No dia 8 de junho, a cacica Juliana Kerexu viajou a Brasília para lutar contra o PL 490, em discussão na Comissão de Constituição de Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados do Brasil. Foram 17 dias de acampamento, sentindo muito calor durante o dia e muito frio à noite. “Não foi fácil, a gente foi recebido a bala de borracha, a bomba de gás, com muitos parentes hospitalizados”, recorda-se.
Quase um mês depois, ela está se preparando para mais uma batalha. No próximo dia 25 de agosto, será julgado o recurso extraordinário com caráter de repercussão geral para demarcação das terras indígenas no Supremo Tribunal Federal (STF) – e Kerexu estará lá.
“Passamos muitas dificuldades, mas foi muito enriquecedor, foi muito forte, tanto é que eu fiz dois poemas lá que de alguma forma conseguiram expressar todos esses sentimentos”, divide. “Imagine: mais de quinhentos povos diferentes se juntando em defesa da terra, do seu território? Em defesa das matas, dos animais que aqui existem, né?”
A cacica da aldeia Tekoa Takuaty, de quem falamos numa reportagem especial publicada neste fim de semana, aceitou dividir os poemas com os leitores do Plural. Leia na íntegra.
O Levante
Estremece o coração…
Estremece o céu…
Estremece o chão, com as pisadas no chão desses pés, os pés de guerreiros e guerreiras, no ecoar dos mbarakas, no ecoar das vozes….
Estremece os céus em forma de tempestade, o pai Tupã vem lavar essa terra…
O vermelho cor sangue do urucum escorre dos corpos…
Lave esse vermelho sangue do urucum, que simboliza o sangue dos nossos ancestrais nesse chão.
Estremece o chão…
Estremece o céu com a força das vozes que fazem ecoar rezos vindos da ancestralidade, vozes da espiritualidade…
Estremece o chão com as pisadas dos guardiões dessa terra!
Estremece os céus com os rezos ancestrais!
Somos o levante!
Somos nós os povos originários deste chão chamado “Brasil”!
Os olhares que carregamos dizem muito, dizem o que somos…
Olhares da alma
O olhar é por onde conseguimos enxergar o sentido mais sublime do amor…
O olhar não mente, quando os olhos brilham, porque é o mais puro e verdadeiro…
A alma, o espírito, falam por olhares! Muitas das vezes não precisamos trocar palavras e sim o mais simples olhar diz muito, diz a verdade.
O amor do auto-olhar é isso também, não deixe de lembrar de se olhar e demonstrar o amor por ti…
Sinta-te, ame-te, admire-te…
Ame com olhares, admire com olhares, acolha com olhares…
Amizade, amor, admiração, emoção, também podemos compartilhar com olhares…
O momento que estamos vivendo estamos carentes de toques e abraços, mas não esqueçamos que ainda podemos compartilhar tudo isso através dos nossos olhares…
O olhar é o ascendente da ancestralidade, espiritualidade… O desaguar num mar de infinito amor, compreensão, acolhimento, reconhecimento…
O olhar é o caminho da espiritualidade…
Não deixemos de olhar pelas janelas da alma!