Liderança do Parolin, Andreia Soares de Lima quer chegar ao Senado, em Brasília

Engajada em resolver questões da comunidade, Andreia herdou o espírito de liderança da mãe, dona Antônia, referência no Parolin

Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, é tempo de relembrar e contar histórias de mulheres que fizeram e fazem a diferença onde vivem. Uma delas é de Curitiba.

Andreia Soares de Lima, 46 anos, diarista, cabelereira, manicure, produtora cultural, moradora do Parolin há 32 anos e aspirante ao Senado Federal. Para isso, começou de baixo.

Andreia nasceu em Terra Boa, noroeste do Paraná, e aos 7 anos veio para a capital com a mãe, dona Antônia Xavier de Lima, já falecida, que foi transferida da escola na qual trabalhava.

Dona Antônia ajudava todo mundo. Precisa de um chinelo? Fala com a dona Antônia. Precisa de uma refeição? Fala com a dona Antônia. Da Vila Lindóia para a Guaíra, de lá para o Parolin e no trajeto o espírito coletivo de fazer o bem para o próximo.

Com outras mulheres seguia de casa em casa com voluntária da Pastoral da Criança, pesando e medindo meninos e meninas. Como a maioria das mulheres que fazia as visitas não sabia ler, Lá estava Andreia, na tenra idade, anotando tudo no caderninho. Peso: 2,5 quilos. Precisa de fórmula. Próxima criança.

O corpo vai, a sabedoria e a ancestralidade ficam. Quando dona Antônia faleceu, Andreia seguiu os ensinamentos e continuou a ajudar. “Treteira”. A definição é dada por ela mesma, enquanto toma um copo d’água e ostenta a frase em uma camiseta “Lute como uma garota”.

Andreia olhando para a câmera em uma rua de Curitiba.
Andreia anuncia pré-candidatura a deputada estadual, mas mira no Senado | Foto: Tami Taketani/Plural.

De treta em treta Andreia se tornou ativista. Criou uma ONG, a Usina de Ideias, e se tornou uma líder comunitária. Titubeia em aceitar a posição – ou rótulo, como ela diz. Depois assume: “sou liderança, mas só consegui aceitar isso há dez anos”.  

Tanto líder que foram mais de 300 mensagens no WhatsApp quando houve o incêndio no Morro do Sabão, no Parolin. Muitos vídeos, gente pedindo ajuda. Gente lamentando que perdeu tudo. O caderninho da Pastoral da Criança foi substituído. Agora as anotações trazem nome, telefone e endereço de vítimas atingidas pelo incêndio.

Às 9h30, do dia 26 de fevereiro, sábado de carnaval, chegou Andreia no Morro do Sabão. Segundo ela, estava quente. Energia “carregada”. Tudo queimado. O local é reduto de recicladores, repleto de materiais inflamáveis. Quase não deu tempo de salvar a própria vida.

Andreia seguiu entre uma viela e outra, anotando tudo. Fez o meio-campo com o CRAS. Recebeu e pediu doações e segue acompanhando os desdobramentos como fez em outras situações trágicas, como as enchentes.

Política

Dona Antônia dizia que a hora do jornal era hora de saber o que está acontecendo “fora de casa”. Ensinou para a filha o hábito de acompanhar o noticiário e logo a criança Andreia quis migrar para a leitura dos jornais impressos.

De curso em curso, de ação em ação, a política estava no cotidiano de Andreia. Durante três anos ela trabalhou como agente comunitária na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Parolin. Oportunidade de conhecer a fundo a realidade das pessoas que moram no local.

De acordo com ela, pôde compreender a divisão (extraoficial) entre “Parolin social” e “Parolin favela”. Quem é do rolê sabe muito bem que existe a divisão, explica Andreia.

A politização afeta os relacionamentos familiares. Os conflitos, no entanto, não diminuíram o ímpeto da líder em assumir as tarefas. O contraditório também faz parte. Andreia diz que não é boazinha, apenas tem boas práticas que agora divide com um namorado – o relacionamento tem 4 meses e, claro, também foi permeado pela política (ele era fã do presidente Bolsonaro, mas foi “desbolsonarizado” por Andreia, que é pré-candidata à Assembleia Legislativa pelo PT).

Nas eleições passadas, Andreia integrou uma candidatura coletiva com a fotojornalista Giorgia Prates, mas se retirou para concorrer ao cargo de ouvidora, para o qual não foi eleita.

O período, porém, foi proveitoso para despertar o desejo de ocupar cargos eletivos. De quem não queria uma cadeira na Câmara Municipal, para candidata pela “mandata coletiva das Pretas”, pré-candidata a deputada estadual e aspirante a senadora.

Toca Raul

Coxinha com catupiry. A comida preferida da ativista é tão popular quanto ela. Do restaurante onde trabalha com o companheiro, responde acenos das pessoas que passam na rua. Duas amigas chegam, pedem uma cerveja. As três fumam cigarros antes das fotos para esta reportagem.

Ele, que é chefe de cozinha, prepara os alimentos que serão servidos logo mais, na hora da janta. Um cliente entra e pede um pastel. Paga R$ 5 e sai satisfeito. Mais um dedo de prosa com as amigas e então as fotos. Ela ri de algo, arruma o cabelo e posa.

Quando sobra tempo, a leitura. As informações vêm pelo Twitter e em breve, quem sabe, uma viagem para o Rio de Janeiro. Pão de Açúcar, Cristo Redentor e Ipanema estão fora do roteiro. Andreia quer conhecer os morros. Também pretende ir a Salvador, na Bahia. Energizar a alma, diz.

Nos planos também estão a aquisição de um sofá. O anterior foi inutilizado após a última enchente.

Com a compra do móvel, a possibilidade de assistir ao filme favorito é cogitada. A Fortaleza, de 1986, dirigido por Arch Nicholson, narra um sequestro de uma professora e seus alunos, que felizmente conseguem se salvar.

Para Andreia é uma referência à infância no Parolin, onde, segundo ela, homicídios por esfaqueamento eram comuns. O filme a ensinou que é possível conseguir se a pessoa tiver um pouco de calma, embora a deixe com medo.

Medo ela também teve quando foi ameaçada por causa do ativismo. Porém, como diz o cantor preferido de Andreia, o medo deve ser conservado.

“Conserve seu medo

Mantenha ele aceso

Se você não teme

Se você não ama

Vai acabar cedo

Esteja atento

Ao rumo da história

Mantenha em segredo

Mas mantenha viva sua paranoia”

(Raul Seixas, “Conserve seu medo”).

Sobre o/a autor/a

4 comentários em “Liderança do Parolin, Andreia Soares de Lima quer chegar ao Senado, em Brasília”

  1. Conheci sua mãe, muita admiração por ela, exemplo de quem corre atrás e faz. Saudades… não sabia que já não estava entre nós. Se este foi seu berço provavelmente algo muito bom virá daí na política. Precisamos dessas referências femininas.

  2. Não foi só uma entrevista, foi o dia de ganhar Aline e Tami nessa caminhada como novas amigas.
    Parabéns pela troca. Aguardo vcs para um papo e uma feijoada com samba no D’Bouas Gastronomia. Rua Pedro Zagonel 246.
    Novo Mundo

  3. Não foi só uma entrevista, foi o dia de ganhar Aline e Tami nessa caminhada como novas amigas.
    Parabéns pela troca. Aguardo vcs para um papo e uma feijoada com samba no D’Bouas Gastronomia. Rua Pedro Zagonel 246.

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