procurar o serviço social da entidade e fazer o cadastro. Leve documentos e comprovante de endereço. A sede fica na rua XV de Novembro, número 2.765, no Alto da XV. O atendimento é de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Mais informações pelo telefone 3264-7234.