Dia da Mulher tem número recorde de pessoas nas ruas da Europa

Existem novas reivindicações com a proliferação do digital, como os discursos de ódio

O Dia Internacional das Mulheres tem como objetivo que as pessoas tomem consciência das desigualdades de gênero que ainda persistem. Para marcar a data mulheres de diversos países saíram às ruas para reivindicar que estas desigualdades sejam extintas, além de lutarem contra o assédio e a violência.

A Espanha é uma das referências mundiais da greve do dia 8 de março, a Greve Internacional Feminista. Esta foi convocada, pelo segundo ano consecutivo, em todo país, e foi aderida por muitos coletivos (Universidades, Transporte, Meios de Comunicação). A greve, nesse caso, chamava as mulheres a uma greve estendida, ou seja, que incluía não só o âmbito laboral, mas também as seguintes esferas: estudantil, consumo e cuidados. A jornada de greve foi finalizada com as manifestações, que duplicaram a presença de manifestantes do ano passado para este.

As manifestações não ocorreram somente na capital, mas em todos os cantos do país, como Cádiz, Bilbao, Barcelona, Vigo, Valencia e até nas ilhas. Todos aqueles que se sentem identificados com o movimento feminista saíram às ruas para pedir por uma sociedade mais igualitária. Estima-se que mais de 350 mil pessoas compareceram nas manifestações de Madri.

Em Portugal, a data teve ações em 13 cidades, como Lisboa, Porto, Braga, Viseu e Aveiro. O movimento levou uma jornada de greve geral que foi aderida por muitos coletivos. São as mulheres do Movimento Feminista, um movimento plural, com mulheres de etnias, classes sociais e ideais diferentes que se unem com um objetivo comum. Carla Cerqueira, PhD em Comunicação e professora na Universidade do Minho fala da importância de celebrar o dia 8 de março. Para ela  “é fundamental  termos de memória histórica, para homenagear as mulheres que foram importantes nas lutas para que hoje possamos estar a reivindicar outras agendas e a tomar o espaço público. Por outro lado, permite trazer para a agenda pública pautas que necessitam de ser assumidas porque as desigualdades de gênero ainda são extremamente visíveis em diversas esferas e porque os direitos nunca podem ser assumidos como garantidos, uma vez que assistimos a muitos retrocessos em termos globais”.

Espanha, o terceiro país no mundo mais feminista, Brasil fica em quarto no ranking

Cerca de 350 mil pessoas foram às ruas de Madrid no dia 8 de março

O último estudo realizado pelo Ipsus, empresa dedicada à investigação de meios de comunicação, marcas e pessoas, concluiu que 44% da população espanhola se considera feminista. Os países onde as mulheres mais se reconhecem como feministas são: Índia, África do Sul, Espanha e Brasil. O estudo foi realizado em 27 países entre dezembro do ano passado e janeiro desse ano, e também indica que Espanha é um dos países mais críticos na hora de avaliar se fizeram o suficiente para conseguir a igualdade de gêneros nos âmbitos como o cuidado dos filhos e da casa, no mundo do trabalho e nos negócios, nos esportes, governo e politica, nos meios de comunicação e na educação.

O informe também conclui que 46% dos espanhóis consideram fundamental a educação nas escolas para alcançar a igualdade de gênero. Em um nível global, 69% pensam que a igualdade salarial é a base para alcançar a igualdade de direitos dos homens e das mulheres.

Os três principais problemas que as mulheres devem enfrentar, segundo a população espanhola é a violência sexual (44%), assédio sexual (39%) e a violência física (32%).

As reivindicações das feministas de hoje

Centenas de mulheres se reuniram na cidade do Porto, em Portugal

As mulheres nos diferentes países vivem realidades distintas, por isso, é importante sempre verificar o contexto de cada grupo. “De um modo geral podemos dizer que há pautas do movimento da segunda onda que continuam extremamente atuais, basta vermos as questões de violência de gênero. Hoje em dia as mulheres estão cada vez mais presentes no espaço público, mas ainda há um longo caminho na partilha de tarefas no espaço privado, o qual continua a ser gerido maioritariamente por elas, as esferas do cuidado e da família”, ressalta Carla.

Existem novas reivindicações que são colocadas também com a proliferação do digital, como os discursos de ódio com base no gênero. “Nunca dar nada por garantido parece-me o prioritário. As conquistas que precisam acontecer são nos lugares de tomada de decisão em várias esferas, precisam de ser questionadas as estruturas de poder desiguais que mantêm desigualdades e violências de gênero. Hoje temos de falar de um movimento feminista transnacional que muitas vezes se une nas redes sociais e que passa para as ruas com as especificidades locais.

Por Daniela Drummond (Portugal) e Jaqueline D’Hipólito Dartora (Espanha)

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